Serviço Diocesano quer uma atenção permanente às periferias da sociedade açoriana com o selo da Igreja

Equipa da Pastoral Social interpela centros sociais e paroquiais, que têm até ao fim do mês para responder ao inquérito enviado pela pastoral social. Serviço quer tomar pulso à realidade e perceber o trabalho da Igreja no que respeita à ação social

Os cinquenta e nove Centros Sociais e Paroquiais existentes nos Açores têm até ao final deste mês de novembro para responder à interpelação feita pelo Serviço Diocesano da Pastoral Social sobre a sua ação.

O objetivo do inquérito enviado é “tomar o pulso à acção concreta” de cada uma destas instituições na alçada direta dos párocos e perceber qual “o selo distintivo da igreja” na sua intervenção social.

“Queremos saber se na ação dos nossos Centros há de facto esta marca distintiva de ser Igreja e que se traduz numa atenção permanente aos mais necessitados numa lógica de uma igreja sensível, que acolhe e que ajuda os elementos da sua comunidade”, não “numa lógica meramente assistencial” mas numa lógica evangélica de “atenção permanente ao outro”, afirmou ao Igreja Açores a diretora do Serviço Diocesano de Apoio à Pastoral Social, Piedade Lalanda.

Além de um maior conhecimento do terreno, este inquérito visa perceber o que é que distingue a ação dos Centros Sociais e Paroquiais, estruturas na dependência direta da Igreja, e as restantes Instituições Particulares de Solidariedade Social que intervém socialmente, muitas vezes no mesmo âmbito.

“Os centros sociais e paroquiais têm na sua maioria protocolos com o Governo mas a sua ação não pode ser indistinta” refere Piedade Lalanda ao sublinhar que os mais esquecidos esperam da Igreja “uma sensibilidade e um olhar de consideração próprios”, assente “em princípios e valores” que emanam da Doutrina Social da Igreja. *

De fora deste inquérito preliminar ficaram outras instituições da Igreja como a Cáritas ou movimentos de apostolado na ação social por serem realidades com uma identidade própria vincada, que é importante para o trabalho em rede, mas que neste momento foge um pouco a esta ação de intervenção social.

O Serviço tem projetado um encontro de Centros Sociais e Paroquiais para a próxima Primavera, que será desenhado em função das respostas que obtiver nesta primeira fase.

“Temos de perceber como é que as coisas estão a funcionar para definirmos prioridades e a formação adequada, se for caso disso. E, assim, o encontro servirá para acertar estratégias mas também para apresentar soluções e a formação pode ser também uma das necessidades”, adianta ainda a responsável.

Os Centros Sociais e Paroquiais têm uma ação direta ao nível da infância, com a valência de creches e jardins de infância; apoiam as famílias, nomeadamente desenvolvendo ações de requalificação profissional e até de formação profissional e apoiam também os idosos. São, por isso, uma das estruturas que atravessa transversalmente as famílias, apoiando-as localmente de acordo com as suas necessidades.

A pobreza continua a ser um dos problemas estruturais dos Açores e, de acordo com o último estudo desenvolvido pela anterior equipa, as comunidades açorianas debatem-se com vários problemas idênticos aos dos grandes centros urbanos mas numa escala diferente. As dependências, seja ao nível do alcool seja ao nível das drogas; os baixos rendimentos dos agregados familiares; a falta de qualificação profissional; a desestruturação de muitas famílias são alguns dos aspetos já identificados e que ainda não tiveram uma resposta de fundo. A dispersão geográfica, a falta de integração do trabalho em rede, desde logo dentro da própria Igreja, e a vulnerabilidade laboral de muitas famílias têm dificultado soluções de fundo para resolver o problema da pobreza.

[box] *Doutrina Social da Igreja

A expressão “doutrina social da Igreja” designa o conjunto de orientações da Igreja Católica para os temas sociais. Reúne todos os documentos do magistério sobre aquilo que implica a presença do homem na sociedade e no contexto internacional. Trata-se de uma reflexão feita à luz da fé e da tradição eclesial que visa o anúncio de uma visão global do homem e da humanidade, assente nos princípios da verdade e bem comum. A doutrina social da Igreja “situa-se no cruzamento da vida e da consciência cristã com as situações do mundo e exprime-se nos esforços que indivíduos, famílias, agentes culturais e sociais, políticos e homens de Estado realizam para lhe dar forma e aplicação na história” (João Paulo II, Carta encicl. Centesimus annus, 59). Ela busca o desenvolvimento humano integral, que é “o desenvolvimento do homem todo e de todos os homens” (Paulo VI, Carta encicl. Populorum Progressio, 42; Bento XVI, Carta encicl. Caritas in veritate, 8). A expressão “doutrina social” remonta a Pio XI (Carta encicl. Quadragesimo anno, 1931). Designa o corpus doutrinal referente à sociedade desenvolvido na Igreja a partir da encíclica Rerum novarum (1891), de Leão XIII. Em 2004, foi publicado o Compêndio de Doutrina Social da Igreja, organizado pelo Pontifício Conselho Justiça e Paz, que apresenta de forma sistemática o conteúdo da doutrina social da Igreja produzido até aquela ocasião. A partir daí, tornou-se o documento de referência obrigatório para uma intervenção social.

Ver mais em: http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/justpeace/documents/rc_pc_justpeace_doc_20060526_compendio-dott-soc_po.html[/box]

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