Festas do Senhor Santo Cristo pretendem “devolver” esperança aos açorianos

“Encontro com a Esperança” é o lema inspirador da edição deste ano das Festas do Senhor Santo Cristo. Irmandade e Santuário disponíveis para acolher peregrinos.

A Irmandade do Senhor Santo Cristo dos Milagres em sintonia com a reitoria do Santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres elegeu como mensagem de reflexão para as festividades deste ano, que se realizam em Ponta Delgada de 23 a 29 de maio, a expressão simbólica “ENCONTRO COM A ESPERANÇA”.

 

Pretende-se com isso, “sinalizar a importância da devoção que o encontro anual com o Senhor das Ilhas representa para os milhares e milhares de devotos do Senhor Santo Cristo dos Milagres, quer se encontrem nas Ilhas dos Açores, no Continente, na Diáspora açoriana ou em qualquer outra parte do Mundo” adianta uma nota de imprensa disponível no sitio da internet da Irmandade do Senhor Santo Cristo (www.santo-cristo.com ).

 

Há 310 anos que esta festa se celebra nos Açores.

 

“Trata-se de um momento de expressão de uma Fé inabalável, transversal a muitas e muitas gerações de açorianos que se renova, de ano para ano, com mais intensidade e com mais esperança, justamente, por que essa Fé se alimenta do fervor das Graças que são recebidas”, acrescenta ainda a nota.

 

A seguir ao Espírito Santo, que é talvez a maior expressão da religiosidade popular açoriana, as Festas do Senhor Santo Cristo mobilizam milhares de fieis que procuram viver os três dias maiores desta festa, acompanhando o Senhor Santo Cristo, quando a sua imagem é “devolvida” ao povo pelas irmãs religiosas de Maria Imaculada, zeladoras do Senhor durante todo o ano e a entregam aos cuidados da Irmandade.

 

Os dias maiores das festividades são sempre o sábado e o domingo, com a mudança da Veneranda Imagem do Senhor Santo Cristo, com a Vigília nas Igrejas de Nossa Senhora da Esperança e de São José, com a Solene Concelebração Eucarística, no Campo de São Francisco, e com a Procissão em honra do Senhor pelas principais ruas de Ponta Delgada.

 

Origem e identidade do culto

 

A devoção ao Senhor Santo Cristo está sob a orientação da reitoria do santuário diocesano e a parte profana está sob a orientação da irmandade do Senhor Santo Cristo que “é também aquela que organiza a procissão”, que se assume como  um cortejo onde estão presentes as forças vivas da sociedade.

 

A imagem do Senhor Santo Cristo remonta ao século XVI, mas a veneração foi intensificada no século XVIII por intermédio da freira clarissa Teresa da Anunciada.

 

É uma imagem de madeira, representando Jesus Cristo durante a paixão, com um rosto triste e expressivo, tendo as mãos amarradas sobre o tronco e ornado com símbolos de realeza como a coroa (embora de espinhos), o resplendor, o medalhão peitoral, o ceptro e a capa. Oferecida pelo Papa Paulo III a duas religiosas que terão ido a Roma impetrar a Bula de fundação do primeiro cenóbio feminino da ilha de São Miguel.

 

Até ao final do século XVIII este busto não ocupava qualquer lugar de destaque no Convento das Clarissas, a única ordem religiosa nos Açores antes das novas fundações dos séculos XIX e XX, como sublinha a historiadora Margarida Sá Nogueira, na Revista Arquipélago, de 2005.

 

Numa ilha de vulcões em actividade constante e de sismos frequentes, a devoção era o único refúgio do povo, através do culto do Divino Espírito Santo e ao Senhor Santo Cristo dos Milagres.

 

A devoção que Teresa da Anunciada, venerável religiosa do convento de Nossa Senhora da Esperança, tão intensamente sentiu por Cristo, marcou profundamente a alma do povo, de tal modo que o culto ao Senhor, através da procissão com a imagem, se expandiu e fortaleceu ao longo dos séculos.

 

É, hoje em dia, é a maior procissão, a mais grandiosa e a de maior devoção que se realiza em terras portuguesas, só comparável às celebrações marianas da Cova de Iria.

 

No coração de cada açoriano, disperso pelo mundo, há um altar de culto eterno ao Senhor Santo Cristo, onde as suas preces mantêm permanentemente acesas místicas velas de imperecível devoção e saudade.

 

A  presença de milhares de açorianos que vêm participar, todos os anos, de Portugal, dos Estados Unidos da América, do Canadá e, naturalmente, das outras ilhas, nas grandes festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres, numa autêntica e profunda manifestação de fé e devoção é , porventura, o maior sinal da dimensão deste culto.

 

Semanas antes da procissão, o convento da Esperança e o Campo de São Francisco são preparados e enfeitados festivamente com milhares de lâmpadas multicores, mastros e bandeiras, flores de todas as espécies e cores que conferem ao recinto um deslumbrante ar de festa.

 

As festas duram vários dias. Sucedem-se os serviços religiosos e os concertos. Na manhã de sábado, há pessoas que andam à volta da praça de joelhos sobre as pedras do pavimento ou, então, carregadas de círios de cera, num agradecimento pela graça recebida do Senhor numa hora de aflição e sofrimento.

 

No domingo é o dia da procissão maior. A abrir, o guião, com a coroa de espinhos dourada, depois duas longas filas de homens com opas, muitos com grossos círios, interrompidos por grupos de filarmónicas.

 

Seguem-se associações juvenis transportando guiões de cores garridas, crianças vestidas de anjos, alunos do seminário, o clero Micaelense e alguns sacerdotes convidados, todos eles a precederem a venerando imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres, transportada sob um docel de veludo e ouro, num trono de lindíssimas flores de seda e pano, tecidas no século XVIII.

 

Após a venerando imagem, seguem-se os dignatários da Igreja Católica, representantes das congregações religiosas sediadas em S. Miguel e muitos milhares de senhoras, no cumprimento de promessas.

 

A fechar o extenso cortejo, seguem-se as mais altas autoridades militares e civis, representações e associações sociais e desportivas.

 

A grande procissão recolhe, já quase noite, após cinco horas de circulação pelas principais ruas de Ponta Delgada.

 

O corpo principal do tesouro do Senhor Santo Cristo dos Milagres é constituído pelas seguintes jóias: o Resplendor, a Coroa, o Relicário, o Ceptro e as Cordas. O Resplendor é a peça mais rica do espólio.

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