Igreja Católica acompanha «situações dramáticas» dos emigrantes

14.º Encontro de formação de agentes sociopastorais das migrações começou hoje. Papa apela a uma cultura de hospitalidade e tolerância na mensagem para o dia Mundial do migrante e do refugiado que a Igreja assinala este domingo.

O diretor da Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM) sublinhou a importância de acompanhar quem deixa o país, vivendo “situações dramáticas” para evitar que fiquem numa “situação pior”.

 

“As pessoas vão continuar a emigrar e cada vez em maior número. Pelo que nós vemos dos dados em Portugal e da situação real do nosso país, percebemos que as pessoas estão a viver situações muito difíceis”, refere frei Francisco Sales Diniz em entrevista à Agência ECCLESIA, por ocasião do 14.º Encontro de formação de agentes sociopastorais das migrações que hoje se iniciou em Albergaria-a-Velha.

 

Segundo este responsável, perante a recente “explosão da emigração”, é preciso que a Igreja Católica coloque a “pastoral dos emigrantes – a necessidade de os acompanhar, de continuar a disponibilizar agentes pastorais, a dar orientações para este trabalho, como uma das prioridades”.

 

O diretor da OCPM mostra-se preocupado com as pessoas que emigram sem uma rede social de apoio que os acolha nos destinos, “para onde vão sem terem a certeza de encontrar trabalho”.

 

Frei Francisco Sales Diniz destaca o trabalho realizado pelas missões de língua portuguesa, em parceria com as Cáritas e outras instituições civis, para promover o apoio aos emigrantes, “porque as situações são muito dramáticas”.

 

O responsável projeta a celebração do Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, que a Igreja Católica assinala este domingo, e cita o Papa Francisco para pedir uma “mudança de atitude”.

 

“Se queremos construir uma Europa unida, é preciso que os governos trabalhem em conjunto: é preciso uma grande abertura, leis que promovam uma cooperação entre os Estados”, sustenta.

 

A Igreja Católica, acrescenta, deve ajudar a criar uma “cultura do acolhimento”, de respeito pela dignidade de cada pessoa e pelos Direitos Humanos.

 

“Estive recentemente num centro de detenção de imigrantes clandestinos, na ilha de Malta: são situações verdadeiramente dramáticas, chorei ao ver centenas e centenas jovens, cheios de sonhos e de esperanças, que se veem barrados, detidos como se fossem criminosos”, recorda o diretor da OCPM.

 

Por sua vez, o diretor do Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS) em Portugal defende que é necessário instituir uma “cultura de hospitalidade” para contrariar “a crise de valores” que se vive atualmente.

 

“Perante o sofrimento dos refugiados somos chamados à ação, não podemos ficar calados porque o nosso silêncio colabora com os opressores e os tiranos” e “num tempo em que se fala de crise a tantos níveis, importa também dar sinais que contrariem a chamada crise de valores e contribuam para uma cultura de hospitalidade, uma cultura que oriente a política europeia”, escreve André Costa Jorge, num texto publicado no semanário digital ECCLESIA, por ocasião do 14.º Encontro de formação de agentes sociopastorais das migrações .

 

O diretor do JRS defende que “a cultura de hospitalidade se revela de facto essencial para a promoção da justiça e tem uma importância decisiva na integração dos migrantes”, acrescentando que “a hospitalidade como atitude deve ser entendida não só no seu aspeto mais afetivo, mas sobretudo como prática e a aprofundar em muitas dimensões” porque “acolher obriga a sair de si, ao respeito pelo outro, pela aceitação de que o outro seja o que é, passa pelo progressivo conhecimento de nós próprios e dos outros”.

 

No mundo atual “marcado pelos egoísmos e medos que não deixam que se abram as portas aos mais frágeis e vulneráveis, deixando-os tantas vezes sujeitos à violência e à morte” é “significativo que o Papa Francisco e a Igreja saiam em defesa dos migrantes e dos refugiados”.

 

“Infelizmente o mundo é hoje um lugar mais perigoso e ameaçador, a causa está nos diversos conflitos e convulsões sociais, alguns deles às portas da Europa, que forçam milhões de pessoas a sair dos seus países, nalguns casos para salvar a vida, engrossando a fileira de deslocados e refugiados”, escreve André Costa Jorge.

 

A visita do Papa à ilha italiana de Lampedusa, “lembrou a todos que é importante não ficarmos indiferentes ao sofrimento humano”.

 

“Hoje creio que somos todos chamados a colaborar numa cultura de hospitalidade, em comunhão com os gestos e as palavras do Papa e como testemunhas do amor de Deus pela humanidade, acolhendo os refugiados e os migrantes vulneráveis”, conclui o diretor do JRS.

 

Na sua primeira mensagem para a Jornada Mundial do Migrante e do Refugiado, que vai ser celebrada pela Igreja Católica este domingo, Francisco apelou a uma mudança de “atitude” em relação aos migrantes e refugiados, alertando para os “tráficos de exploração, de dor e de morte” de que estas populações são alvo.

 

“Os migrantes e refugiados não são peões no tabuleiro de xadrez da humanidade, trata-se de crianças, mulheres e homens que deixam ou são forçados a abandonar suas casas por vários motivos”, escreve Francisco numa mensagem intitulada “Migrantes e refugiados: rumo a um mundo melhor”.

 

No texto, divulgado pelo Vaticano, o Papa defende que é necessário passar de “uma atitude de defesa e de medo, de desinteresse ou de marginalização – que, no final, corresponde precisamente à ‘cultura do descartável’ – para uma atitude que tem por base a ‘cultura do encontro’, a única capaz de construir um mundo mais justo e fraterno”.

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