Porque Deus quis que fossem seus pastores

Pelo Pe. Hélder Miranda Alexandre*

Eis que se cumpre mais um caminho de preparação para uma entrega total a Cristo e aos irmãos! Assim quis Deus, para que acontecesse novo sim. Fábio Filipe Silva Carvalho, filho José António Pacheco Silva e de Maria de Lurdes Pacheco Carvalho, natural da Paróquia da Matriz de Ribeira Grande, será o próximo presbítero da nossa Diocese. Chegou a hora do Seminário se “diminuir”, porque cumpriu a sua missão.

Viver uma ordenação é pensar numa multidão de ideias, deixar-se desafiar pelo que há de vir, abrir o coração a um sim imenso, deixar-se tocar pela emoção das amizades quotidianas que se deixam para que outras surjam, é apertar fortemente um crucifixo no peito, deixar correr as lágrimas de uma alegria difícil de descrever. Ei-lo entregue a um mundo maior!

Já amadurecido pelos 34 anos, recordo a sua entrada no Seminário, como se fossem passados poucos dias. Com grande humildade, foi-se afirmando paulatinamente através da sua generosidade, bonomia e capacidade de estabelecer pontes e cimentar amizades. Todos apreciam a sua presença, a sua boa gargalhada e sentido de humor. Pastoralmente dedicado, é amigo fácil de quem dele se aproxima. Sabe cheirar bem as ovelhas e estar com elas.

Numa época cada vez mais indiferente às coisas de Deus, e às coisas do “outro”, mais do que nunca importam as pessoas, as vivências concretas, as amizades autênticas. Se não se consegue levar os homens a Deus, há que tentar levar Deus aos homens. O segredo disto? Uma boa formação e espiritualidade! O famoso discurso de Paulo: “tomai cuidado convosco e com todo o rebanho” (Act 20, 28), dirigido aos anciãos de Éfeso, mostra como o próprio exercício do ministério é o espaço para sua santificação. O contágio de emoções é o modo mais eficaz para se conseguir evangelizar.

Por isso, apascentar um rebanho exige um grande esforço de vigilância sobre si mesmo e sobre o próprio rebanho. Deve-se arriscar uma ascese de comunicação, para que o presbítero seja um experto nas relações e proteja a unidade do rebanho. Daí a importância de ser perito em humanidade, porque “tão humano só Deus” (L. Boff). Perspetivando uma autêntica espiritualidade de comunhão, é também necessário chegar a ver o outro como um “dom de Deus para mim”. Rejeitando toda a lógica individualista, dever-se-ia chegar a dizer: “Vede como eles se amam”[1].

 

[1] Tertuliano, Apologeticum 39, 7.

*O Pe. Hélder Miranda Alexandre é o Reitor do Seminário Episcopal de Angra

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