O mundo precisa de “uma comunicação mais aberta a partir do coração e sem polarizações” afirma Diretor do Serviço das Comunicações Sociais da diocese de Angra

Igreja celebra 57º Dia Mundial das Comunicações Sociais

O padre Ricardo Henriques afirma que, numa altura em que as “tensões e polarizações” inundam a vida quotidiana, são necessárias “testemunhas do coração”.

“Numa altura em que há grande agressividade, com tantas e denominadas fake news, e as pessoas se tratam mal, bastaria amar para falar a partir do coração” refere o sacerdote a propósito da mensagem do papa Francisco para o 57º Dia Mundial da Comunicação Social que hoje a Igreja assinala.

“ Vejo esta mensagem como uma mensagem dirigida aos jornalistas mas também a todas as pessoas no sentido de se perder alguma agressividade; comunicar cordialmente diz respeito a todos e tem fundamentação bíblica” refere o sacerdote que é também reitor do Santuário de Nossa Senhora da Conceição em Angra do Heroísmo.

“Falar com o coração: Testemunhando a verdade no amor”, inspirado numa passagem da carta de São Paulo aos Efésios (Ef 4,15), é o tema escolhido pelo Papa Francisco para a mensagem do 57.º Dia Mundial das Comunicações Sociais, em ligação ao de 2022 – ‘Escutar com o ouvido do coração’ – e insere-se no processo sinodal 2021-2024.

“Quando o Papa fala do episódio de Emaús também quer fazer pedagogia: Jesus propõe-se aos discípulos e não se impõe,  para que eles possam compreender em profundidade o que aconteceu com a sua pessoa, no que respeita à paixão que os deixou muito inquietos. Tudo isso é um sinal de que é preciso falar com o coração, também na Igreja”, refere ainda o sacerdote.

“O modo como estamos na Igreja e em igreja leva-nos a falar e a escutar com o coração. É uma maneira de serenar os ânimos e de promover a paz que é tão necessária”, diz ainda.

“A paz que buscamos para o mundo é a mesma paz que desejamos na comunicação” acrescenta.

“Nós vemos uma agressividade de pessoa a pessoa, nas redes sociais, e isso reflete-se nas notícias e as notícias são o reflexo daquilo que é a sociedade”, enfatiza lembrando que falar com o coração “não impede que se diga a verdade e se seja imparcial na construção das notícias”.

Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais 2023 aponta a “novas formas e modalidades para o anúncio”

O Papa apela a uma escuta “sem preconceitos”, que permita “falar com o coração no processo sinodal”, em curso na Igreja Católica.

“Duma escuta sem preconceitos, atenta e disponível, nasce um falar segundo o estilo de Deus, que se sustenta de proximidade, compaixão e ternura. Na Igreja, temos urgente necessidade duma comunicação que inflame os corações, seja bálsamo nas feridas e ilumine o caminho dos irmãos e irmãs”, escreve Francisco, num texto intitulado “Falar com o coração: Testemunhando a verdade no amor”, que se inspira numa passagem da carta de São Paulo aos Efésios (Ef 4,15).

“Sonho uma comunicação eclesial que saiba deixar-se guiar pelo Espírito Santo, gentil e ao mesmo tempo profética, capaz de encontrar novas formas e modalidades para o anúncio maravilhoso que é chamada a proclamar no terceiro milénio”, assume o Papa.

Francisco acrescenta que esta comunicação tem de colocar no seu centro “centro a relação com Deus e com o próximo, especialmente o mais necessitado” e esteja “mais preocupada em acender o fogo da fé do que em preservar as cinzas duma identidade autorreferencial”.

“Uma comunicação, cujas bases sejam a humildade no escutar e o desassombro no falar e que nunca separe a verdade do amor”, prossegue.

Não devemos ter medo de proclamar a verdade, por vezes incómoda, mas de o fazer sem amor, sem coração. Com efeito o programa do cristão – como escreveu Bento XVI – é ‘um coração que vê’. Trata-se de um coração que revela, com o seu palpitar, o nosso verdadeiro ser e, por essa razão, deve ser ouvido”.

O Dia Mundial das Comunicações Sociais é a única celebração do género estabelecida pelo Concílio Vaticano II, no decreto ‘Inter Mirifica’, em 1963; assinala-se, em cada ano, no domingo antes do Pentecostes – 21 de maio, em 2023.

A mensagem para a celebração é tradicionalmente publicada a 24 de janeiro, dia da memória litúrgica de São Francisco de Sales (1567-1622), padroeiro dos jornalistas.

O Papa apresenta o bispo e doutor da Igreja – a quem dedicou a 28 de dezembro de 2022 a Carta Apostólica Totum amoris est, nos 400 anos da sua morte – como “um dos exemplos mais luminosos e, ainda hoje, fascinantes deste falar com o coração”.

“Para ele, a comunicação nunca deveria reduzir-se a um artifício, a uma estratégia de marketing – diríamos nós hoje –, mas era o reflexo do íntimo, a superfície visível dum núcleo de amor invisível aos olhos”, escreve.

Em 2023 celebra-se o centenário da proclamação de São Francisco de Sales como padroeiro dos jornalistas católicos, feita por Pio XI com a Encíclica ‘Rerum omnium perturbationem’.

“Mente brilhante, escritor fecundo, teólogo de grande profundidade, Francisco de Sales foi bispo de Genebra no início do século XVII, em anos difíceis marcados por animadas disputas com os calvinistas. A sua mansidão, humanidade e predisposição a dialogar pacientemente com todos, e de modo especial com quem se lhe opunha, fizeram dele uma extraordinária testemunha do amor misericordioso de Deus”, escreve Francisco.

O Papa cita o doutor da Igreja e “santo da ternura” para afirmar: “Somos aquilo que comunicamos”.

“Uma lição contracorrente hoje, num tempo em que, como experimentamos particularmente nas redes sociais, a comunicação é muitas vezes instrumentalizada para que o mundo nos veja, não por aquilo que somos, mas como desejaríamos ser”, precisa.

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