Se votar não rimou com liberdade…

Por Renato Moura.

A revolução em Abril de 74 visou reconquistar a liberdade. A nova Constituição garantiu-a formalmente, assim como o direito de livremente eleger e ser eleito. As leis eleitorais estabeleceram muitas regras para garantir a liberdade eleitoral, pilar da democracia plena.

A formalidade legal, só por si e sem respeito pelos princípios éticos, não garante a completa liberdade.

Se porventura um presidente de câmara se recandidata, se for num dos pequenos concelhos onde se conhecem todos os eleitores, se passar o dia das eleições a metros das mesas de voto da freguesia com mais eleitores, será para quê? Se for em nome da sua própria liberdade, era bom recordar Simone de Beauvoir: “Querer ser livre é também querer livres os outros”. Se a isso se adicionar uma saudação, um cumprimento, uma conversinha, certamente se obriga o eleitor a pensar em decisões e liberalidades, sendo que, segundo Jean-Jacques Rousseau “O homem nasceu livre e por toda a parte vive acorrentado” e de acordo com Mahtma Gandhi “A prisão não são as grades e a liberdade não é a rua; existem homens presos na rua e livres na prisão. É uma questão de consciência”.

Dir-se-á que perante essa situação eventual os eleitores saberiam defender-se tendo aprendido de Leon Tolstói que “Não alcançamos a liberdade buscando a liberdade, mas a verdade”, ou de George Orwell que “Se a liberdade significa alguma coisa, será sobretudo o direito de dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir”.

Se um cidadão previne o outro de que a entrada na lista da oposição levará a que nunca mais consiga emprego, isso significa que já está doente o fundamento da sua liberdade e está a contaminar a raiz da liberdade do outro. “Quem vende a sua liberdade nunca foi digno dela” disse Augusto Cury e segundo Benjamin Franklin “Aqueles que abrem mão da liberdade essencial por um pouco de segurança temporária não merecem nem liberdade nem segurança”.

De acordo com Baruch Espinoza “É livre a pessoa que pode avançar abertamente sem ter de utilizar artimanhas”, mas retenha-se o que afirmou John Kennedy “O conformismo é carcereiro da liberdade e o inimigo do crescimento”.

Creio firmemente que, nos dias de hoje, pelo menos nos pequenos concelhos, não é a ideologia, nem os programas eleitorais, nem tão pouco a partidarite (mesmo que clubista) a explicarem os resultados eleitorais, mas também, e porventura principalmente, o caciquismo.

A propósito cita-se, para terminar, Herbert Spencer: “O culto dos heróis é o mais forte onde a liberdade humana é menos respeitada”.

Scroll to Top