Papa condiciona visita a Kiev a “objetivos superiores” da paz e da ajuda humanitária

O Papa disse que uma eventual visita a Kiev, no atual cenário de guerra, poderia colocar em risco os “objetivos superiores” da sua ação e da diplomacia da Santa Sé.

“Não posso fazer nada que coloque em risco objetivos superiores, que são o fim da guerra, uma trégua ou, pelo menos, um corredor humanitário. De que serviria que o Papa fosse a Kiev, se a guerra continuasse no dia seguinte?”, refere, numa entrevista ao jornal argentino ‘La Nación’.

Francisco fala das várias iniciativas que tomou, durante os últimos dois meses, e assume que “gostaria de fazer alguma coisa para que não haja nem mais uma morte na Ucrânia”.

“Nem uma. E estou disposto a fazer tudo”, acrescenta.

Questionado sobre o facto de nunca ter condenado explicitamente Vladimir Putin ou a Rússia, o pontífice explica que “um Papa nunca nomeia um chefe de Estado e, muito menos, um país, que está acima do seu chefe de Estado”.

“O Vaticano não descansa nunca. Não posso contar os detalhes, porque deixariam de ser negociações diplomáticas, mas as tentativas não param nunca”, acrescentou.

A entrevista abordou a visita do Papa à Embaixada da Rússia junto da Santa Sé, a 25 de fevereiro, um dia depois do início do conflito.

“Fui sozinho, não quis que ninguém me acompanhasse. Foi uma responsabilidade pessoal, minha, uma decisão que tomei numa noite em branco, pensando na Ucrânia. É claro, para quem o quer ver, que estava a sinalizar o Governo que pode pôr fim à guerra no instante seguinte”, indicou.

Francisco disse que qualquer guerra é “anacrónica” e explica que o beijo à bandeira da Ucrânia, vinda da cidade da Bucha, no Vaticano, foi “um gesto de solidariedade com os mortos, as suas famílias e com o que sofrem a migração”.

A conversa aborda a reunião que estava a ser preparada para junho, em Jerusalém, entre o Papa e o patriarca Cirilo, de Moscovo (Igreja Ortodoxo), a primeira depois do histórico encontro dos dois responsáveis em 2016, na cidade cubana de Havana.

Segundo Francisco, o Vaticano teve de abdicar da ideia, por entender que “uma reunião entre os dois, neste momento, poderia prestar-se a muitas confusões”.

O Papa diz “lamentar” que se tenha suspendido este encontro, destacando que tem uma relação “muito boa” com Cirilo.

“Quando era arcebispo de Buenos Aires, reuni cristãos, judeus e muçulmanos num diálogo fecundo. Foi uma das iniciativas de que mais me orgulho. É a mesma política que promovo no Vaticano”, prosseguiu.

Já D. Visvaldas Kulbokas, núncio apostólico (embaixador da Santa Sé) em Kiev, disse à Rádio Renascença que seria “difícil preparar um programa completo de longa duração de uma visita do Papa”.

“Seria sempre um sinal de proximidade. Mas, normalmente, quando ele vem temos que tentar preparar e criar condições para ser entendido. Caso contrário, o que estaria a fazer aqui? Precisamos, não apenas da mensagem, mas como de transmitir essa mensagem”, observou.

(Com Ecclesia)

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