Entre a maior e a mais pequena paróquia dos Açores vai um oceano de distância

Das 165 paróquias açorianas, há duas que estão nos antípodas

Rabo de Peixe e Mosteiro são paróquias irmãs de uma mesma diocese, mas compará-las é um exercício quase impossível. Nem mesmo as festas do Espírito Santo as aproximam na forma, embora na essência sejam idênticas.

Rabo de Peixe, na ilha de São Miguel, é a maior paróquia da diocese com 9700 habitantes. Um contraste com a pacata e familiar paróquia do Mosteiro, nas Flores, a ponta mais ocidental da Europa, com apenas 43 habitantes segundo o sensos de 2011.

A uni-las está apenas a fé num mesmo Deus.

No Mosteiro tudo é pequeno e decalcado de um conto da natureza, exuberante, de meter inveja ao homem que se torna pequeno à luz dos rochedos que se erguem no litoral da costa sudoeste florentina onde permanece a paróquia que tem como orago na sua Igreja Matriz a Santíssima Trindade .

A criação da paróquia fez-se por alvará do bispo D. frei Estevão de Jesus Maria, datado de 18 de novembro de 1850. A ermida inicial foi melhorada por iniciativa do padre Caetano Bernardo de Sousa, que paroquiou no Mosteiro de 1896 a 1915, tendo acrescentado então uma nova capela-mor, retábulos e uma sacristia. O retábulo da capela-mor, concluído em 1906, é da autoria do artista faialense Manuel Augusto Ferreira da Silva.

Até à sua elevação era curato da Fajãzinha e não se pode dizer que a riqueza fosse abundante.

A elevação do Mosteiro a freguesia deveu-se à filantropia do aventureiro António de Freitas, um ex-seminarista nascido na fajãzinha (provavelmente no lugar do Mosteiro, então parte da freguesia), que esteve emigrado em Macau onde fez grande fortuna.

Em 1846, regressou às Flores e decidiu financiar a construção de uma igreja condigna no Mosteiro, sob invocação da Santíssima Trindade, em sinal de reconhecimento por ter conseguido salvar todos os seus bens. Foi assim que o pequeno povoado veio a dispor do templo que hoje de forma algo incongruente marca a paisagem da freguesia. Foi elevado a paróquia em 23 de outubro de 1850, formando, conjuntamente com o lugar da Caldeira, uma nova freguesia. O decreto muda o nome à localidade, já que o lugar dos Mosteiros dá lugar à freguesia do Mosteiro, tendo contudo os topónimos coexistido durante algum tempo.

A população residente dedica-se à agro-pecuária e ao pequeno comércio, sendo uma zona de ricas pastagens, embora vulneráveis ao vento e rocio do mar do oeste, e muito abundante em água.

Para além da igreja paroquial da Santíssima Trindade (cuja festa se celebra no penúltimo domingo de Agosto), a freguesia dispõe de um império do Divino Espírito Santo, que se vive por altura da Festa de São Pedro e vários moinhos de água, hoje abandonados, mas ainda assim de uma beleza idílica. É também notável o chafariz da Caldeira, sito na localidade do mesmo nome.

Em São Miguel, a história é outra. Com cerca de 9700 habitantes, a vila de Rabo de Peixe, e paróquia do mesmo nome, é uma das principais comunidades piscatórias açorianas, quase sempre falada “por maus motivos”.

Com uma área geográfica de 16,98 km², onde se inclui o lugar de Santana, a paróquia de Rabo de Peixe confronta com o mar e com as freguesias de Calhetas, Pico da Pedra, Ribeira Seca e Santa Bárbara (concelho de Ribeira Grande), Livramento (concelho de Ponta Delgada) e Cabouco (concelho de Lagoa).

Esta localidade é assim chamada devido à semelhança que uma das suas pontas de terra tem com uma cauda de peixe, ou como diz Gaspar Frutuoso (cronista açoriano, século XVI), por em tempos ali ter sido encontrado o rabo de um grande peixe desconhecido.

Rabo de Peixe é o maior porto de pesca dos Açores e a vila mais populosa do concelho da Ribeira Grande tendo o número mais elevado de beneficiários do rendimento social de inserção, cerca de 2500. Mais de 3 mil pessoas vivem da pesca.

Do seu património arquitetónico há a destacar a igreja paroquial, dedicada ao Senhor Bom Jesus. Desconhece-se a data precisa da sua edificação, sabendo-se apenas que veio substituir uma outra igreja que já existia em 1522. De traça harmoniosa, o seu corpo principal é constituído por três naves. Nela se conserva uma bela capela-mor com talha do século XVIII, um quadro de São Pedro atribuído ao mestre Vasco Fernandes (1480-1543) e um magnífico Cristo Crucificado de marfim.

A festa e procissão de São Pedro Gonçalves – patrono dos pescadores – são celebradas nesta igreja no sexto domingo após a Páscoa.

Para além da igreja paroquial existem nesta freguesia mais quatro igrejas: a ermida de São Sebastião; a ermida de Nossa Senhora do Rosário; a ermida de Nossa Senhora da Conceição (século XVIII) ou da Conceição das Vinhas; a ermida de Sant’Ana, situada num prédio pertencente à família de Manuel Coutinho, no Caminho Velho de Santana; e, ainda, a ermida de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (século XX), localizada numa quinta, apresentando no seu interior uma bonita imagem da Virgem do Perpétuo Socorro com a sandália do Menino Deus desprendida do pé.

 

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