Ser político bem-aventurado

Por Renato Moura

As declarações do Papa Francisco são tão densas e ricas de conteúdo, que se tornam inesgotáveis as formas de as abordar.

As afirmações contidas na mensagem para o 52.º Dia Mundial da Paz, relativamente ao exercício da política, mereceram a minha especial atenção e adesão, o que se compreenderá na linha que aqui se tem seguido, de defesa e partilha dos princípios e dos valores em política.

São relevantes para Portugal, num ano de várias disputas eleitorais. Lembra o Pontífice que “Cada renovação dos cargos electivos, cada período eleitoral, cada etapa da vida pública constitui uma oportunidade para voltar à fonte e às referências que inspiram a justiça e o direito”. Afirma categoricamente que “quando aqueles que a exercem [a política] não a vivem como serviço à colectividade humana, pode tornar-se instrumento de opressão, marginalização e até destruição”.

Não se coibindo de referir os “vícios da política”, que não só enfraquecem a verdadeira democracia e “são a vergonha da vida pública”, cita alguns, dos quais destacamos: a corrupção, nela incluindo também a instrumentalização das pessoas; a negação do direito; o enriquecimento ilegal; a tendência de perpetuação no poder.

Francisco, humilde admirador de outros pensadores, citou agora as «bem-aventuranças do político», da autoria de Francisco Xavier Nguyen Van Thuan, um Cardeal vietnamita, por ele considerado “uma testemunha fiel do Evangelho”, que transcrevo:

– Bem-aventurado o político que tem uma alta noção e uma profunda consciência do seu papel;

–  Bem-aventurado o político de cuja pessoa irradia a credibilidade;

–  Bem-aventurado o político que trabalha para o bem comum e não para os próprios interesses;

–  Bem-aventurado o político que permanece fielmente coerente;

–  Bem-aventurado o político que realiza a unidade;

–  Bem-aventurado o político que está comprometido na realização duma mudança radical;

–  Bem-aventurado o político que sabe escutar;

–  Bem-aventurado o político que não tem medo.

Impõe-se lançar aos políticos – seja qual for a sua filiação política, sensibilidade cultural ou religiosa, ou a ausência de todas – o desafio de meditarem sobre estas bem-aventuranças, pois que elas não são um catecismo religioso, mas um conjunto de princípios elementares sobre a ciência, a arte e o dever de como exercer a política.

Aos que ainda não estão eleitos, o desafio é a ponderação sobre se serão capazes e estarão disponíveis.

A todos os demais, o desafio é a disponibilização para avaliar sem cessar, julgar com rectidão e punir com justiça.

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