Vaticano apresenta documento de trabalho para Sínodo dos Bispos sobre família (síntese)

Terceira assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos decorre no Vaticano entre os dias 5 e 19 de outubro.

No texto de trabalho apresentado esta quinta feira alerta-se para a crise “cultural, social e espiritual” que atinge as famílias.

 

O documento realça o “crescente contraste” entre os valores propostos pela Igreja sobre matrimónio e família e a “situação social e cultural” em todo o planeta.

 

Entre as várias “pressões culturais” sobre a família mencionam-se o “individualismo” e o “consumismo”, bem como a “tentativa da sua privatização”, anulando a “participação da família na sociedade”.

 

“É necessário propor uma visão aberta da família, fonte de capital social, o que significa, de virtudes essenciais para a vida comum”, sustenta o ‘instrumentum laboris’.

 

O texto alude a uma “distância preocupante” entre a família nas formas em que hoje é conhecida e o ensinamento da Igreja a este propósito, reforçando a importância da preparação para o matrimónio e a promoção de uma espiritualidade familiar.

 

No texto preparatório alude-se à tendência de acentuar “o direito à liberdade individual”, sem obrigações, que está a afetar as famílias, e à difusão da ideologia do género, para além do “positivismo jurídico”, em que o indivíduo e a sociedade “se tornaram os únicos juízes para as escolhas éticas”.

 

A relativização do conceito de ‘natureza’, pode ler-se, reflete-se também no “conceito de «duração» estável” em relação à união matrimonial, levando à “prática maciça do divórcio” e a dissolver “o vínculo entre amor, sexualidade e fertilidade”.

 

O ‘instrumentum laboris’ fala no desconhecimento do magistério católico e assinala que “muitos aspetos da moral sexual da Igreja hoje não são compreendidos”.

 

Noutro ponto lamenta-se a “perda relevante de credibilidade moral” da Igreja por causa dos escândalos sexuais envolvendo membros do clero e a “perceção de rejeição” em relação a pessoas separadas, divorciadas ou pais solteiros nas comunidades paroquiais,

 

“Neste sentido, sente-se a necessidade de uma pastoral aberta e positiva, que seja capaz de voltar a dar confiança na instituição, através de um testemunho credível de todos os seus membros”, pode ler-se.

 

O Instumentum laboris convida, também,  a igreja a enfrentar os desafios que decorrem da “contraceção” e da falta de “abertura à vida” em várias famílias.

 

Neste campo tocam-se dimensões e aspetos muito íntimos da existência, acerca dos quais se salientam as diferenças substanciais entre uma visão cristã da vida e da sexualidade, e um delineamento fortemente secularizado”, refere o texto, apresentado hoje pelo Vaticano.

 

O documento de trabalho fala em “ objeções radicais” ao ensinamento da Igreja, destacando a encíclica ‘Humanae Vitae’ (1968), de Paulo VI, na qual se reafirmou a “união inseparável entre o amor conjugal e a transmissão da vida”.

 

O texto admite que a doutrina da Igreja sobre a “abertura dos esposos à vida” não é conhecida na sua “dimensão positiva” e que a avaliação moral dos diferentes métodos de regulação dos nascimentos “é hoje entendida pela mentalidade comum como uma ingerência na vida íntima do casal”.

 

A este respeito observa-se que muitos casais “não consideram um pecado o recurso aos métodos anticoncecionais” e, por conseguinte, “tende-se a não fazer disto matéria de confissão e a aproximar-se da Eucaristia sem qualquer problema”.

 

Pelo contrário, existe a consciência do aborto como “pecado extremamente grave”.

 

Além da “mentalidade contracetiva”, o documento de trabalho critica também a “a presença maciça da ideologia do género”, que “tende a modificar algumas estruturas fundamentais da antropologia, entre as quais o sentido do corpo e da diferença sexual”.

 

O texto que vai orientar os trabalhos sublinha, também, que a violência doméstica, o abandono e a desagregação familiar, têm “um impacto significativo na vida psicológica da pessoa e consequentemente na vida de fé”.

 

O documento condena o assassinato de mulheres, “com frequência ligado a profundos distúrbios relacionais e afetivos”, um fenómeno que considera “deveras preocupante”.

 

O documento de trabalho alerta, por outro lado,  para o risco de uma “mentalidade reivindicativa” em relação aos sacramentos.

 

“Frequentemente não se entende a relação intrínseca entre matrimónio, Eucaristia e penitência; portanto, é muito difícil compreender por que motivo a Igreja não admite à comunhão aqueles que se encontram numa condição irregular”, refere o texto, apresentado hoje pelo Vaticano.

 

“O sofrimento causado pela não receção dos sacramentos está claramente presente nos batizados que estão conscientes da própria situação. Muitos sentem-se frustrados e marginalizados”, pode ler-se.

 

Por outro lado, no entanto, há muitos que “consideram com menosprezo a própria situação irregular” e não fazem “qualquer pedido de admissão à Comunhão eucarística” ou ao sacramento da Reconciliação.

 

“A misericórdia de Deus não provê a uma cobertura temporária do nosso mal, mas abre radicalmente a vida à reconciliação, conferindo-lhe renovada confiança e serenidade, mediante uma verdadeira renovação”, pode ler-se.

 

O ‘instrumentum laboris’ fala na “caridade pastoral” que leva a Igreja a acompanhar as pessoas que passaram por uma “falência matrimonial” e admite que “uma ferida mais dolorosa” se abre para as pessoas que se voltam a casar, “entrando numa condição de vida que não lhes permite o acesso à Comunhão”.

 

“Nestes casos a Igreja não deve assumir a atitude de juiz que condena, mas a de uma mãe que acolhe sempre os seus filhos e cuida das suas feridas em vista da cura”, realça o texto, no qual se pede “mais atenção aos separados e aos divorciados não recasados”.

 

“Parece cada vez mais necessária uma pastoral sensível, norteada pelo respeito destas situações irregulares, capaz de oferecer uma ajuda concreta para a educação dos filhos”, nota o documento.

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