Congregação da Doutrina da Fé demite do estado clerical antigo cardeal McCarrick

Papa Francisco decretou que a decisão não tem recurso

A Congregação para a Doutrina da Fé concluiu o julgamento do ex-cardeal McCarrick, antigo arcebispo de Washington, acusado de abusos sexuais, condenando-o com a pena de “demissão do estado clerical”.

De acordo como “decreto final” do processo penal a Theodore Edgar McCarrick, publicado hoje pela Sala de Imprensa da Santa Sé, o Congresso da  Congregação para a Doutrina da Fé considera o antigo arcebispo de Washington culpado por “uso impróprio da confissão e violações do Sexto Mandamento do Decálogo com menores e adultos, com a agravante de abuso de poder”.

O Sexto Mandamento da Lei de de Deus, na doutrina da Igreja Católica, refere-se ao dever de “guardar castidade nas palavras e nas obras”.

O decreto final da Congregação para a Doutrina da Fé foi emitido após a sessão ordinária deste organismo da Santa Sé, que decorreu a 13 de fevereiro de 2019, onde foram “examinados os recursos apresentados” por Theodore Edgar McCarrick, tendo decidido confirmar a decisão do Congresso.

“Esta decisão foi notificada a Theodore McCarrick com a data de 15 de fevereiro de 2019”, acrescenta o comunicado.

O Santo Padre reconheceu a natureza definitiva, de acordo com a lei, desta decisão, conferindo-lhe a natureza de ‘res iudicata’, isto é, não sujeita a recurso posterior”, conclui o comunicado da Sala de Imprensa da Santa Sé.

A redução ao estado laico prevê que não se possa administrar sacramentos, vestir-se como um sacerdote e receber qualquer tipo de salário.

McCarrick, de 88 anos, e arcebispo de Washington entre 2000 e 2006, foi acusado de abusar sexualmente de menores e de comportamentos indevidos com jovens sacerdotes.

No dia 28 de julho de 2018, o Papa Francisco suspendeu do exercício público do ministério D. Theodore McCarrick, acusado de abusos sexuais, aceitando a sua renúncia como membro do Colégio Cardinalício.

A 25 do mês seguinte foi tornada pública uma carta do arcebispo Carlo Maria Viganò, antigo núncio nos EUA, onde acusava o Papa de ter encoberto denúncias de abusos sexuais cometidos por D. Theodore McCarrick, alegadamente punido, de forma secreta, pelo agora Papa emérito Bento XVI.

“Li esta manhã o comunicado de Viganò. Digo isto, sinceramente: leiam-no vocês, atentamente, e façam um juízo pessoal. Não direi uma palavra sobre isto, penso que o documento fala por si”, disse o Papa Francisco em conferência de imprensa no voo de regresso de Dublin, no dia 26 de agosto.

Em outubro do mesmo ano, Francisco determinou a realização de um “cuidadoso estudo” sobre “toda a documentação presente nos arquivos dos dicastérios e departamentos da Santa Sé” a respeito do ex-cardeal McCarrick.

“Sou grato ao papa Francisco pela maneira determinada como liderou a resposta da Igreja”, disse o cardeal Daniel N. DiNardo, apelando às eventuais vítimas de situações idênticas que denunciem.

“Se sofreu abuso sexual nas mãos de alguém dentro da Igreja Católica, peço que contacte a polícia local e a sua diocese local ou paróquia. Os Coordenadores de Assistência às Vítimas estão disponíveis para ajudar. Estamos comprometidos com a cura e a reconciliação”, frisou.

A decisão da Congregação para a Doutrina da Fé surge poucos dias antes da realização no Vaticano de uma cimeira histórica contra os abusos de menores com a participação de religiosos que foi convocada por Jorge Bergoglio para 21 e 24 de fevereiro.

McCarrick (Nova Iorque, 1930) foi ordenado cardeal por João Paulo II e participou no conclave de abril de 2005 que elegeu o pontífice Bento XVI.

A perda do ‘barrete cardinalício’ só teve um único precedente na história da Igreja católica, designadamente em 13 de setembro de 1927 e não estava relacionada com os abusos sexuais, quando o cardeal Louis Billot que tinha apoiado o movimento antifascista e antissemita “Action Française”, foi condenado por Pío XI e depois de ser recebido pelo Papa deixou o cargo.

(Com Ecclesia e Lusa)

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