Igreja participante na luta pela justiça

Por Renato Moura

“Eu não creio que exista qualquer outra qualidade tão essencial ao sucesso de qualquer tipo como a qualidade da perseverança. Ela supera quase tudo, até mesmo a natureza” é um pensamento expresso por John Rockefeller (1839-1937).

Atentemos em tomadas de posição recentes do nosso Papa Francisco. Uma delas foi a de abolir o segredo pontifício para casos de abuso sexual cometidos por clérigos, o que se traduzirá em disponibilizar às autoridades civis testemunhos dos processos canónicos. Uma decisão que corajosamente colocou o respeito pelos humanos acima da simples protecção do nome da instituição; e considerou as autoridades judiciais.

Mas como tudo no actual Pontífice tem uma lógica integral, que é a de viver e apelar à integralidade do Evangelho, no recente encontro com os responsáveis da Cúria Romana, Francisco reforçou que “A humanidade é a chave com que ler a reforma. A humanidade chama, interpela e provoca, isto é, chama a sair e não temer a mudança”. E acrescentou que precisamos de “outros paradigmas, que nos ajudem a situar novamente os nossos modos de pensar e as nossas atitudes”.

O Papa Francisco esclarece com clareza: “O objectivo da reforma actual é que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem num canal mais proporcionado à evangelização do mundo actual que à autoconservação”. Ele que sempre ajuda os humanos a atingir o Céu, mas que diligencia tudo fazer, também, para que vivam o melhor possível e com alegria já neste mundo.

Quando alguns de nós, mais novos, já não sentimos motivação ou coragem para empreender, Francisco apresenta-se como um jovem que apela e impele à acção em todos os domínios. No 50.º aniversário da sua ordenação como sacerdote, aproveitou para falar especialmente para dentro definindo “o sacerdote é um homem de misericórdia e de compaixão, próximo do seu povo e servo de todos”.

Voltado como sempre para o mundo, enfrentando os poderes que o governam e ousam espezinhar os pobres e fracos, afirma que a Igreja “não pode ficar à margem da luta pela justiça” e que a religião não pode ficar renegada, como alguns gostariam, “à intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e nacional”.

Estas e outras últimas afirmações do nosso Papa são um sinal admirável de perseverança, foram prendas para o Natal. E podem ser aproveitadas como instrumentos para que o Bom Ano Novo, que se deseja para todos, aproveite a uma melhor Igreja, mas também nos impulsione a todos na luta pela construção da justiça.

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