Papa criou D. José Tolentino Mendonça como cardeal

Celebração incluiu entrega do barrete vermelho, anel e bula de nomeação

O Papa Francisco pronunciou hoje pelas 16h27 (menos duas nos Açores) o nome do arcebispo português D. José Tolentino como novo cardeal da Igreja Católica, numa cerimónia que decorreu na Basílica de São Pedro.

A celebração começou com um momento de oração em silêncio, do Papa, diante do altar da Confissão, sobre o túmulo do apóstolo São Pedro, seguindo-se a saudação dos novos cardeais, antes de uma oração proferida por Francisco, a leitura do Evangelho e a homilia.

Após esta intervenção, o Papa leu a fórmula de criação e proclamou em latim os nomes dos cardeais, para os unir com “um vínculo mais estreito” à sua missão; seguiu-se a profissão de fé e o juramento dos novos cardeais, de fidelidade e obediência ao Papa e seus sucessores.

Cada um dos novos cardeais ajoelhou-se para receber o barrete cardinalício, de acordo com a ordem de criação: D. José Tolentino Mendonça foi o segundo dos 13 prelados presentes.

Francisco entregou ainda um anel aos cardeais para que se “reforce o amor pela Igreja”, seguindo-se a atribuição a cada cardeal uma igreja de Roma – que simboliza a “participação na solicitude pastoral do Papa” na cidade -, bem como a entrega da bula de criação cardinalícia, momento selado por um abraço de paz.

No anel cardinalício são evocadas as colunas da Basílica de São Pedro, a cruz e os apóstolos Pedro e Paulo.

D. José Tolentino Mendonça foi criado cardeal-diácono, recebendo a igreja de São Jerónimo da Caridade (em latim, Sancti Hieronymi a Caritate in via Iulia), na Via Júlia, de Roma, uma diaconia instituída em 5 de fevereiro de 1965 pelo Papa Paulo VI.

Cada cardeal é inserido na respetiva ordem (episcopal, presbiteral ou diaconal), uma tradição que remonta aos tempos das primeiras comunidades cristãs de Roma, em que os cardeais eram bispos das igrejas criadas à volta da cidade (suburbicárias) ou representavam os párocos e os diáconos das igrejas locais.

D. José Tolentino Mendonça nasceu em Machico (Arquipélago da Madeira) em 1965, tendo sido ordenado padre em 1990 e bispo a 28 de julho de 2018; foi reitor do Pontifício Colégio Português, em Roma, diretor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa e diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, da Igreja Católica em Portugal.

A 26 de junho de 2018, o Papa nomeou D. José Tolentino Mendonça como arquivista do Arquivo Secreto do Vaticano e bibliotecário da Biblioteca Apostólica, elevando-o à dignidade de arcebispo; o até então vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa orientou nesse ano o retiro de Quaresma do Papa Francisco e seus mais diretos colaboradores.

D.José Tolentino Mendonça, comendador da Ordem do Infante D. Henrique, título que lhe foi atribuído em 2001 pelo ex-presidente da República Jorge Sampaio, e da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, atribuída por Aníbal Cavaco Silva, antigo chefe de Estado.

Dezenas de portugueses acompanharam a criação cardinalícia de D. José Tolentino Mendonça no Vaticano, onde marcaram presença a ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, e o presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque.

Portugal teve até hoje com 46 cardeais, a começar pelo chamado Mestre Gil, escolhido pelo Papa Urbano IV (1195- 1264).

 

O desafio do Papa

 

O Papa Francisco disse, na homilia aos novos cardeais, entre eles D. José Tolentino Mendonça, que devem ser homens de “compaixão”, atentos a todos as pessoas, em particular os “descartados” da sociedade.

“A disponibilidade de um purpurado para dar o seu próprio sangue – significado na cor vermelha das suas vestes – é certa, quando está enraizada nesta consciência de ter recebido compaixão e na capacidade de ter compaixão. Caso contrário, não se pode ser leal”, referiu, na homilia do consistório público a que presidiu, na Basílica de São Pedro.

Perante 13 novos cardeais, Francisco declarou que “muitos comportamentos desleais de homens de Igreja” se ligam à “falta deste sentimento da compaixão recebida e do hábito de passar ao largo, do hábito da indiferença”.

“Jesus vai procurar as pessoas descartadas, aquelas que já estão sem esperança”, recordou.

O Papa lamentou que, muitas vezes, os discípulos de Jesus mostrem “não sentir compaixão”, uma atitude “comum” nos seres humanos, “mesmo em pessoas religiosas ou até ligadas ao culto”.

“A função que desempenhamos não basta para nos fazer compassivos”, advertiu.

Francisco observou que, muitas vezes, se encontram “justificações” para a falta de compaixão, dando “origem a «descartados institucionais»” e a “estruturas de não-compaixão”, que são a saída mais fácil, “quando um homem de Igreja se torna um funcionário”.

O Papa questionou os presentes sobre a sua consciência de serem “objeto da compaixão de Deus?”, o tema que inspirou a carta que enviou, a 1 de setembro, após o anúncio do consistório, a cada um dos nomeados.

“Dirijo-me em particular a vós, irmãos já Cardeais ou próximo a sê-lo: está viva em vós esta consciência?”, prosseguiu.

Segundo Francisco, este é um “requisito essencial” para a vida cristã.

“Peçamos hoje, por intercessão do apóstolo Pedro, a graça dum coração compassivo, para ser testemunhas daquele que nos olhou com misericórdia, escolheu, consagrou e enviou para levar a todos o seu Evangelho de salvação”, concluiu.

Os 10 novos cardeais eleitores (por ordem de anúncio pontifício, a 1 de setembro) criados no sexto consistório do atual pontificado são Miguel Angel Ayuso Guixot, mccj – presidente do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso (Santa Sé); José Tolentino Mendonça – arquivista e bibliotecário da Santa Sé; Ignatius Suharyo Hardjoatmodjo – arcebispo de Jacarta, Indonésia; Juan de la Caridad García Rodríguez – arcebispo de Havana, Cuba; Fridolin Ambongo Besungu, o.f.m. cap – arcebispo de Kinshasa, República Democrática do Congo; Jean-Claude Höllerich, sj – arcebispo do Luxemburgo; Alvaro L. Ramazzini Imeri – bispo de Huehuetenamgo, Guatemala; Matteo Zuppi – arcebispo de Bolonha, Itália; Cristóbal López Romero, sdb – arcebispo de Rabat, Marrocos; Michael Czerny, sj – subsecretário da secção ‘Migrantes’ do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral (Santa Sé)

O Papa vai ainda criar três cardeais com mais de 80 anos: Michael Louis Fitzgerald – presidente emérito do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso; Sigitas Tamkevicius, sj – arcebispo emérito de Kaunas, Lituânia; Eugenio Dal Corso, psdp – bispo emérito de Benguela, Angola.

No domingo, pelas 10h00 locais (menos uma em Lisboa), vai decorrer uma celebração eucarística na Basílica de São Pedro, para a abertura solene da assembleia especial do Sínodo dos Bispos sobre a Amazónia.

Após o Consistório, Francisco e os novos cardeais vão cumprimentar o Papa emérito Bento XVI, com quem rezaram no Mosteiro Mater Ecclesiae, onde este reside.

A chamada ‘visita de cortesia’ aos novos cardeais vai decorrer entre as 18h00 e as 20h00 locais (menos uma em Lisboa); no caso do cardeal português, tem lugar no espaço da Sala Régia, do Palácio Apostólico.

Biblista, investigador, poeta e ensaísta, o novo cardeal foi nomeado a 1 de setembro e é o sexto prelado português a integrar o Colégio Cardinalício no século XXI, o terceiro no atual pontificado.

 

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