Presidente da Comissão dos Episcopados da União Europeia critica política comunitária

O cardeal Jean-Claude Hollerich, presidente da Comissão dos Episcopados Católicos da União Europeia (COMECE), criticou hoje em Fátima a política comunitária para os refugiados, mostrando-se “muito preocupado”.

“É inadmissível que haja grandes concentrações de refugiados nas fronteiras”, disse o arcebispo do Luxemburgo, que vai presidir à peregrinação internacional de agosto, na Cova da Iria, dedicada aos migrantes.

Segundo o responsável católico, estas pessoas vivem em “situações desumanas”.

“Fechamos os olhos, deixamos fazer, pagamos para que as pessoas não entrem na União Europeia e, ao mesmo tempo, falamos de valores europeus”, lamentou, em conferência de imprensa.

“Temos vergonha deste discurso que é tão diferente da política real em relação aos refugiados. Mesmo os acordos internacionais não são cumpridos”.

O presidente da COMECE questionou, por exemplo, a expulsão de pessoas para as fronteiras exteriores da União Europeia sem ver quem tem direito de asilo, à luz da Convenção de Genebra.

“Isso é muito grave”, declarou.

O arcebispo do Luxemburgo sustentou que a Igreja Católica deve ser “a consciência da Europa”, alertando para as notícias diárias do Mediterrâneo, com vários mortos.

“As pessoas que estão nas embarcações perdem a fé na Europa”, indicou.

O cardeal Hollerich sublinhou que a solução não pode passar por empurrar quem tenta chegar à Europa “para a Líbia ou a Turquia”.

“Se não sabemos reagir com humanidade, perderemos a nossa própria humanidade”, advertiu.

A este respeitou, elogiou o “compromisso com os refugiados” que existe em Portugal e no Luxemburgo, país onde a Igreja Católica acolheu duas famílias do campo de Moria, uma cristã do Curdistão e uma muçulmana do Kuwait.

Questionado sobre a mensagem que traz aos participantes na peregrinação internacional de agosto, na Cova da Iria, D. Jean-Claude Hollerich deixou votos de que os peregrinos mostrem uma “fé viva”.

“Têm elementos, na sua vida, que são de uma grande beleza”, observou, falando no amor dos portugueses à família e aos vizinhos.

O arcebispo do Luxemburgo sublinhou que, por causa das pessoas com dupla nacionalidade, a presença e a influência dos portugueses no país “são maiores do que a estatística permite perceber”.

O responsável falou de uma “dupla identidade, de quem se sente português no Luxemburgo e luxemburgueses em Portugal.

O cardeal arcebispo do Luxemburgo é o presidente da peregrinação Internacional Aniversária em Fátima, que integra a Peregrinação Nacional dos Migrantes organizada pela Obra católica Portuguesa das Migrações.

Em declarações ao Sítio Igreja Açores, o diretor do Serviço da Pastoral da Mobilidade Humana, Cónego Jacinto Bento lembra que a atitude dos cristãos deve ser sempre inclusiva.

“A mensagem que deixo aos migrantes que residem nos Açores e aos emigrantes que não podem participar neste tempo de pandemia é que cada um de nós, que reside nesta região, as famílias, as comunidades, a Igreja, a sociedade, as instituições políticas e governamentais se tornem cada vez mais inclusivos”, esclarece o sacerdote, que é cónego no Patriarcado Latino de Jerusalém e pároco em São Pedro, Angra do Heroísmo.

Lembrando a mensagem do Papa Francisco para o 107º Dia do migrante e do refugiado, que se assinalará a 26 de setembro, e de que esta Semana Nacional em Portugal é uma espécie de “pórtico” para refletir sobre a condição e a situação dos migrantes em Portugal e no mundo, o cónego Jacinto Bento sublinha que “estamos todos no mesmo barco e somos chamados a empenhar-nos para que não existam mais muros que nos separem, nem existam mais os outros, mas só um nós, do tamanho da humanidade inteira e que deixem de existir periferias existenciais para os estrangeiros, os emigrantes, os marginalizados”.

De acordo com a Associação de Imigrantes dos Açores (AIPA) no arquipélago, em entre 2019 e 2020, legalizaram-se 4,9% dos migrantes residentes e 500 apresentaram manifestações de interesse e por isso aguardam legalização através de plataforma própria. Nesse período existiam 4090 migrantes residentes, de 97 nacionalidades, sendo 802 brasileiros, 501 alemães, 343 chineses, 289 dos Estados Unidos, 283 do Reino Unido.

(Com Ecclesia)

Scroll to Top