Papa assinala Dia Mundial contra tráfico de pessoas, falando em «ferida» na humanidade

Vaticano alerta para «terrível aumento» da exploração, durante o confinamento

O Papa assinalou hoje o Dia Mundial contra o tráfico de pessoas, considerando que esta é “uma ferida no corpo da humanidade contemporânea”.

“Agradeço de coração a todos aqueles que trabalham em favor das vítimas inocentes desta comercialização da pessoa humana. Há muito ainda a ser feito”, escreveu Francisco, no Twitter, numa mensagem acompanhada pelo hashtag ‘#EndHumanTrafficking’.

A secção Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral (Santa Sé) dedica o seu mais recente relatório à questão do tráfico e exploração de homens, mulheres e crianças vítimas de trabalho forçado, prostituição ou tráfico de órgãos.

Segundo dados da ONU, cerca de 40 milhões de pessoas são vítimas do tráfico de seres humanos; 71% do total são mulheres e meninas.

O cardeal Michael Czerny, subsecretário da secção Migrantes e Refugiados, refere ao portal do Vaticano que nestes meses de pandemia “houve um terrível aumento do tráfico”.

“Isso deve escandalizar-nos”, sustenta.

O responsável indica que as raízes do problema estão “nas casas, nos corações das pessoas, dos cidadãos”, como fica provada no recente período de confinamento.

“Esta conexão entre o tráfico e a vida aparentemente normal de pessoas aparentemente normais é um grande escândalo que nos deve fazer refletir, pedir perdão a Deus, para procurar a conversão necessária para reduzir e eliminar a procura, que é o motor do tráfico”, afirma o cardeal Czerny.

A resposta da Igreja Católica neste campo está concentrada na rede ‘Talitha Kum’, que reúne religiosas de todo o mundo contra o tráfico de pessoas.

A irmã Gabriella Bottani, coordenadora internacional da organização, salienta que as condições de vulnerabilidade estão a aumentar e afetam mais pessoas, especialmente por causa de situações de pobreza extrema.

A rede ‘Thalita Khum’ sublinha ainda que a violência doméstica contra mulheres e crianças está a aumentar durante a pandemia.

A irmã Marinês Biasibetti, secretária-geral da Comissão Episcopal para Migrantes, Refugiados e Pessoas Deslocadas (CEMIRDE) de Moçambique, denuncia em entrevista ao boletim da secção Migrantes e Refugiados que “nos últimos meses, tem havido vários casos de extração de órgãos e venda de crianças albinas na região centro do país”.

A religiosa destaca ainda que os ataques armados nas regiões norte e centro de Moçambique estão a originar deslocamentos em massa de pessoas.

“Nesta mobilidade, podem estar criadas condições favoráveis para a ocorrência de casos de tráfico, pelo que a CEMIRDE intensificará as suas ações na comunidades e estruturas locais para estarem atentas a esta problemática”, indica a irmã Marinês Biasibetti.

Já a irmã Milagros García, coordenadora da Comissão Local de Migrações da Diocese de Mindelo, abordou os projetos de assistência a vítimas de tráfico e exploração em Cabo Verde.

“O nosso principal trabalho na Ilha de São Vicente é com mulheres na prostituição ou em risco sério de exclusão, embora também atuemos no aumento da consciencialização e deteção de jovens traficadas”, explicou.

(Com Ecclesia)

 

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