Bispo de Angra preside às Festas de Santa Maria Madalena no Pico

Novenário entra na reta final com pregador a desafiar os cristãos a libertarem-se das suas escravidões que passam pela “inveja e pela malícia” vendo o outro “não como um inimigo a abater” mas como “um irmão a amar”

A solenidade de Santa Maria Madalena, na ilha do Pico, que se assinala no próximo sábado dia 22 de julho será presidida pelo bispo de Angra, D. João Lavrador.

As celebrações começam com uma Eucaristia seguida da bênção anual das viaturas e saudação à Padroeira. Às 16h30 realiza-se o desfile de filarmónicas e saudação à Padroeira; uma hora depois começará a Eucaristia solene, concelebrada pelos párocos de toda a ouvidoria do Pico.

A festa, que é também concelhia, a que a Câmara acrescenta sempre um programa sócio-cultural significativo, é celebrada num contexto de particular significado litúrgico na medida em que no ano passado o Papa Francisco destacou a figura e a importância de Santa Maria Madalena, elevando à categoria de “Festa” a celebração do seu dia no calendário litúrgico da Igreja Católica, igualando-a à celebração dos apóstolos.

A Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos publicou um decreto, datado de 3 de junho de 2016, “por desejo expresso do Santo Padre”, para promover e explicar esta mudança.

O texto sublinha que Maria Madalena foi a primeira “testemunha” e “anunciadora” da ressurreição de Cristo.

A mudança promovida pelo Papa aconteceu “no contexto do Jubileu da Misericórdia” para sublinhar “a relevância” da figura de Maria Madalena, “que mostrou um grande amor a Cristo e foi por Cristo tão amada”.

O prefácio para a Eucaristia, já traduzido para português, reforça esta ideia: “Aparecendo Jesus a Maria Madalena no jardim, Ela que tanto o amara quando era vivo, viu-O morrer na cruz, procurou-O no sepulcro; e foi a primeira a adorá-l’O depois de ressuscitar dos mortos”.

“É justo que a celebração litúrgica desta mulher tenha o mesmo grau de festa dado à celebração dos apóstolos”, afirma o decreto.

Desde o inicio do seu pontificado que o papa Francisco manifestou particular atenção a esta mulher da igreja, partindo do relato do Evangelho segundo São João que retrata Madalena a chorar junto do sepulcro vazio, num momento de “escuridão na sua alma” por ver deitadas por terra “todas as suas esperanças”, antes da aparição de Jesus ressuscitado.

Maria de Magdala, declarou, era a “mulher pecadora” que ungiu os pés de Jesus e os enxugou com os seus cabelos, uma “mulher explorada e também desprezada por aqueles que se julgavam justos”.

Também Bento XVI expôs numa intervenção pública as lições deixadas aos cristãos de todos os tempos por Maria Madalena, “discípula” de Jesus, “testemunha do poder do seu amor misericordioso, que é mais forte que o pecado e a morte”.

O Papa emérito recordou esta mulher, “que nos Evangelhos desempenha um lugar de primeira ordem”.

A figura da Madalena foi motivo de debate ao longo dos séculos, em particular por causa de passagens de escritos gnósticos que aludem a uma proximidade entre Jesus e Maria Madalena e alguma hostilidade em relação a ela por parte de São Pedro e Santo André.

O Evangelho de S. Lucas, recordou Bento XVI, apresenta-a entre as mulheres que seguiram Jesus depois de ter “sido curada de espíritos malignos e doenças”, precisando que dela “tinham saído sete demónios”.

“A história de Maria de Magdala recorda a todos uma verdade fundamental: discípulo de Cristo é quem, na experiência da fraqueza humana, teve a humildade de pedir-lhe ajuda, foi curado por ele, e seguiu-o de perto, tornando-se testemunha do poder do seu amor misericordioso”, disse então.

Esta festa, que inicia no Pico as festas de verão dos padroeiros, tem estado a ser preparada desde a passada quinta feira, a partir da afirmação de Maria nas bodas de Canã, “Fazei tudo o que Ele vos disser” pela pregação do novo sacerdote diocesano Pe. Jacob Vasconcelos.

No quinto dia da pregação e a partir da liturgia diária, o sacerdote desafiou os picoenses a livrarem-se das “suas escravidões” porque “só se conhece paz quando adequamos a nossa vontade com a vontade de Deus”.

“Ainda hoje, de formas diversas e muitas vezes disfarçadas, queremos eliminar aqueles que nos causam sombra por inveja, malícia ou porque, algumas vezes, podem estar a denunciar algum comportamento mesmo próprio e a sua verdade incomoda-nos” afirmou o sacerdote para logo concluir que “não pode ser assim o comportamento de um Filho de Deus”.

“O outro não é um inimigo a abater mas um irmão a amar. Tem dons, potencialidades e também insuficiências diferentes das minhas. Juntos, somos chamados a crescer, não a abatemo-nos uns aos outros”, esclareceu.

O Pe. Jacob Vasconcelos, que foi ordenado há pouco mais de 15 dias, exortou ainda os picoenses a abraçar a cruz da vida com otimismo na medida “em que Deus quer sempre salvar-nos”.

“Tomar a cruz é encarar as tribulações e contrariedades da vida com a força que vem de Deus”, aceitando “aquilo que a vida vai trazendo, por vezes com surpresas, com a serenidade possível e com o discernimento necessário para perceber a vontade Divina no que vai sucedendo”.

“Tomar a cruz não é procurar sacrifícios, uma palavra tantas vezes mal interpretada…Tomar a cruz é fazer da vida um sacrifício de acordo com o verdadeiro sentido da palavra, tornando sagrado cada gesto, cada  olhar, cada momento do nosso dia”, concluiu.

O novenário de Santa Maria Madalena termina na sexta feira à noite. Todos os dias entre as 17h00 e as 18h00, haverá oportunidade para a celebração do Sacramento da Reconciliação.

Depois desta festa, no concelho da Madalena, vêm as festas do Senhor Bom Jesus, em São Mateus, a 6 de agosto, uma devoção que já conta com cerca de 140 anos. Reporta ao ano de 1862, quando o emigrante Francisco Ferreira Goulart trouxe do Brasil uma imagem do Senhor Bom Jesus, cópia fiel daquelas que se veneram. Esta devoção já cá existia, venerando-se imagens do Senhor Crucificado, como se pode ainda ver nos Inventários das Igrejas Paroquiais. Mas foi a partir da chegada da Imagem a São Mateus do Pico, que mais se intensificou a devoção ao Ecce Homo. Este ano a festa será pregada pelo Pe. Marco Bettencourt Gomes e presidida pelo bispo do Porto, D. António Francisco dos Santos. Ainda no Pico, a Festa dos Baleeiros nas Lajes, em homenagem à  Senhora de Lourdes é outro dos pontos altos do verão na ilha montanha, na última semana do mês de agosto.

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