Diocese evoca memória de Dom Manuel Damasceno da Costa

Dia 27 completa-se o centenário da morte do 33º bispo de Angra

O Administrador Diocesano, cónego Hélder Fonseca Mendes desafiou a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade dos Açores a estudar “profundamente a origem, personalidade, figura, acção e contexto social, histórico, cultural, político, económico e religioso da época de cada um dos bispos de Angra (1534-2021) nas ilhas dos Açores”. O desafio foi deixado aos académicos no dia da sessão solene do 46º aniversário da academia açoriana e agora expresso num artigo de opinião a propósito do centenário da morte do 33º bispo de Angra, D. Manuel Damasceno da Costa, que pode ler aqui no Igreja Açores.

“Seria um grande contributo da academia açoriana em ordem às comemorações dos 500 anos da Diocese de Angra em 2034, dando lugar uma nova chave e porta no estudo da História dos Açores” refere o cónego Hélder Fonseca Mendes ao anunciar, também, a celebração de uma missa de acção de graças pela memória do prelado angrense, do qual destaca o temperamento “sociável” e “apaziguador” do prelado que chegou à diocese, cinco anos depois do seu último bispo, em abril de 1915.

“Celebra-se, neste dia, a missa de sufrágio e de acção de graças na catedral angrense, enquanto se prevê uma exposição, uma conferência e uma sessão evocativa desta grande figura, logo que haja condições de a promover e realizar” adianta ainda o cónego Hélder Fonseca Mendes.

Neste artigo de opinião, o sacerdote recorda o trabalho pastoral deste bispo natural da Covilhã.

“No dia marcado desembarcou o bispo, sem vestes corais, coisa que Angra nunca antes tinha visto em qualquer dos seus prelados. Assim vestido, dirigiu-se à igreja da Misericórdia, junto ao cais, onde se paramentou sendo conduzido, debaixo do pálio, em interminável cortejo para a catedral, que o recebeu com solenidade, repiques, música, girândolas e, sobretudo, por uma população apinhada que o saudava espontaneamente” refere o responsável diocesano ao salientar que depois de um clima de tensão entre a recém – implantada República portuguesa e a Santa Sé, que dificultava as nomeações episcopais, os católicos locais desenvolveram um sentimento de orfandade pelo que o anúncio da chegada de um novo bispo foi saudada com júbilo, tendo-se formado uma comissão para organizar os festejos que haviam de marcar a entrada do novo bispo na diocese.

“De temperamento sociável, logo criou amizades em Angra” destaca o cónego Hélder Fonseca Mendes sublinhando algumas das acções desenvolvidas pelo novo titular da Sé de Angra.

Uma das suas primeiras preocupações foi realizar a visita pastoral, pelo que nesse verão percorreu as ilhas Graciosa, Faial, Pico e São Jorge, consecutivamente e sem deixar atrás qualquer freguesia. Visitou depois a Terceira, a fim de conhecer a vida religiosa de cada paróquia.

Uma das suas principais preocupações foi restaurar o Seminário de Angra, procurando um espaço para reegrguer a escola de formação de sacerdotes. Adquiriu para tal o antigo solar dos condes da Praia (em Santa Luzia de Angra, onde esteve instalado o observatório meteorológico) e preparou o projecto de adaptação. Como não teve localmente apoio dos docentes, o solar foi demolido e a pedra veio para o prédio então adquirido na Rua do Palácio onde ainda hoje está instado. Para tal causa determinou uma contribuição a favor do Seminário, então o único na Diocese, a ser paga pelo clero açoriano ausente, principalmente nos Estados Unidos da América e Brasil.

Regulamentou as Conferências Eclesiásticas e fundou a Congregação da Doutrina Cristã em toda a Diocese, na linha da reforma catequética de São Pio X, que chega praticamente até ao Concílio Vaticano II com a designação de Confraria da Doutrina Cristã (cf. CD 30).

No campo pastoral, empenhou-se pelos doentes e enfermos, recomendando ao clero a sua assistência espiritual e regulou a pregação e exames de confessor.

Em 1915 elevou o curato de Santo António do Norte Grande, nas Velas da ilha de São Jorge, à categoria de paróquia, fazendo o mesmo em 1916, a Santa Cruz na freguesia das Ribeiras, na ilha do Pico. Promulga na ilha Terceira um «Regulamento da Conferência da Circunscripção da Praia da Vitória» e restaura a ouvidoria do Topo na ilha de S. Jorge.

Em 1920, fundou, em S. Miguel, o semanário A Actualidade e auxiliou a manutenção das publicações que já existiam: em Angra, A Verdade e o boletim paroquial A Cruz; em S. Miguel, A Crença, favorecendo o surgimento de O Dever, os Sinos da Aldeia e O Semeador. D. Manuel Damasceno sagrou em 1921 na Matriz da Horta, D. José da Costa Nunes como bispo de Macau, aquele que seria o primeiro cardeal açoriano, Patriarca das Índias Orientais. D. Manuel faleceu de morte súbita, atribuída a uma síncope cardíaca, em Angra do Heroísmo, a 27 de Janeiro de 1922, jazendo no Cemitério de Nossa Senhora do Livramento. Foi o último bispo de Angra a ser sepultado nos Açores no século XX.

D. Manuel Damasceno da Costa nasceu na Covilhã em 1867, estudou no Seminário da Guarda e ingressou no curso teológico da Universidade de Coimbra. Foi ordenado padre em 1890 na Sé da Guarda . No ano seguinte passou a leccionar Filosofia e História Eclesiástica naquela cidade. Transitando para a diocese de Viseu, foi nomeado secretário do bispo e pouco depois cónego daquela Sé. Quando se preparava para emigrar para o Brasil, após a implantação da República, dada a extinção do seminário e a expulsão das religiosas, foi nomeado para a diocese de Angra (2.10.1914) por Bento XV, em substituição de D. José Correia Monteiro (1905-10). Por procuração que fez ao deão, Dr. José dos Reis Ficher, a quem nomeou governador do bispado, e depois seu vigário geral, tomou posse da Diocese de Angra a 15 de Março de 1915, sendo sagrado bispo a 11 de Abril daquele ano. A ordenação decorreu na Sé de Viseu, sendo sagrante o bispo daquela diocese e um dos consagrantes o antigo bispo de Angra, D. Francisco José Ribeiro Vieira e Brito (1892-1901).

 

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