Papa denuncia prostituição infantil e tráfico de pessoas

O Papa presidiu hoje a uma Missa para cerca de 50 mil pessoas no Estádio Nacional de Banguecoque, encerrando o segundo dia de visita à Tailândia com um alerta contra a prostituição infantil e o tráfico humano.

“Penso de modo particular nos meninos, meninas e mulheres expostos à prostituição e ao tráfico, desfigurados na sua dignidade mais autêntica; nos jovens escravos da droga e do contrassenso, que acabam por turvar o seu olhar e queimar os seus sonhos”, declarou, na homilia da celebração que reuniu a minoria católica (cerca de 0,5% dos 69 milhões de habitantes, maioritariamente budistas).

Segundo ONG da Tailândia, mais de 60 mil crianças são exploradas sexualmente no país, todos os anos, e cerca de 300 mil mulheres estão em redes de prostituição; o primeiro discurso do Papa em Banguecoque tinha alertado para as vítimas da exploração sexual.

Na Missa desta tarde, Francisco evocou ainda a situação dos migrantes, “dos pescadores explorados, dos mendigos ignorados”.

“Fazem parte da nossa família, são nossas mães e nossos irmãos; não privemos as nossas comunidades dos seus rostos, das suas chagas, dos seus sorrisos, das suas vidas; e não privemos as suas chagas e as suas feridas da unção misericordiosa do amor de Deus”, apelou.

A homilia deixou uma homenagem aos primeiros missionários do país, religiosos portugueses.

“Eram apenas dois os missionários que se animaram a lançar as sementes que, desde então, têm vindo a crescer e florescer numa variedade de iniciativas apostólicas que contribuíram para a vida da nação”.

A evangelização do Reino do Sião ou de Ayuthya, antigo nome da Tailândia, foi iniciada após a criação da Diocese de Malaca em 1558, que consagrou aos portugueses o direito de padroado sobre aquele reino asiático, entre outros estados do Oriente.

Frei Jerónimo da Cruz e frei Sebastião do Canto, dominicanos, foram os primeiros religiosos a chegar a Ayuthya, por volta de 1566, num clima de grande tensão militar, por causa da ameaça birmanesa; numa escaramuça com a colónia portuguesa, frei Jerónimo foi assassinado e frei Sebastião ficou ferido.

O Papa sustentou, na sua intervenção, que o anúncio da mensagem cristã não está limitado a “um punhado de pessoas ou determinado contexto cultural”, mas deve ser capaz de “superar todos os adjetivos que dividem, sempre”.

“Sem tal encontro, ao Cristianismo faltaria o vosso rosto; faltariam os cânticos, as danças que representam o sorriso tailandês, tão particular destas terras”, referiu, numa intervenção em espanhol que foi sendo traduzida, para a assembleia, por um membro do clero local.

“Assim aconteceu com os primeiros missionários que se puseram a caminho e chegaram a estas terras; escutando a palavra do Senhor, procurando responder às suas solicitações, puderam ver que pertenciam a uma família muito maior do que a gerada pelos laços de sangue, cultura, região ou filiação num determinado grupo”, disse o Papa.

Depois dos dominicanos, franciscanos, jesuítas e agostinhos enviaram missionários portugueses para o território, onde chegaram também franceses das Missões Estrangeiras, gerando uma questão resolvida em 1669, quando Clemente IX retirou o reino do Sião ao padroado português, transformando-o num vicariato apostólico, cujos 350 anos se celebram agora.

“Este aniversário não significa nostalgia do passado, mas fogo de esperança para que, no presente, possamos também nós responder com a mesma determinação, força e confiança”, declarou o Papa.

Francisco saudou a multidão que o aguardava há várias horas, gritando “viva il Papa”, num percurso em papamóvel dentro do estádio, convidando todos a partilhar a “vida nova, que brota do Evangelho”.

“É surpreendente notar como o Evangelho aparece tecido de perguntas que procuram desinquietar, despertar e convidar os discípulos a pôr-se a caminho, para descobrir a verdade capaz de dar e gerar vida”, indicou.

“Querida comunidade tailandesa, continuemos em caminho pela senda dos primeiros missionários para encontrar, descobrir e reconhecer com alegria todos os rostos de mães, pais e irmãos que o Senhor nos quer dar e que faltam ao nosso banquete dominical”, afirmou.

Antes da Missa, o Papa tinha visitado, de forma privada, o rei da Tailândia, Maha Vajiralongkorn, Rama X, no palácio de Amphorn.

Francisco chegou esta quarta-feira à capital da Tailândia, para a sua 32ª viagem internacional, que se conclui no Japão, a 26 de novembro.

A agenda de sexta-feira vai ser particularmente dedicada à comunidade católica, começando pelo encontro com sacerdotes, religiosos, seminaristas e catequistas, na paróquia de São Pedro; em seguida, os bispos tailandeses e da Federação de Conferências Episcopais Asiáticas reúnem-se com o Papa na igreja adjacente do Santuário dedicado ao Beato Nicolas Bunkerd Kitbamrung.

Os dois últimos compromissos são o encontro com líderes cristãos e de outras religiões, na Universidade de Chulalongkorn, e a Missa com os jovens na Catedral da Assunção, de Banguecoque.

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