Iniciativa decorreu na Igreja de Nossa Senhora da Esperança

O reitor do Santuário do Senhor Santo Cristo agradeceu à Irmandade do Senhor Santo Cristo, em especial aos irmãos que há 50 anos pertencem à instituição, e que este sábado foram homenageados no âmbito das comemorações dos 260 anos, “a vida entregue e o serviço” na preservação deste culto iniciado por Madre Teresa da Anunciada.
“A forma como ela tinha de se aproximar do Senhor é a que temos hoje; tal como ela também nós caminhamos junto a este Senhor, debaixo do seu olhar que nos acolhe inteiros, sem julgamentos nas encruzilhadas da vida. A nossa palavra hoje, a minha palavra hoje só pode ser de gratidão. Obrigado pelas vossas vidas e pelo vosso serviço” afirmou o cónego Manuel Carlos Alves a partir do exemplo devocional e espiritual da religiosa Clarissa, cuja biografia e causa de beatificação parecem agora encaminhadas na sua concretização.
“As novas gerações têm os pés assentes nos ombros das gerações anteriores e por isso a nossa responsabilidade é passar-lhes conhecimentos, transmitir-lhes valores que nos são caros”, disse ainda o sacerdote.
A irmandade do Senhor Santo Cristo assinalou este sábado os 260 anos da sua fundação e homenageou 19 irmãos, com 50 anos de pertença a esta instituição, que tem entre a sua missão o zelo pelo culto ao Senhor Santo Cristo e a caridade.
“Mais do que um simples gesto de agradecimento, esta homenagem a cada um dos irmãos representa o reconhecimento de que cada um de vós é um elo na cadeia de ajuda e um ativo na história desta Irmandade, pelos valores que sempre pautaram a vossa ação” referiu, por seu lado, Carlos Faria e Maia, provedor da Mesa da Irmandade.
“União, humildade, respeito, valores, tradição e compromisso, são a marca do vosso percurso de vida que é um exemplo para todos nós, sobretudo para os irmãos mais novos “ disse ainda deixando a garantia de que este testemunho “será perpetuado”.
“Numa época cada vez mais mundana, que despreza a ética e os valores morais, o vosso espírito e testemunho serão perpetuados” afirmou Carlos Faria e Maia, eleito Provedor depois da morte de António Costa Santos também hoje lembrado pelo padre José Paulo Machado, um dos dois oradores convidados para esta sessão que decorreu na Igreja da Esperança, Igreja jubilar de São Miguel.
“Fraternidade/ Irmandade, podemos agrafar as duas palavras e são um exemplo de vida dos cristãos” começou por dizer numa alocução sobre `Ser Irmão´.
O pároco da paróquia de Nossa Senhora dos Anjos, na Fajã de Baixo, em Ponta Delgada, sublinhou o papel da Irmandade no “zelo pelo culto” e no “cuidado” em “manter e preservar este edifício espiritual” que é a devoção ao Senhor Santo Cristo.
“Quando o celebramos estamos a celebrar o eixo central da fé desta Diocese, que atravessa todas as ilhas, que é a celebração da Paixão de Cristo”, afirmou o sacerdote que durante a intervenção aludiu a dois dos documentos centrais do pontificado do papa Francisco, as encíclicas Laudato Si e Fratteli Tutti, que apontam para uma ecologia integral, que priorize a amizade social e a fraternidade universal.
“Tudo está interligado neste edifício incrível de fé que é o culto e a festa, todos estamos ligados na mesma sede de Deus”, afirmou o padre José Paulo Machado.
“Irmão é o que dá valor ao outro, não o julga, não o apupa e tem esse olhar sobre todos porque a irmandade serve para este cuidado de todos” frisou ainda.
O primeiro orador desta sessão comemorativa dos 260 anos da Irmandade foi o padre Hélio Soares, investigador e que trouxe bocados da história da irmandade do Senhor Santo Cristo desde a sua fundação, mas sobretudo com uma atenção redobrada ao momento que apelida de refundação em 1891, altura em que são aprovados novos estatutos e há um reconhecimento civil desta Irmandade. Em especial sobreleva desta refundação o facto de homens como Bernardo Machado faria e Castro, Ernesto do canto, Luís Soares de Sousa, o Conde de Albuquerque, entre outros, personalidades com filiações partidárias e interesses divergentes terem se juntado nesta Irmandade movidos pela mesma fé e ao mesmo tempo pela defesa de interesses específicos.
“A Irmandade refundada tem objetivos concretos juntando homens de sensibilidades políticas distintas mas unidos pela fé e ao mesmo tempo a defesa da condição insular e é a partir desta refundação que se gera um consenso cultural, político e social em torno da festa do Senhor Santo Cristo” afirma o padre Hélio Soares, que atribui à Irmandade o papel mais determinante na manutenção do culto, na gestão e manutenção do Convento.
Aliás, a este propósito, o investigador recorda um episódio que envolveu a congregação que precedeu as Irmãs de São José de Cluny, a Ordem da Visitação, que esteve no Convento entre 1932 e 1942, e que sendo de clausura não poderia gerir um colégio. Descoberta essa atividade pelo governo geral da Ordem, as religiosas foram chamadas a Espanha mas recusaram-se a sair e permaneceram no convento sob a proteção da Irmandade que, à época, governava todo o espaço do Convento por ordem do poder civil, nomeadamente do Governador Civil.
O sacerdote deixou, ainda, um desafio aos irmãos homenageados e a todos os restantes irmãos no sentido de juntar todo o material que possam ter em sua posse- atas, cadernos, anotações, “o que for- e assim possam contribuir para a construção de um arquivo onde possa ser estudada e reconstruída a história desta Irmandade, que atualmente tem cerca de 500 irmãos.
Trata-se de uma associação de fiéis, com fins não lucrativos, constituída na Ordem Jurídica Canónica, e com sede no Convento da Esperança, em Ponta Delgada, com personalidade jurídica, canónica e civil, sendo reconhecida como instituição particular de solidariedade social.
A Irmandade tem por objetivos praticar a solidariedade social, especialmente, no apoio à família, e realizar atos de culto ao Senhor Santo Cristo dos Milagres.
A sessão foi conduzida pelo Vice-provedor, José Manuel Matias Tavares que pediu uma Irmandade “presente na comunidade, forte e coesa”.
Houve ainda um momento musical com órgão e flauta.