“Senhor, o que queres de mim? Esta é a pergunta que temos de fazer para descobrir a nossa vocação”- Irmã Maria Rita Ornelas

Foto: Agência Ecclesia/Igreja Açores

Jovem açoriana professa Votos Perpétuos na Congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima no próximo dia 20, em Lisboa

Ao fim de 10 anos, que não foram apenas de uma vida diferente consagrada a Jesus dentro de uma congregação religiosa, mas de um enorme processo de discernimento e aprofundamento deste amor maior, Maria Rita Ornelas dará o seu sim definitivo a Jesus, que será legitimado pela Igreja no próximo dia 20, na Paróquia de Nossa Senhora dos Navegantes, na Expo, em Lisboa.

“Acredito que  seja um dia de uma grande alegria pela confirmação pela Igreja o que já assumi diante de Deus: o grande desejo de fidelidade a um Deus que sei que me ama e a Quem procurarei dar a totalidade do meu amor que será sempre menos do que o que Ele me dá”, refere a religiosa que é natural da ilha Terceira, onde recebeu os primeiros sacramentos, na paróquia da Sé. Aliás, é a primeira vocação feminina desta Igreja em mais de duas décadas.

À pergunta se vai mudar muita coisa na sua vida, responde com um sorriso aberto que os olhos refletem: “exteriormente sim, porque vou usar uma aliança, mas não creio que mude muito mais pois a minha entrega pessoal, livre e consciente, já a fiz e renovo-a todos os dias, com uma enorme gratidão”.

Maria Rita nasceu no seio de uma família cristã na ilha Terceira. A avó queria oferecer-lhe um colar de pérolas, mas quando soube que a neta tinha optado por integrar a pobreza de um convento conformou-se, de forma entusiasmada, com a resposta de que a “maior pérola da vida” tinha sido a própria a encontrar.

“Não foi fácil” reconhece a religiosa que na conversa fluída vai deixando os marcos que lhe abriram o coração para o alto.

“Diria que o meu primeiro toque foi numa visita que fiz a TZ. Tinha 16 anos e aquela experiência com um Deus simples, misericordioso, descoberto na oração tocou-me muito, mas prossegui a minha vida”. E a vida levou-a, com 18 anos, da ilha para Lisboa, estudar Ciências do Desporto e fazer o que fazem todos os jovens que viajam de uma pequena cidade para a metrópole.

“Também me deixei seduzir por Lisboa” reconhece.

O “barulho das luzes” é forte; já o era no seu tempo e continua a ser hoje. Mas há uma segunda viagem a TZ, uma experiência em São Tomé e, depois, aquela pergunta que resulta de uma insatisfação interior, que por vezes pode parecer vazio, que leva à interrogação que poucos, “cada vez menos, se calhar” fazem: “O que é que Deus quer de mim? Quem é Deus para mim e o que sou para ele?”.

“Já convivi com muitas pessoas na casa dos 40 que me dizem, olhando para as suas vidas, que se na altura certa tivessem tido disponibilidade para fazer essa pergunta se calhar até seriam religiosos” comenta adiantando, logo a seguir, com um sorriso escancarado antevendo  um reparo, que isto “não quer dizer que toda a gente quisesse ser padre ou freira”, mas é fundamental “que todos nós possamos parar a dada altura e procurar saber a nossa vocação”, porque a chamada “crise de vocações não é só nas vocações consagradas” esclarece.

“A nossa sociedade é a sociedade do micro-ondas: aquecemos e está tudo pronto, mas temos de combater isso” diz, com alguma ironia.

“Precisamos de mostrar às pessoas uma outra forma de felicidade, de estar na vida, de comunhão em que não é logo tudo e já. Na vida não está tudo pronto; há um tempo de silêncio interior com o Senhor que é fundamental para o conhecimento pessoal , para o conhecimento da nossa relação com o transcendente e também para cuidar da nossa relação com os outros”.

“É sedutora esta intimidade” diz, ainda, lembrando que os  jovens  “até gostam de propostas radicais, que sejam distantes das que fazem hoje, mas para chegarmos  a esse processo de reconhecimento demora tempo” reconhece tendo bem presente  a parábola do jovem rico, que tinha tudo, estava disposto a tudo para seguir Jesus, mas faltou-lhe aquela vontade derradeira de arriscar.

“A renuncia é sempre difícil e requer paragens” adianta.

“A propensão que temos de reagir a estímulos é o resultado de um medo  de pararmos  e nos conhecermos; às vezes parece que temos medo de nos conhecer” enfatiza.

Porquê? Porque “conhecer-nos leva a uma censura de nós mesmos, que procuramos mostrar-nos aos outros da melhor forma possível” como naquela história em que sonhamos Deus sempre no máximo e Ele revela-se no mínimo: na cruz, nos pobres, nos frágeis.

“Deus ama-nos como somos e devemos compreender isso. Aceitar isso é meio caminho andado para depois fazermos a tal pergunta” refere ainda Maria Rita, a irmã de olhos claros que no dia 20 de abril dará o “sim para a vida” a Jesus, diante da sua congregação as Servas de Nossa Senhora de Fátima.

“Sinto-me profundamente agradecida por este dom da vocação que o Senhor me deu, por este chamamento a esta congregação. Sinto uma grande paixão pelo Senhor que espero possa ser alimentada a cada dia, sem condições, sem limitações, de forma inteira”.

“Até aos 22 ou 23 anos nunca pensei em ser irmã e foi quando  parei e fiz a questão: Senhor o que queres de mim? A minha vontade e a de Deus não se juntavam;  eram apenas a  mesma vontade. Depois com a ajuda das Servas, do padre Paulo na paróquia do Parque das Nações, com muita gente na minha vida, fui construindo o resto”.

“A minha história tem sido de grande discernimento e de oração”, diz ainda reconhecendo que o deserto “é sempre necessário”.

Nesta conversa que vai para o ar no domingo dia 14 de abril, depois do meio dia na Antena 1 Açores e no rádio Clube de Angra, no programa de rádio Igreja Açores, a jovem açoriana fala ainda da sua experiência na Jornada Mundial da Juventude, que levou Deus a muita gente que não estava ligada à Igreja, da vontade dos jovens em participar embora se calhar de outra forma e noutros ambientes para além das paredes do templo e da corrida de fundo que é a descoberta da vocação para a vida consagrada.

Maria Rita Ornelas entrou na Congregação em 2014 com 24 anos.

As Servas de Nossa Senhora de Fátima foram fundadas em 1923 por Luíza Andaluz, em Santarém. Atualmente as cerca de quase duas centenas de irmãs, estão presentes em oito dioceses portuguesas- Beja, Lamego, Leiria-Fátima, Santarém, Setúbal, Guarda, Coimbra e Aveiro-  e espalhadas por sete países – Portugal, Guiné Bissau, Brasil, Angola Moçambique, Bélgica e Luxemburgo.

O Carisma e a Missão é essencialmente apostólico-pastoral, com dimensão contemplativa na ação.

A vida pastoral da Congregação, em virtude do seu carisma, realiza-se na Igreja, com a Igreja e pela Igreja em comunhão com o Papa, expressa pelo voto de obediência da Superiora Geral, no dia da eleição.

A relação que a Congregação estabelece com os Bispos das Dioceses onde trabalha, tem sempre como lema “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim, segundo a vossa Palavra” o que manifesta o desejo de cada serva viver o seu compromisso no ministério redentor, como Maria, Mãe de Cristo Sacerdote.

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