Na escola do Belo e do Bom

A parábola do semeador é contada pelos Evangelistas Sinópticos (Marcos, Mateus e Lucas) com detalhes específicos de cada um.

Embora todos eles se refiram aos que «dão fruto» com aos que têm, não «boa terra», como erradamente se costuma traduzir, mas «bela terra» (τῇ καλῇ γῇ), expressão típica dos micaelenses, significando «terra muito fértil», Lucas (8:4-15), por seu turno, é o único que escreve que esta «bela terra» é, à letra, no original grego, «um coração belo e bom» (καρδίᾳ καλῇ καὶ ἀγαθῇ, v. 15).

O «coração» representa, no Médio Oriente, a dimensão meditativa do ser humano, o seu discernimento, a sua razão, a sua inteligência. «Belo e Bom» (καλὸς καὶ ἀγαθός, «kalòs kaì agathós») constituem, no classicismo grego, o ideal antropológico por excelência: a pessoa humana orientada, por um lado, para a beleza, a estética e a arte; por outro, para a moral, a ética e a etiqueta.

Este coração «belo e bom», segundo Lucas, é a única terra em que a Palavra (Lόγος) do semeador dá fruto. Essa Palavra, o Lógos, ou seja, o Verbo de Deus, é o próprio Jesus; o semeador, o Pai divino. Conservar a Palavra do Pai na inteligência significa, então, integrar a «lógica» divina no entremeado da inteligência humana, plasmando-a de uma matriz ao mesmo tempo divinizante e humanizante.

Com esta integração inteligente e profunda da Palavra se impede que os «diabos» que nos rodeiam levem essa Palavra do coração (v. 12). Ela torna-se tão nossa e tão nós, que a alegria por ela causada é perene e não um «fogo de palha» (v. 13). Essa «inteligência bela e boa» descobre a Palavra como um tesouro, pelo que secundariza «as preocupações, as riquezas e os prazeres biológicos» (v. 14).

A Lógica de Deus só é apreendida verdadeiramente e só rende prosperamente em corações, isto é, em «inteligências», «belas e boas». Não seria, portanto, mais inteligente preparar as pessoas nas suas dimensões «estética e ética» antes de lhes apresentar a Palavra? Oferecer Jesus a quem não tem um mínimo de sensibilidade para o Belo e para o Bom não será, no dizer de Jesus, «deitar pérolas a porcos» (Mateus 7:6)?

Não seria sensato, tanto na Pastoral dos Jovens, como na Pastoral dos Adultos, fazê-los passar, primeiro, por um «Círculo do Belo», uma «escola da criatividade», onde pudessem desenvolver o gosto pelo Belo do Cosmos, da Natureza, da Literatura, da Música e das outras artes humanas, para poderem eles, mais facilmente, detectar a beleza dessa Palavra?

Não seria sábio, tanto na catequização dos mais novos, como na formação dos mais crescidos, iniciá-los, integrados num «Círculo Educativo», uma «escola do respeito», nas mais elementares normas éticas, nas mais básicas leis da moral, nas mais importantes boas maneiras, para poderem eles, mais rapidamente, compreender as exigências libertadoras da Palavra?

 

Ricardo Tavares

donamaat@gmail.com

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