Marcelo Rebelo de Sousa destaca «mistura única de jesuíta com sensibilidade franciscana»

O professor universitário e comentador político, Marcelo Rebelo de Sousa, destaca o exemplo único e genuíno do Papa Francisco que cativa pela ação e pela coerência dos seus atos que não são fruto do pontificado mas caraterísticas próprias.

“Ele é mais um Papa da pastoral do que da doutrina, não é tão importante estar a discutir questões doutrinárias, passam ao lado da situação de fome, de guerra, de miséria, privação de sofrimento das pessoas do que responder a esses problemas concretos para os quais a Igreja tem uma mensagem e um testemunho a dar”, revela Marcelo Rebelo de Sousa sobre a possibilidade de Francisco tornar-se uma referência pelas suas preocupações e chamadas de atenção.

 

 

“Nessa mistura única de jesuíta com sensibilidade franciscana vai, como fazia quando estava na sua diocese, até aos pobres, aos sacrificados, aos marginalizados, até às periferias”, desenvolve o entrevistado à Agência ECCLESIA.

 

Do querer desinstalar e chamar a atenção constante para os mais pobres, excluídos e apelo a ir às periferias, Marcelo Rebelo de Sousa destaca que Francisco “aproveita cada momento para isso”, que “não é demagógico nem populista” mas “natural”, como no seu aniversário que celebrou com pessoas sem-abrigo: “Ele fazia isso quando era cardeal, quando era bispo, não passou a fazer. Não deixou de fazer isso ao ser Papa”.

 

“A genuinidade existiu em todos os Papas mas com ele está de facto a aproximá-lo de muito crente e não crente que entende os sinais e se sente atraído antes mesmo da fé”, prossegue o entrevistado.

 

Nesse sentido, Marcelo Rebelo de Sousa considera que dar o exemplo é “muito importante “para uma Igreja muitas vezes acomodada” onde é “muito mais fácil com o tempo, com a idade e com a doutrina as pessoas acomodarem-se” e o Papa Francisco “quer precisamente que se desacomodem”.

 

Para o professor universitário, o Papa para transformar a Igreja que todos conhecem precisa de fazer três coisas: “Descentralizar a Igreja, desconcentrar o poder que muitas vezes está concentrado em Roma; Descentralizar no sentido de cada Igreja particular ter a sua evangelização própria, não se evangeliza da mesma maneira na Ásia, América latina, na África e na Europa e em terceiro abrir caminho para novas linguagens.”

 

“O mundo mudou e só há evangelização se as pessoas perceberem a mensagem, a mudança de linguagem neste tempo de novas tecnologias de informação é fundamental”, observa.

 

As origens sul americanas do Papa também são importantes, considera o professor que assinala o facto de a Europa ter “um problema de evangelização, que em muitos casos é quase um recomeçar de novo” porque “não há valores absolutos”.

 

“O centro da Igreja está verdadeiramente noutros continentes, onde há mais católicos, onde estão a crescer em número, em experiências de fé e onde evangelizar é outra coisa”, acrescenta, comparando também o ritmo rápido das novas igrejas noutros continentes ao “ritmo lento” da Igreja na Europa.

 

Por isso, Marcelo Rebelo de Sousa revela que estas alterações na Igreja significam “mexer em estruturas que estavam muito paradas, centralizadas, muito no plano teórico e doutrinário, para a realidade do dia-a-dia”.

 

Com a internet, “uma juventude que funciona de outro ritmo e maneira”, o aumento da esperança de vida e os seus “problemas próprios”, o comentador político reafirma que é necessário “uma revisão pastoral da prática da Igreja, da prática de todos e de evangelização” diferente da “proposta de João Paulo II que foi à uma eternidade, nem sequer com o pensamento de Bento XVI”, concluiu o professor universitário.

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