Papa desafia jovens a ser influenciadores do século XXI ao jeito de Maria

JMJ do Panamá terminam hoje, com a expetativa de que a Cruz da Jornada Mundial da Juventude venha para Lisboa

As Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ) terminam hoje na Cidade do Panamá com uma missa na qual o papa Francisco vai anunciar qual a próxima cidade a acolher a iniciativa, havendo a expectativa de que possa ser a capital portuguesa.
Na celebração, com milhares de jovens de todo o mundo, que começa às 08:00 locais (mais quatro horas nos Açores), vão estar o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, o secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Rebelo, em representação do Governo, e o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina.
Do episcopado português vão estar presentes, entre outros, o cardeal-patriarca de Lisboa, Manuel Clemente.

Marcelo Rebelo de Sousa manifestou, por diversas ocasiões, o desejo de que as JMJ tivessem como palco Lisboa.

“Aquilo que eu espero, não é só esperar, o que eu desejo é que no domingo [hoje] seja possível ouvir da boca do santo padre, do papa Francisco, o anúncio de que as próximas jornadas, em junho de 2022, possam vir a ser realizadas em Lisboa, em Portugal”, disse o chefe de Estado português.

Já na sexta-feira, ao chegar à Cidade do Panamá, a convite do seu homólogo panamiano, Marcelo Rebelo de Sousa destacou a presença de muitos jovens portugueses e “muito grande de episcopado português”, além da “muito significativa” imagem peregrina de Fátima.

O papa Francisco chegou à Cidade do Panamá na quarta-feira e, no dia seguinte, lançou um apelo contra “qualquer forma de corrupção na política” e instou a uma cultura de transparência nos governos e no setor privado, no seu primeiro discurso perante as autoridades do país.

No mesmo dia, no primeiro encontro com os jovens, apelou aos jovens para acabarem com os discursos que semeiam a divisão;  criticou os construtores de muros e pediu aos mais novos para serem construtores de pontes.

As migrações foi outro tema a marcar a deslocação do Papa, que assumiu a defesa dos migrantes que “não são portadores de um mal social” na América Central, de onde partem caravanas para os Estados Unidos da América, para fugir à violência, à fome e à miséria.

A questão dos abusos sexuais foi também referida pelo papa Francisco, reconhecendo que a Igreja Católica, “ferida pelo pecado”, não soube ouvir.

Na Vigília de oração, na noite de sábado, dia 26 de janeiro, o Papa desafiou os jovens a serem os “influencers” do século XXI ao jeito de Maria.

O Papa Francisco apresentou a Virgem Maria como modelo para os jovens, brincando com vários termos e conceitos associados às redes sociais.

Francisco chegou mesmo a dizer que Maria foi a maior das “influencers” da história. isto é, grandes figuras do mundo das redes sociais, capazes de influenciar modas, opiniões e tendências.

O Papa começou por dizer aos jovens que a vida que Jesus nos quer dar é muito diferente daquilo a que esta geração está habituada. “Essa vida não é uma salvação suspensa na nuvem à espera de ser descarregada, nem uma nova aplicação para descobrir ou um exercício mental fruto de técnicas de crescimento pessoal. Nem sequer um tutorial com o qual apreender as últimas novidades. A salvação, que o Senhor nos dá, é um convite para participar numa história de amor, que está entrelaçada com as nossas histórias; que vive e quer nascer entre nós, para podermos dar fruto onde, como e com quem estivermos.”

“Foi assim que surpreendeu Maria, convidando-a para fazer parte desta história de amor. Sem dúvida, a jovem de Nazaré não aparecia nas redes sociais de então, não era uma ‘influencer’, mas, sem querer nem procurá-lo, tornou-Se a mulher que maior influência teve na história”, disse Francisco.

“Maria, a ‘influencer’ de Deus. Com poucas palavras, soube dizer ‘sim’, confiando no amor e nas promessas de Deus, única força capaz de fazer novas todas as coisas.”

O mundo não é só para os fortes

Antes de falar o Papa ouviu os testemunhos de um grupo de jovens que estão a participar na Jornada Mundial da Juventude, no Panamá. Um dos testemunhos foi do casal Erika e Rogelio, que tiveram recentemente uma filha com deficiência, chamada Inês.

Dirigindo-se ao casal, o Papa disse: “Compartilhastes os vossos medos, dificuldades e todo o risco que vivestes à espera da vossa filha Inês. A dada altura dissestes: ‘A nós, pais, por várias razões, custa muito aceitar a chegada dum bebé portador de doença ou deficiência’. Isso é verdade e compreensível! O facto surpreendente, porém, encerra-se naquilo que acrescentastes: ‘Quando nasceu a nossa filha, decidimos amá-la com todo o nosso coração’.”

“Antes da sua chegada, perante todas as notícias e dificuldades que surgiram, tomastes uma decisão e dissestes como Maria ‘faça-se em nós’, decidistes amá-la. Face à vida de vossa filha frágil, inerme e necessitada, a resposta foi um ‘sim’ e, deste modo, temos Inês. Acreditastes que o mundo não é só para os fortes!”, sublinhou Francisco.

À multidão de jovens reunidos para acompanhar Francisco nesta vigília, no Panamá, o Papa disse que “dizer ‘sim’ ao Senhor é ter a coragem de abraçar a vida como vem, com toda a sua fragilidade e pequenez e, muitas vezes, até com todas as suas contradições e insignificâncias, abraçá-la com o mesmo amor que Erika e Rogelio nos contaram. É abraçar a nossa pátria, as nossas famílias, os nossos amigos como são, mesmo com as suas fragilidades e mesquinhices.”

“Damos também provas de que se abraça a vida, quando acolhemos tudo o que não é perfeito, puro ou destilado, mas lá por isso não menos digno de amor. Porventura alguém, pelo facto de ser portador de deficiência ou frágil, não é digno de amor? Porventura alguém, pelo facto de ser estrangeiro, ter errado, encontrar-se doente ou numa prisão, não é digno de amor?”

Só o que se ama pode ser salvo

Continuando o seu discurso, o Papa sublinhou a importância do amor na história da salvação, apesar de todas as fraquezas dos homens.

“Só o que se ama, pode ser salvo. Só o que se abraça, pode ser transformado. O amor do Senhor é maior que todas as nossas contradições, fragilidades e mesquinhices, mas é precisamente através das nossas contradições, fragilidades e mesquinhices que Ele quer escrever esta história de amor.”

Um dos grandes dramas da humanidade atual, disse Francisco, está precisamente naqueles, incluindo muitos jovens, que não se sentem amados por Deus, muitas vezes porque não se sentem amados ou reconhecidos pelos seus pares.

“Como hão de pensar que Deus existe se, para seus irmãos, há muito que deixaram de existir? Bem sabemos que não basta estar conectado o dia inteiro para se sentir reconhecido e amado. Sentir-se considerado e convidado para algo é mais do que permanecer ‘em rede’. Significa encontrar espaços onde possais, com as vossas mãos, com o vosso coração e com a vossa cabeça, sentir-vos parte duma comunidade maior que precisa de vós e, vice-versa, vós precisais dela também.”

O Papa deixou assim um desafio aos jovens presentes na JMJ, e em todo o mundo, para assumirem como sua a missão de promover uma cultura que respeita a dignidade de todos. “Dizer ‘sim’ a esta história de amor é dizer ‘sim’ como instrumentos para construir, nos nossos bairros, comunidades eclesiais capazes de percorrer as estradas da cidade, abraçando e tecendo novas relações. Ser um ‘influencer’ no século XXI significa ser guardião das raízes, guardião de tudo aquilo que impede a nossa vida de tornar-se ‘gasosa’, evaporando-se no nada. Sede guardiões de tudo o que permite sentir-nos parte uns dos outros, pertencer-nos mutuamente.”

A vigília dos jovens com o Papa Francisco foi um dos pontos altos da Jornada Mundial da Juventude. Outro é a missa de envio, este domingo de manhã, altura em que Francisco anunciará o local onde se realizará a próxima jornada, com Lisboa na expetativa.

As JMJ são um encontro de jovens de todo o mundo com o papa, num ambiente festivo, religioso e cultural.

Eleito papa em 13 de março de 2013, sucedendo a Bento XVI, Francisco fez a sua primeira viagem apostólica ao estrangeiro, precisamente numas JMJ, quatro meses depois, no Rio de Janeiro, Brasil.

O papa presidiu ainda às JMJ de 2016, em Cracóvia, Polónia, e agora na Cidade do Panamá.

(Com Ecclesia, Vatican News e RR)

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