Papa escreve aos bispos norte-americanos para pedir nova abordagem a «escândalos» de abusos sexuais

«Credibilidade da Igreja tem sido seriamente enfraquecida e diminuída por esses pecados e crimes, mas ainda mais pelos esforços feitos para negar ou ocultar os mesmos», sustenta Francisco

O Papa Francisco escreveu uma carta à Conferência Episcopal dos EUA (USCCB), pedindo uma nova abordagem conjunta aos “escândalos” de abusos sexuais de menores no país.

“A credibilidade da Igreja tem sido seriamente enfraquecida e diminuída por esses pecados e crimes, mas ainda mais pelos esforços feitos para negar ou ocultar os mesmos”, assinala a missiva, divulgada pelo site da USCCB.

Francisco sublinha que a comunidade católica nos Estados Unidos da América foi “abalada por vários escândalos que afetaram gravemente sua credibilidade”.

“Sabemos que pecados e crimes foram cometidos e quais as suas repercussões ao nível eclesial, social e cultural”, acrescenta.

O Papa afirma que estas situações causaram “grande perplexidade, preocupação e confusão” entre os católicos e defende que compete aos bispos encontrar uma “abordagem renovada e resoluta para resolver conflitos” entre si, a respeito destes casos.

A prioridade, sustenta, é “combater a cultura do abuso, a perda de credibilidade e o descrédito”.

“O nosso primeiro dever é cultivar um espírito comum de discernimento, mais do que procurar a calma relativa dos acordos ou de um voto democrático, em que uns surgem como vencedores e outros não”, adverte o pontífice.

A carta manifesta as preocupações do Papa sobre as propostas para enfrentar os abusos sexuais do clero, que a USCCB queria votar em novembro, antes de um adiamento imposto pelo Vaticano.

Segundo Francisco, a perda de credibilidade “não pode ser recuperada pela emissão de decretos severos, pela simples criação de novos comités ou pela melhoria dos fluxogramas, como se estivéssemos encarregados de um departamento de recursos humanos”, pode ler-se.

Embora essas mudanças sejam consideradas “necessárias”, o Papa realça que as mesmas, só por si, seriam “insuficientes, já que não podem compreender e lidar com a realidade na sua complexidade; em última análise, correm o risco de reduzir tudo a um problema organizacional”.

Francisco solicita que os bispos católicos dos EUA assumam uma “nova presença” no mundo, com “uma forma concreta de serviço aos homens e mulheres” dos dias de hoje.

Os membros da USCCB estão em retiro desde esta quarta-feira, uma semana de oração como sugerida pelo Papa, no contexto do escândalo dos abusos que atingiu a Igreja nos EUA.

Os exercícios espirituais são propostos pelo pregador da Casa Pontifícia, o frade capuchinho Pe. Frei Raniero Cantalamessa, “gentilmente oferecido” pelo Papa, refere um comunicado da presidência da conferência episcopal norte-americana.

O presidente da USCCB, cardeal Daniel DiNardo, manifestou a sua gratidão ao Papa este “tempo de escuta de Deus”.

“Rezemos pelos sobreviventes dos abusos sexuais, a fim de que os seus sofrimentos possam servir para reforçar-nos a todos na difícil tarefa de extirpar um mal terrível da nossa Igreja e da nossa sociedade, de modo a que tal sofrimento jamais volte a repetir-se”, declarou.

O Papa recebeu no último dia 13 de setembro, no Vaticano, o cardeal Daniel DiNardo, juntamente com o cardeal Sean Patrick O’Malley, presidente da Comissão Pontifícia para a Tutela dos Menores.

O encontro abordou a “recente crise moral na Igreja Católica” nos EUA, afetada por vários casos de abusos sexuais de menores.

O Papa convocou os presidentes de todas as Conferências Episcopais do mundo para um encontro no Vaticano, de 21 a 24 de fevereiro de 2019, com o objetivo de abordar a questão da prevenção de abusos sobre menores e adultos vulneráveis.

Francisco enfrentou em 2018 as acusações de quem pede a sua renúncia, na sequência de uma carta divulgada pelo núncio apostólico Carlo Maria Viganò, segundo o qual teria protegido o arcebispo emérito de Washington, o ex-cardeal McCarrick.

A 20 de agosto, o Papa escreveu uma carta sobre os casos de abusos sexuais nos EUA e noutros países, reafirmando o compromisso de responsabilização de quem cometeu ou ocultou tais crimes.

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