Festa dos Espinhos em Ponta Delgada terminou com apelos a uma pastoral da misericórdia

Os jovens e a exortação apostólica Amoris Laetitia deram o mote a nove dias de pregações

Chegou ao fim a Novena dos Espinhos, uma festa celebrada na Quaresma, na Igreja do Senhor Santo Cristo dos Milagres, que juntou os oito ouvidores de São Miguel que pregaram sobre a juventude, a igreja e a família a partir da Exortação Pós Sinodal Amoris Laetitia.

“Nove vozes, nove formas de ver e apresentar a igreja, com sensibilidades diferentes”, mas todas convergindo para a necessidade da igreja ser cada vez menos legalista e mais misericordiosa, resumiu sucintamente o reitor do Santuário do Senhor Santo Cristo na homilia do último dia da festa.

“Durante estes nove dias ficou a sumula do que se pensa e do que se vive na nossa ilha: falou-se da juventude, do sínodo, da família, com base no documento do papa e com a certeza unanime de que temos de nos colocar no caminho de quem tem problemas e estender-lhe a mão” precisou o Cónego Adriano Borges.

“Se nós olharmos a nossa vida pessoal, familiar e comunitária tendo por base o pensamento de Santo Agostinho, a partir da liberdade e da caridade, o nosso mundo hoje, seria diferente”, afirmou o sacerdote.

O Cónego Adriano Borges, que já tinha pregado um dos dias da novena, voltou a insistir que mesmo diante dos espinhos – e ninguém neste mundo consegue dizer que nunca teve espinhos na vida- os cristãos devem lembrar-se que Deus “nunca nos abandona”.

“Mais importante do que pensar nos espinhos é encontrarmos soluções para os ultrapassar” disse o sacerdote desafiando os cristãos a serem menos pessimistas e sobretudo menos negativos em relação aos problemas. Por isso, sublinhou a importância da igreja se concentrar nos jovens e sobretudo na sua formação.

“Por vezes preocupamo-nos muito com o futuro que deixamos aos filhos; pois eu preferiria que pensássemos que jovens deixamos para o futuro pois é deles que depende o mundo de amanhã. Se não tivermos jovens bem formados o mundo não será melhor do que é hoje”, disse ainda.

“Mais do que deixar um mundo saudável, limpo, sem espinhos, é melhor deixarmos crianças que façam um mundo bom; mais do que um mundo bom, deixemos uma humanidade boa, que vai cuidar dos seus caminhos”, concluiu.

Para trás ficaram os últimos quatro dias da Novena pregados pelos ouvidores da Povoação, Pe. Ricardo Pimentel; do Nordeste, Pe. Agostinho Lima; da Lagoa, Pe. João Furtado e, em representação do ouvidor dos Fenais da Vera Cruz, o Pe. Ruben Sousa.

O Pe. Ricardo Pimentel falou sobre a importância do sacramento do matrimónio, “que é um sinal do amor de Deus” e do que ele significa “ a expressão desse amor”.

“O matrimónio não é um contrato que se faz e se rompe; é um sacramento, um sinal que nos convida  a passar de uma vivência individual para uma experiência conjunta  que exprime o verdadeiro amor de Deus” disse o Pe. Ricardo Pimentel.

O sacerdote falou da “crise” deste sacramento “tantas vezes desconsiderado porque é lido como um fim da liberdade individual” e isso, frisa, deve-se ao contra testemunho dos mais velhos.

“Se os pais não ensinam que quando se ama não se olha para mais ninguém, que se entrega a essa pessoa, então os mais novos não têm exemplos”, concretizou enfatizando que hoje, o grande desafio, é o da castidade: “conseguir conquistar uma vida toda o mesmo homem e a mesma mulher”.

“Casar não é o mesmo que acasalar e nem todos têm vocação para casar, isto é, passar de uma existência pessoal para uma vivência partilhada”, disse ainda.

Já o ouvidor do Nordeste, Pe. Agostinho Lima, falou sobre  “O amor que se torna fecundo num tempo como o nosso que é de inverno demográfico”. Um tema “muito atual por sinal”, começou por dizer.

O sacerdote falou do “direito natural” que é todas as crianças terem um pai e uma mãe; do que significa uma maternidade e paternidade responsáveis e da importância da maternidade no seio de uma família.

“Acolher uma nova vida é acolher um novo filho que o Senhor envia” refere o sacerdote lembrando que “o sentimento de orfandade imposta é mais gravosa do que possamos pensar e os jovens sofrem mais do que pensamos”.

No penúltimo dia da Novena a pregação ficou a cargo do Pe. Ruben Sousa que pregou sobre as situações difíceis das famílias e a necessidade de se desenvolver uma pastoral da misericórdia, que tenha por base o principio da atenção e da sensibilidade.

“O problema da insensibilidade é um dos maiores problemas das nossas famílias” disse o sacerdote destacando que quando não estamos sensíveis ao outro, “não conhecemos as suas necessidades gritantes”.

A lógica de hoje, que é cada um a preocupar-se consigo próprio sem que o resto interesse,  e isso “torna-nos egoístas”, disse o Pe. Ruben Sousa.

“Se nós formos sensíveis conseguimos resolver os problemas das famílias, das nossas comunidades e da nossa igreja. Mas infelizmente nós somos muito preconceituosos,  apontamos muito o dedo… Temos de aprender a não criticar tanto”.

O sacerdote abordou ainda os problemas concretos das famílias e relativamente as questões  mais fraturantes que têm alimentado a discussão relativamente à exortação do papa Francisco, como seja o acolhimento de situações irregulares, o seu acompanhamento e a integração para acesso aos sacramentos, o sacerdote que é pároco da Maia, na costa Norte da ilha de São Miguel, lembrou que o caminho só pode ser o da compaixão.

“Temos de nos colocar no lado das pessoas, dos seus problemas… das suas fragilidades. A igreja não pode fechar os olhos aos problemas reais e concretos. Uma pessoa que está numa situação irregular não é menos digna que uma pessoa que esteja numa situação regular”, disse ainda o sacerdote.

A novena dos Espinhos é uma das festas mais importantes da Quaresma na ilha de São Miguel e uma das quatro festas que o Santuário organiza anualmente, a par da festa do Senhor Santo Cristo em maio ou do Cristo Rei no último domingo antes do inicio do Advento.

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