Da igreja do Faial e dos Açores- uma breve reflexão

Correspondo, honrado, ao convite para aqui deixar uma reflexão sobre a Igreja do Faial e, por extensão, dos Açores

E, sem negar o que se faz de positivo e o trabalho empenhado de muitos sacerdotes e leigos, infelizmente não consigo deixar de olhar o nosso presente com profunda preocupação.

De uma maneira geral, vemos as nossas igrejas despovoadas. Vemos um número crescente de crianças chegar aos primeiros anos da Catequese sem saber uma oração, prova de que se perdeu a sua prática nas famílias. Vemos que a maioria das crianças ou vai à missa no contexto da Catequese ou simplesmente não vai, se isso só depender da família. Vemos que as crianças que recebem os Sacramentos o fazem cada vez mais na ausência das suas famílias. Vemos um afastamento persistente da Igreja da maioria dos jovens casais. Vemos muitos organismos paroquiais não se conseguirem renovar nem rejuvenescer. Vemos muitos movimentos perderem o seu dinamismo e capacidade interventiva. Vemos a progressiva dificuldade em encontrar cristãos disponíveis para o serviço na Igreja.

Esta realidade não é exclusiva do Faial. E, perante ela, não posso deixar de concluir que a Igreja tem vindo a perder para o seu seio sucessivas gerações que, hoje, lhe são maioritariamente indiferentes, afastadas da prática dos Sacramentos e do envolvimento na sua comunidade paroquial. E este parece-me ser um dos problemas centrais que temos pela frente.

Mas, em vez de enfrentá-lo com pragmatismo e critério, a nossa resposta tem-se mantido numa deriva própria de quem perdeu o norte, que não sabe os caminhos que percorre, que não ousa assumir as respostas que os novos tempos de nós exigem e que, ainda hoje, comete erros fatais nas opções e nas prioridades, que são tantas vezes assumidas por impulsos da moda ou por simpatias pessoais e não tanto como a resposta que se impõe perante uma dificuldade objetiva.

Interrogo-me, por isso: de que estamos nós à espera para colocar a Pastoral da Família e a Catequese no centro da nossa prioridade evangélica? O que estamos à espera para, em muitas paróquias começarmos do zero? Quando faremos uma verdadeira reformulação do CPM, tornando-o não só uma resposta prática e atual às dificuldades dos jovens casais de hoje, mas também um meio para sinalizar e envolver casais líderes para as nossas paróquias? Quando daremos prioridade ao acompanhamento dos casais recém-casados, envolvendo-os na vida paroquial e dando-lhes o apoio e o enquadramento através de equipas de casais?

E quando será a Catequese organizada com tempo, com antecedência, formando previamente os potenciais catequistas, antes de exercerem de facto tão importante e decisiva missão?

E quando olharemos para as nossas escolas como uma paróquia prioritária? Comparemos o número de alunos matriculados este ano na disciplina de EMRC com o de há uma década: ficamos tranquilos? Não nos interpela tal redução?

Por tudo isto, o tempo urge. E impõe-se atuarmos com uma certeza: a de estarmos todos obrigados a voltar à pureza e à coragem evangélicas dos primeiros cristãos.

 

Jorge Costa Pereira

Professor

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