“Em vez de cristãos de fé em Jesus, somos cristãos de missas de sétimo dia e de funerais””, afirma padre Rui Silva

Ouvidor de Santa Maria lamenta “falta de empenho e de participação” dos cristãos na ilha de Gonçalo Velho

O problema não é novo porque os marienses nunca foram os mais empenhados mas a pandemia ainda veio acentuar mais a indiferença em relação à vida da Igreja. Ao ponto da prática dominical, em seis missas oferecidas ao fim-de-semana, não ultrapassar a soma de 120 ou 130 fieis.

“Em seis missas que celebramos em toda a ilha ao fim de semana, teremos a participação de 120/130 pessoas num total de 5.400 habitantes” refere o ouvidor, padre Rui Silva, em entrevista ao programa de rádio Igreja Açores que vai para o ar este domingo, depois do meio-dia, no Rádio Clube de Angra e na Antena 1 Açores.

“Santa Maria nunca foi uma ilha de grande participação, mas aquilo a que assistimos agora, no decurso da pandemia, é ao esvaziamento das igrejas, eu diria mesmo à indiferença diante de Deus” afirma o sacerdote, lamentando que a vivência comunitária em Igreja se circunscreva a alguns sacramentos.

“Em vez de cristãos de fé em Jesus, passámos a ter cristãos de missas de sétimo dia, de funerais e temos de refletir todos sobre isto” refere, salientando que é “necessário olhar para a realidade concreta da Igreja, em Santa Maria, na diocese e no mundo”.

“Há muitas perguntas que não estão a ser feitas: quando falamos em evangelização hoje falamos de quê? Porque é que não há gente na missa e depois há tanta fé em Nossa Senhora? Basta só ir à periferia ou é preciso ir mais longe?”, interpela o sacerdote que partilha o ministério na ilha com mais outro sacerdote, o padre Carlos Espírito Santo.

“Hoje já não basta utilizar a técnica do arrastão; hoje a pesca é à linha. Às vezes parece que o Evangelho perdeu a sua alegria e a sua cor…Temos que ser realistas: poucas pessoas querem ouvir falar do Evangelho e temos, sobretudo, de ser realistas e ver a realidade tal qual ela é” afirma ainda.

“A Igreja está a passar por momentos muito difíceis; mais do que um sínodo há problemas na Igreja diocesana que têm de ser vistos de frente e deixarmos os esquemas, os livros… São perguntas atrás de perguntas, questionários atrás de questionários; é tempo de partir para a acção”, refere.

A ilha de Santa maria, com cinco paróquias e uma capelania, tem dois sacerdotes e os movimentos, para além da catequese e dos escuteiros, são pouco expressivos.

“Nós temos as igrejas e as ermidas abertas, não excluímos ninguém e estamos disponíveis para escutar, mas também para falar” afirma o padre Rui Silva sublinhando que “a maioria não quer ouvir”.

“Queremos tornar a Igreja em Santa Maria mais alegre, mais empenhada e participativa que não seja apenas de funcionários eclesiásticos, mas está a ser difícil e estamos a perder forças”, reconhece o sacerdote pedindo uma maior participação dos mais novos “que até podiam ser mais empenhados mas não querem”.

Nesta entrevista o padre Rui Silva fala ainda do tempo de sede vacante como sendo muito longo: “aguardamos com muita serenidade mas também já um bocadinho cansados de rezar por um bispo que tarda em chegar. Já seria tempo de termos algumas noticias. Por vezes dá a sensação de que já estamos a passar de uma orfandade para um abandono. Entregues a nós próprios…”.

A entrevista vai para o ar este domingo, depois do meio-dia, no Rádio Clube de Angra e na Antena 1 Açores.

A Ouvidoria de Santa Maria

Tem cinco paróquias e uma capelania, no aeroporto. A ilha tem uma forte tradição na vivência do Divino Espírito Santo, com várias Irmandades e possui uma Santa Casa da Misericórdia em Vila do Porto. Estão ao serviço dois sacerdotes.

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