O MEU SIMPLES TESTEMUNHO

Um dos leitores da celebração da palavra em Ponta Delgada destaca a humildade e a coragem de João Paulo II que mobilizava multidões.

No próximo dia 27 deste mês de Abril, II Domingo do Tempo Pascal e da Divina Misericórdia, a Igreja exultará de alegria ao canonizar os Papas João XXIII e João Paulo II.

Depois de todo um processo canónico, desenvolvido pela Sagrada Congregação para a Causa dos Santos, o Papa Francisco, no exercício do seu ministério petrino e em nome de toda a Igreja, irá canonizar solenemente estes dois Pontífices, pela graça de Deus, pelas suas virtudes, pelo testemunho de vida cristã, pela total identificação com Jesus Cristo, pelo cumprimento da vontade de Deus, pela correspondência, em pleno, às propostas de Cristo, contidas na Sua Palavra, nos Seus Evangelhos, pelo serviço à Igreja e à humanidade, pelo desejo de perfeição ou de santidade.

A Igreja de Cristo exulta e canta de alegria por acreditar e sentir que juntamente com Maria e todos os Santos na Casa do Pai, tem também João XXIII e João Paulo II, junto de Deus Uno e Trino, a interceder por todos nós.

João Paulo II e João XXIII são para nós modelos de vida cristã, e modelos de santidade.

João XXIII eleito Papa no dia 28 de Outubro de 1958 e em menos de três meses no pontificado, a 25 de Janeiro de 1959, manifestou publicamente a sua resolução de convocar um Concílio Ecuménico. Depois da criação das Comissões para preparar o Concílio e consulta aos Bispos de toda a Igreja sobre a oportunidade e dos temas que deveriam ser tratados no mesmo, o Papa convoca solenemente o Concílio no dia do Natal de 1961 com a bula Humanae Salutis, para o dia 11 de Outubro de 1962 para a sessão inaugural.

No discurso inaugural, João XXIII manifestou a vontade de revitalizar a vida da Igreja em conformidade com o Evangelho, e a união de todos os cristãos.

João XXIII presidiu ao primeiro período do Concílio, de 11 de Outubro a 8 de Dezembro de 1962. Faleceu a 3 de Junho de 1963.

Paulo VI foi o sucessor que logo no primeiro discurso, no próprio dia da sua eleição para o Pontificado, declarou prosseguir o Concílio.

O Papa João XXIII, providencialmente, eleito para sucessor de Pedro, foi uma dádiva de Deus à Sua Igreja, que é Mestra e Mãe de todos nós.

Com esta frase define bem a grandeza de alma de João XXIII: “Apresento-me humildemente. Venho da humildade e fui educado num pobreza alegre e abençoada. A Providência trouxe-me da minha terra natal e fez-me percorrer os caminhos do mundo: sempre mais preocupado com aquilo que une do que com aquilo que separa e suscita contrastes”.

João Paulo II, foi o Papa da nossa geração. Marcou-nos pelos seus gestos, pelo carisma que nos transmitia como Pastor Universal da Igreja. Foi eleito Papa a 16 de Outubro de 1978, sucedendo a João Paulo I, o Papa do sorriso, que bem me recordo e que teve um mês de Pontificado.

Tinha eu 20 anos nessa altura.

 

 

Ninguém ficava indiferente ao observar a força espiritual de João Paulo II nas suas viagens apostólicas a várias nações, com o objetivo de anunciar o Evangelho de Jesus Cristo.

Nas suas viagens, galvanizava multidões que certamente sentiam a necessidade de estar próximo de um homem de Deus, que inspirava confiança e segurança nos seus gestos, no anúncio de Jesus Cristo e no amor que manifestava à Igreja e a toda a humanidade.

Recordo com ternura as três viagens que fez a Portugal. A primeira foi em 1982, faltava-me um ano para ser padre. A visita do Papa a Portugal acontece na sequência do atentado de que foi alvo no ano anterior, precisamente no dia 13 de Maio de 1981 na Praça de São Pedro em Roma. Era uma quarta-feira, dia da audiência papal.

O Santo Padre decide vir a Portugal, visitou algumas Dioceses.

Recordo muitos momentos importantes desta visita que acompanhamos pela televisão. Recordo esta frase que proferiu no dia 12 de Maio na Capelinha das Aparições: “ Há muito pensava vir a Fátima. Desde que se deu o conhecido atentado há um ano atrás, na Praça de São Pedro, o meu pensamento voltou-se imediatamente para este Santuário. E tudo o que foi sucedendo viu claramente uma proteção de Maria”.

A segunda visita a Portugal aconteceu em Maio de 1991. Neste mesmo ano, no Tempo da Quaresma, tivemos a graça de receber a Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima nas Ouvidorias de Nordeste e dos Fenais da Ajuda.

A visita da Imagem Peregrina marcou muito as Comunidades cristãs e foi muito bem preparada por todos nós, padres e leigos. Precisamente neste ano, e pela primeira vez na história dos Açores, vem um Papa visitar esta região de Portugal.

Foi no dia 11 de Maio que João Paulo II visitou a Terceira, onde celebrou a Eucaristia e, de tarde, veio a São Miguel, onde presidiu a uma Celebração da Palavra no Campo de São Francisco de Ponta Delgada.

O Campo de São Francisco estava cheio de povo com muitos jovens, com um grande coral, muitos sacerdotes, bispos e autoridades de Portugal e da Região. Guardo este momento na minha memória com muito carinho e muita ternura.

Tive a felicidade de proclamar o Evangelho nesta Celebração. Foi um momento inesquecível.

 

 

A terceira viagem de João Paulo II a Portugal foi no ano 2000. Veio a Fátima para beatificar os Pastorinhos, Francisco e Jacinta Marto. Estava em Fátima, quando o Santo Padre chegou à Cova da Iria na tarde do dia 12 de Maio. Foi impressionante a sua chegada àquele lugar e no meio de uma multidão incontável, que o aclamava com tanto carinho e tanto amor.

Sentíamos de maneira intensa que ali estava o Sucessor de Pedro e Pastor Universal de toda a Igreja de Jesus Cristo. Quando Papa entrou na Capelinha, entregou um anel episcopal a Nossa Senhora que lhe tinha sido oferecido pelo Cardeal Wyszynski de Varsóvia e Primaz da Polónia. Houve um momento de recolhimento e de um silêncio tão sublime, tão profundo e tão eloquente.

Neste momento, inundava na nossa interioridade uma densidade de sentimentos que é difícil exprimir.

Sentia-se ali a força de um encontro único e com um misto de presença de Cristo com os seus discípulos; Maria, com os seus filhos; O Santo Padre como pai a exercer a sua paternidade espiritual sobre todos nós; a ação do Espírito a inflamar os corações de todos e o mistério da Igreja bem visível, que somos nós, as pedras vivas.

Foi impressionante este momento.

No dia 13 de Maio, o Papa celebrou a Eucaristia para uma grande multidão de peregrinos. Muitos bispos e padres concelebraram. Concelebraram também os nossos Bispos D. António e D. Aurélio, Bispo Emérito e alguns sacerdotes da nossa Diocese.

O Papa em plena Celebração fez o ato de Beatificação dos Pastorinhos de Fátima. Todo o recinto estava completamente cheio. No momento da comunhão era impressionante ver as pessoas a comungar com as lágrimas nos olhos, sentindo a necessidade de estar com Jesus Cristo.

Nesta hora de Graça, ofereço este singelo testemunho e que me fez refrescar a memória de momentos únicos na minha vida.

Que Deus nos abençoe, Maria nos proteja e João XXIII e João Paulo II intercedam junto de Deus por todos nós.

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