Conversão Pastoral e Missionária

Existimos, como Igreja de Cristo nos Açores, há  480 anos.

A melhor maneira de celebrarmos esta efeméride é assumirmos, concretamente, as orientações do Papa Francisco, que recomenda continuamente que a Igreja tem de levar para a frente a renovação, iniciada pelo Concílio Vaticano II, abrindo um processo de «conversão pastoral e missionária, que não pode deixar as coisas como estão» (Papa Francisco, Exortação Apostólica, A Alegria do Evangelho=AE, Paulus, 2013, n. 25) . Urge, pois, ter em conta, na nossa renovação pastoral, em chave missionária, estas três dimensões: Anúncio, Celebração, Testemunho.

Anúncio

Evangelizar é transmitir o Evangelho a toda a gente: fora e dentro da Igreja. O primeiro anúncio ou querigma deve ressoar continuamente: «“Jesus Cristo ama-te, deu a Sua vida para te salvar e agora vive contigo, todos os dias, para te iluminar, fortalecer, libertar”. Ao designar-se como “primeiro” este anúncio, não significa que o mesmo se situa no início e que, em seguida, se esquece ou substitui por outros conteúdos que o superam; é o primeiro em sentido qualitativo, porque é o anúncio principal, aquele que se tem de voltar a ouvir sempre de diferentes maneiras e aquele que se tem de voltar a anunciar sempre…» (AE  164).

Naturalmente, «o primeiro anúncio deve desencadear também um caminho de formação e de amadurecimento» – especifica o Santo Padre (AE 160). «Não exclusiva ou prioritariamente como formação doutrinal» (AE 161), mas, sobretudo, como vivência de fé.

É nesta perspetiva que se fala de formação permanente de leigos ou catequese de adultos, seguindo o modelo catecumenal. O processo catecumenal dos primeiros tempos da Igreja, que preparava para o Batismo, não era um curso de catequese, mas uma caminhada concreta de iniciação e prática de vida cristã. É nesse sentido também que o Papa Francisco fala de catequese, não só querigmática, mas também mistagógica, que implica «uma renovada valorização dos sinais litúrgicos da iniciação cristã» (AE 166).

No nosso meio, temos também de prestar muita atenção à religiosidade popular, que exprime alguma vivência de fé, que precisa ser continuamente iluminada pela luz do Evangelho, para se purificar e tornar cada vez mais fiel às suas raízes cristãs.

Celebração

A evangelização não consiste apenas em transmitir doutrina, mas também e, sobretudo, a vivência de fé. Trata-se de ajudar as pessoas a fazerem experiência da salvação, trazida por Cristo, através dos sinais e instrumentos, como são, por exemplo, os Sacramentos.

É por isso que a liturgia é a 1ª Escola da Fé. Afirma o Papa Francisco: «A Igreja evangeliza e evangeliza-se com a beleza da liurgia» (AE 24). Assume, pois, importância determinante, na caminhada da vida cristã, a celebração semanal da Eucaristia. Aprendemos que a Eucaristia é a fonte e o centro da comunidade cristã. A Eucaristia «faz a Igreja». Para que isso aconteça na realidade, importa dar qualidade à celebração dominical da Eucaristia.

Nós sabemos que a Eucaristia vale por si e não tanto por aquilo que fazemos, mas sim pelo que Cristo faz: continua a dar a vida, para que tenhamos a vida com abundância.  Mas, para que haja vivência desta presença salvadora e libertadora de Cristo, é necessário preparar bem a celebração e promover a participação ativa dos fiéis. Eles têm de sair da igreja, sentindo-se mais Igreja.  Não basta “ir à igreja”, ou dizer:  “pertenço à Igreja”. É preciso “ser Igreja”.

Testemunho

Não há outra maneira de “ser Igreja” e de cumprir a sua missão evangelizadora no mundo, senão pondo em prática o mandamento novo do amor. «Por isto é que todos conhecerão que sois Meus discípulos: se vos amardes uns aos outros» – disse claramente Jesus (Jo 13, 35).

A fé é dom, que vem do Alto, pela mediação da Igreja, que transmite a fé que vive. Só podemos ser evangelizadores, na medida em que procurarmos viver o que anunciamos e celebramos. E o grande testemunho que temos de dar é o do amor do próximo, que tem a sua máxima expressão na misericórdia, que consiste na capacidade de se compadecer, isto é, de “padecer-com”, pondo-se no lugar do outro, como o Filho de Deus, que Se fez um de nós, assumindo a nossa condição humana.

O Papa Francisco recomenda «uma nova saída missionária da Igreja», para «alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho» (AE 20). E explica: «Nem sempre conseguimos manifestar adequadamente a própria beleza do Evangelho, mas há um sinal que nunca deve faltar: a opção pelos últimos, por aqueles que a sociedade descarta e lança fora» (AE  195).

E o testemunho deve partir do próprio seio da orgânica da Diocese, onde haja lugar para todos. Num território descontínuo como o nosso, tem de haver todo o cuidado, para que não se formem “periferias eclesiais”. Nesse sentido, urge criar condições, para que os Ouvidores possam assumir o necessário protagonismo, em íntima ligação com o Bispo.

+ António, Bispo de Angra

Angra, 3 de Novembro de 2014.

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