Papa alerta cardeais para tentação de verem nova missão como uma “distinção”

O Papa presidiu hoje no Vaticano ao sétimo consistório do seu pontificado, alertando os novos cardeais para a tentação de verem nesta nova missão uma “distinção”.

“Com os pés, com o corpo, podemos estar com Jesus, mas o nosso coração pode estar longe e levar-nos para fora do caminho. Assim, por exemplo, o vermelho purpúreo das vestes cardinalícias, que é a cor do sangue, pode tornar-se, para o espírito mundano, a cor duma distinção eminente”, declarou, na homilia da celebração, com limitações impostas pela Covid-19.

Francisco disse aos cardeais que devem estar “vigilantes” para permanecer no caminho de Jesus Cristo, “força e sentido” da sua vida e do seu ministério.

A homilia centrou-se numa passagem do Evangelho de São Marcos (10, 32-45) em que Jesus Cristo questiona os seus discípulos sobre pretensões de poder, afirmando que devem ser “servos de todos”.

“Também nós, Papa e Cardeais, devemos espelhar-nos sempre nesta Palavra de verdade. É uma espada afiada: corta, é dolorosa, mas ao mesmo tempo cura-nos, liberta-nos, converte-nos. A conversão é precisamente isto: sair de fora do caminho, ir para o caminho de Deus”, apontou.

O consistório foi anunciado pelo Papa a 25 de outubro e a lista de 13 cardeais inclui nove eleitores (cardeais com menos de 80 anos de idade) num eventual conclave, com responsáveis da Cúria Romana, arcebispo de várias partes do mundo, do Ruanda ao Brunei, e o guardião da comunidade franciscana de Assis.

Dois dos novos cardeais não se puderam deslocar até Roma, por causa da pandemia: D. Cornelius Sim, vigário apostólico de Brunei, e D. José F. Advincula, arcebispo de Capiz, nas Filipinas.

Ambos receberão o barrete, o anel e a bula com o título cardinalício através de um representante do Papa.

A celebração na Basílica de São Pedro teve uma participação limitada a cerca de 100 pessoas; o consistório seguiu o seu ritual habitual, com exceção do abraço da paz, suprimido pelo atual contexto pandémico.

Uma plataforma digital permitiu que os outros membros do Colégio Cardinalício  acompanhassem o consistório.

A cerimónia começou com um momento de oração em silêncio, do Papa, diante do altar da Confissão, sobre o túmulo do apóstolo São Pedro, seguindo-se a saudação do primeiro dos novos cardeais, D. Mario Grech, secretário-geral do Sínodo dos Bispos

Francisco leu a fórmula de criação e proclamou em latim os nomes dos cardeais, para os unir com “um vínculo mais estreito” à sua missão; seguiu-se a profissão de fé e o juramento dos novos cardeais, de fidelidade e obediência ao Papa e seus sucessores.

Cada um dos novos cardeais ajoelhou-se, depois, para receber o barrete cardinalício, de acordo com a ordem de criação.

Francisco entregou ainda um anel aos cardeais para que se “reforce o amor pela Igreja”, seguindo-se a atribuição a cada cardeal uma igreja de Roma – que simboliza a participação na solicitude pastoral do Papa na cidade -, bem como a bula de criação cardinalícia.

Cada cardeal é inserido na respetiva ordem (episcopal, presbiteral ou diaconal), uma tradição que remonta aos tempos das primeiras comunidades cristãs de Roma, em que os cardeais eram bispos das igrejas criadas à volta da cidade (suburbicárias) ou representavam os párocos e os diáconos das igrejas locais.

Por causa da pandemia, não se vão realizar as habituais visitas de cortesia nas salas do Palácio Apostólico e do auditório Paulo VI, após o consistório.

No domingo, os novos cardeais presentes em Roma vão celebrar a Missa com Francisco, na Basílica de São Pedro, pelas 10h00 locais (menos uma em Lisboa).

(Com Ecclesia)

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