Diálogo entre culturas e religiões é «urgente», alerta Comissão de Justiça e Paz

Organismo da Igreja Católica defende «valor supremo» da vida humana

A Comissão Nacional Justiça em Paz (CNJP) divulgou hoje um comunicado, na sequência de ataques terroristas de Paris e da Nigéria, manifestando a “convicção” que o “diálogo” entre diferentes culturas e religiões é cada vez “mais importante”.

“Como alternativa ao choque de civilizações e antídoto contra o terrorismo esse diálogo supõe o combate à pobreza e exclusão social, a rejeição da violência, a liberdade do debate de ideias e o respeito pelos sentimentos religioso dos outros”, escreve a CNJP.

Num comunicado dividido em nove pontos, enviado hoje à Agência ECCLESIA, o organismo de leigos ligado à Conferência Episcopal Portuguesa comenta que os ataques terroristas de janeiro em Paris (França) e na Nigéria “suscitam” em muitos dúvidas sobre a “viabilidade da convivência pacífica e harmoniosa” entre pessoas de diferentes culturas e religiões nas sociedades europeias.

“Nunca a ofensa aos sentimentos religiosos pode justificar o recurso à violência, e nem sequer atenua a gravidade de atentados contra a vida. A vida humana tem sempre um valor supremo”, observa o documento.

Neste contexto, a CNPJ pretende “realçar a sua convicção” de que o diálogo “torna-se ainda mais importante, benéfico e urgente” porque “facilita o acolhimento” de muçulmanos, uma vez que a “presença” de pessoas de fé islâmica é “vista por muitos como uma ameaça”, nas sociedades europeias – “norteado por uma cultura do encontro e da hospitalidade” – o “mais potente antídoto” contra o terrorismo fundamentalista.

 

Os responsáveis diferenciam também “expressões marginais de fanatismo extremista”, que “instrumentaliza” a religião islâmica para um “projeto ideológico e político”, com a maioria dos muçulmanos onde incluem os que vivem em Portugal e os seus representantes.

“A estes também repugna o terrorismo, e, mais ainda, a instrumentalização da sua fé para o justificar”, acrescenta a CNPJ, que incentiva os cristãos a encontrarem “riquezas comuns” e a criar “laços de fraternidade”.

Neste ponto, o comunicado alerta que a cultura do encontro e da hospitalidade “supõe” a criação de condições “materiais de vida conformes à dignidade humana”, ou seja, a “remoção” de fatores que “conduzem à pobreza e exclusão social”.

“Também é sabido como o desespero de quem ‘não tem nada a perder’ muitas vezes facilita o recrutamento para organizações terroristas”, escreve.

A CNPJ considera que existem pessoas que se sentem “mais gravemente feridos” com uma ofensa a sentimentos religiosos do que com uma “ofensa física ou verbal à sua pessoa”, mas declara que a convivência e diálogo entre diferentes culturas e religiões “supõem a liberdade de debate de ideias e de crítica”.

“Já extravasam desse âmbito a instigação à violência e à discriminação, o insulto, a provocação gratuita e a ofensa aos sentimentos religiosos dos outros”, frisam.

O organismo católico, que tem por finalidade promover e defender a Justiça e a Paz, à luz do Evangelho e da Doutrina Social da Igreja, assinala que a solução para “evitar” o choque de culturas “não reside em eliminar do espaço público” todas as manifestações religiosas.

Segundo a CNPJ, essa pretensão favorece o “extremismo fundamentalista, que rejeita esse acolhimento” e adverte que nas religiões muitas pessoas encontram “um sentido para as suas vidas, a força para as dificuldades, o cimento da harmonia familiar e comunitária”.

CC/Ecclesia

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