“Há princípios irredutíveis” e o da defesa da vida é um deles, avança Pe. José Júlio Rocha

Na semana em que a legalização da eutanásia vai a debate no parlamento e a hipótese do referendo mantém-se acesa, o Igreja Açores falou com um sacerdote e uma eticista sobre a questão da Eutanásia

O referendo “é uma espécie de mal menor” porque vai exigir à sociedade um debate sério e “sem campanhas” para esclarecer o que está em causa na possível legalização da eutanásia, uma questão que aponta para a “derruição do valor da vida humana”.

A opinião é do teólogo moralista Pe. José Júlio Rocha que, em declarações ao Igreja Açores, afirma que há valores irredutíveis.

“Nós sabemos que todas as coisas na sociedade mudam, mas há princípios fundamentais, que a moral chama de lei natural e o direito chama de direito natural, que são intrínsecas à dignidade da pessoa humana e que não podem mudar; que são fundamentais e eternos e isso está consagrado na Declaração Universal dos Direitos Humanos” afirma o Pe. José Júlio Rocha, doutor em Teologia Moral e assistente da Comissão Diocesana Justiça e Paz.

“Esses direitos são fundamentais para defender a sociedade da sua própria aniquilação. Há valores que não admitem exceções e um deles é o da irredutibilidade da vida humana desde o principio até ao fim” reafirma destacando que “ qualquer forma, até das mais benignas, como poderia ser a eutanásia, de eliminação de uma vida, a Igreja não aceita”.

“A questão do referendo deve ser vista como uma forma de discutir o assunto no espaço publico. O referendo é um mal menor; a vida não se referenda, mas o referendo serve sobretudo para que haja um esclarecimento maior, um debate, uma participação cívica maior dos cidadãos. É bom que haja esclarecimentos e não campanhas que apenas serve para destruir os argumentos dos outros”.

O sacerdote manifesta a sua compaixão perante o sofrimento, mas lembra que nem por isso, a questão se torna mais fácil.

“ A Holanda e a Bélgica já deram passos mais à frente e na verdade já estamos noutro patamar. Agora todas as pessoas maiores de 70 anos, receberão uma capsula e podem por fim à vida quando entenderem. Isto é uma derruição do valor da vida que está em causa; é também o sentido da vida humana” reconhece o Pe. José Júlio Rocha.

Na próxima quinta feira está agendado o debate sobre os cincos projectos de lei apresentados pelos partidos e que no essencial apontam para o mesmo e desta vez é possível que os diplomas sejam aprovados e remetidos à Comissão Parlamentar de Saúde.

“O debate em Portugal sobre a eutanásia é postiço, artificial e movido por interesses meramente políticos” adianta Maria do Céu Patrão Neves. A professora Catedrática da Universidade dos Açores destaca que “é artifical porque não respeita a qualquer anseio do cidadão”, mas tão grave quanto isso é o facto do assunto ter sido inscrito na agenda como uma espécie de “moeda de troca para o voto no orçamento” entre o PS e o Bloco de Esquerda.

Por outro lado, diz, este debate sobre a eutanásia “é falacioso porque em todos os estudos o que fica claro é que as pessoas não querem sofrer. As pessoas não querem morrer, querem é não sofrer”, conclui a eticista.

“Quando a maioria dos iodosos vive sozinho, com poucas condições; quando a maioria dos cuidados continuados e paliativos mal cobre as grandes cidades e o serviço nacional da saúde mal consegue dar resposta às necessidades básicas da população, o debate da eutanásia além de distrair cria condições para perspetivar economicamente o futuro da velhice em Portugal”, conclui.

A professora Patrão Neves lembra, ainda, que Portugal possui desde 2012 uma das redes mais avançadas de fim de vida, que dá, desde logo, a autonomia para a pessoa definir o que quer e o que não quer, já que é na vida com dignidade que o estado deve investir.

NO próximo dia 20 de fevereiro, os diplomas das diferentes bancadas vão subir ao plenário da Assembleia da Republica

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