Papa alerta contra “funcionalismo” e “pragmatismo” na vida dos padres

O Papa alertou hoje contra o “funcionalismo” e a sujeição ao “pragmatismo dos números” na vida dos padres, falando durante a celebração da Missa Crismal, a que presidiu na Basílica de São Pedro.

“A mentalidade funcionalista não tolera o mistério, aposta na eficácia. Pouco a pouco, este ídolo vai substituindo em nós a presença do Pai”, referiu, na homilia que proferiu, perante os patriarcas, cardeais, arcebispos, bispos e sacerdotes presentes em Roma.

Francisco advertiu para os espaços de “idolatria escondida”, no interior de cada um, destacando que o funcionalismo é “um ambiente sedutor”, que se centra no “poder, programas, números, planos pastorais”.

“O funcionalista não sabe alegrar-se com as graças que o Espírito derrama sobre o seu povo e das quais poderia também alimentar-se como trabalhador que recebe a sua recompensa; mas o sacerdote com mentalidade funcionalista tem o seu alimento que é o próprio eu”, apontou.

A intervenção questionou ainda os sacerdotes que vivem em função do “pragmatismo dos números”, do “amor pelas estatísticas”, que podem apagar “qualquer traço pessoal no debate e dar a proeminência às maiorias, que passam a ser, em última análise, o critério de discernimento”.

“As pessoas não se podem reduzir a números”, insistiu o pontífice, para quem é preciso fugir da sensação de “controlo” de uma lógica “que não se interessa pelos rostos e não é a lógica do amor”.

“Nestes dois últimos espaços de idolatria escondida (pragmatismo dos números e funcionalismo) substituímos a esperança, que é o espaço do encontro com Deus, pela constatação empírica”, acrescentou.

Trata-se duma atitude de vanglória por parte do pastor, uma atitude que desintegra a união do seu povo com Deus e plasma um novo ídolo baseado em números e programas”.

Num dia em que a Igreja Católica inicia o Tríduo Pascal, evocando a instituição da Eucaristia e do sacerdócio, Francisco disse que ser sacerdote “é uma graça muito grande”, que se destina, em primeiro lugar, aos fiéis e ao seu serviço.

“Não há recompensa maior do que a amizade com Jesus, não nos esqueçamos disto. Não há paz maior do que o seu perdão, sabemo-lo todos. Não há preço mais elevado do que o seu precioso sangue: não permitamos que seja desprezado com uma conduta indigna”, declarou.

O Papa convidou os presentes a reservar, diariamente, espaço para a oração e o exame de consciência, para detetar “ídolos escondidos”, como o da “mundanidade espiritual”.

“O seu critério é o triunfalismo, um triunfalismo sem Cruz. E Jesus reza para que o Pai nos defenda desta cultura da mundanidade”, precisou.

Francisco foi particularmente crítico, nesta questão, afirmando que “um sacerdote mundano não passa dum pagão clericalizado”.

“Queridos irmãos, Jesus é o único caminho para não nos enganarmos no conhecimento do que sentimos e para onde nos leva o nosso coração; é o único caminho para um bom discernimento, confrontando-nos dia-a-dia com Jesus como se Ele estivesse também hoje sentado na nossa igreja paroquial”, disse.

A intervenção concluiu-se com uma oração a São José, pedindo-lhe que liberte todos da “avidez de possuir, pois esta – a avidez de possuir – é o terreno fecundo onde crescem estes ídolos”.

Após a homilia, os concelebrantes renovam as promessas sacerdotais e o Papa abençoa o óleo dos catecúmenos e enfermos e consagra o do crisma, usado tanto na administração dos sacramentos do Batismo e da Confirmação como nas ordenações ou na consagração de uma igreja.

(Com Ecclesia)

 

Scroll to Top