Sínodo 2014: Igreja condena violência doméstica

Novo documento sublinha necessidade de ajudar famílias que vivem situações de crise.

O documento de trabalho (instrumentum laboris) da assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos marcada para outubro defende a necessidade de uma presença da Igreja junto das vítimas da violência doméstica e outras formas de abuso nas famílias.

 

“Nalguns casos é urgente a necessidade de acompanhar situações nas quais os vínculos familiares estão ameaçados pela violência doméstica, com intervenções de apoio capazes de curar as feridas infligidas, e desenraizar as causas que as determinaram”, refere o texto, apresentado hoje pelo Vaticano.

 

O próximo Sínodo tem como tema os “desafios pastorais sobre a família” e será seguido por uma assembleia ordinária em 2015.

 

O texto que vai orientar os trabalhos sublinha que a violência doméstica, o abandono e a desagregação familiar, têm “um impacto significativo na vida psicológica da pessoa e consequentemente na vida de fé”.

 

Na preparação para este Sínodo, foi enviado às conferências episcopais de todo o mundo um questionário com 38 perguntas para promover uma consulta alargada às comunidades católicas sobre as principais questões ligadas à família e ao casamento.

 

“Unânime e transversal nas respostas é também a referência à violência psicológica, física e sexual, e aos abusos cometidos em família sobretudo contra as mulheres e as crianças”, pode ler-se.

 

O documento condena o assassinato de mulheres, “com frequência ligado a profundos distúrbios relacionais e afetivos”, um fenómeno que considera “deveras preocupante”.

 

A Igreja é chamada a ocupar-se das famílias que vivem “situações de crise e de stress” e enfrentam problemas provocados por fatores económicos, sociais ou culturais (pobreza, guerra, abusos, violência, migrações, separações, poligamia, entre outros).

 

O documento fala num “impacto negativo” dos media e das novas tecnologia de comunicação sobre a família, considerando que “a televisão, o smartphone e o computador podem ser um impedimento real do diálogo”.

 

Outra problemática identificada é a dos ritmos de trabalho “intensos” e mesmo “extenuantes”, da precariedade e do desemprego, com “incidências pesadas sobre a vida familiar”.

 

“Em diálogo com o Estado e com as entidades públicas designadas, espera-se da parte da Igreja uma ação de apoio concreto para um emprego digno, para salários justos, para uma política fiscal a favor da família”, refere o documento.

 

Entre as várias “pressões culturais” sobre a família mencionam-se o “individualismo” e o “consumismo”, bem como a “tentativa da sua privatização”, anulando a “participação da família na sociedade”.

 

“É necessário propor uma visão aberta da família, fonte de capital social, o que significa, de virtudes essenciais para a vida comum”, sustenta o ‘instrumentum laboris’.

 

O texto alude a uma “distância preocupante” entre a família nas formas em que hoje é conhecida e o ensinamento da Igreja a este propósito, reforçando a importância da preparação para o matrimónio e a promoção de uma espiritualidade familiar.

 

“O ‘desejo de família’ revela-se como um verdadeiro sinal dos tempos, que pede para ser aproveitado como ocasião pastoral”, acrescenta, em relação aos anseios dos jovens.

 

“Consciente de que as dificuldades não determinam o horizonte último da vida familiar e de que as pessoas não se encontram unicamente diante de problemáticas inéditas, a Igreja constata de bom grado os impulsos, sobretudo entre os jovens, que fazem entrever uma nova primavera para a família”, assinala o documento.

 
A terceira assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos vai decorrer no Vaticano entre os dias 5 e 19 de outubro, com a participação de mais de 180 pessoas, entre presidentes de conferências episcopais, religiosos, responsáveis da Santa Sé, peritos e outros convidados

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