Só há desenvolvimento integral quando ninguém é deixado para trás, afirma ex ministro da Segurança Social

Bagão Félix proferiu uma conferência sobre economia solidária em Ponta Delgada, no âmbito das festas de São Sebastião

O economista Bagão Félix afirmou esta noite em Ponta Delgada que só há desenvolvimento integral quando todas as partes da sociedade são consideradas e se promove uma verdadeira solidariedade.

Numa conferência que proferiu esta sexta-feira à noite na Igreja Matriz de São sebastião, em Ponta Delgada, no âmbito das festas de São Sebastião e das jornadas formativas promovidas pelo Instituto Católico de Cultura, com o apoio do Santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres, o ex ministro da Segurança Social lembrou que a solidariedade é um valor que faz parte da matriz cristã e deve estimular a participação dos cristãos em todos os domínios da sua vida.

“Todos somos impelidos à participação, todos temos um papel, e todos são importantes. Só há desenvolvimento se não desconsiderarmos nenhuma das partes” referiu percorrendo as várias formas cristãs de dizer solidariedade ao longo da história da Igreja, desde São Tomás de Aquino, em que a solidariedade era considerada como uma forma de amizade civil até aos dias de hoje que é um compromisso social para com o outro, sobretudo o mais frágil.

Numa conferência sobre economia solidária, o ex governante, que foi também presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz elencou a indiferença como o “principal inimigo” da economia social e da sociedade em geral. Para Bagão Félix é “na globalização da indiferença”, expressão muitas vezes repetida pelo Papa Francisco, que radica um dos grandes “entraves” ao desenvolvimento integral das sociedades, que valorizam cada vez mais coisas externas em vez de valores intrínsecos à condição humana.

“A crise que atravessou o mundo, recentemente, resultou da supremacia dos bens exteriores: a valorização do dinheiro sobre tudo o resto”, afirmou ao lembrar que a perceção de que o dinheiro pode tudo coloca em causa outros valores . Às vezes, acrescentou, “a própria solidariedade passa a ser regida por critérios económicos” .

“A pessoa é que tem que estar no centro; esta é uma noção ética e a grande ideia quando falamos de solidariedade.

“A solidariedade é um valor humano, uma virtude moral, um dever social e obviamente tem a sua expressão visível na ação da igreja: a caridade não é a mera administração do que nos sobra, mas sim partilhar com o outro o que é meu, mesmo o que me faz falta” esclareceu.

A solidariedade “é um bem social de mérito, que naturalmente tem um valor económico de facto mas é sobretudo a expressão do amor e, por isso, não é uma norma externa”.

Para explicar a solidariedade socorreu-se várias vezes da família para mostrar que é esta a realidade que mais se aproxima do itinerário que é preciso percorrer para desenvolver uma economia solidária. Valores como a partilha, a sabedoria, o tempo, a disponibilidade, o sentido de entre-ajuda são fundamentais para a família e também para o desenvolvimento de uma economia solidária, que requer “a melhor combinação possível entre recursos monetários e não monetários”.

A conferência do economista, ex governador do Banco de Portugal, inseriu-se na jornada formativa promovida pelo Instituto Católico de Cultura que na noite anterior já tinha promovido uma mesa redonda, em que participou também a socióloga Piedade Lalanda, sobre os desafios sócio-económicos nos dias de hoje.

“Trata-se de um tema muito atual, que se insere na nossa caminhada sinodal. E sendo um dos três temas de estudo- a análise sócio-económica da região- quisemos promover este debate” afirmou no ínicio da conferência o presidente do Instituto Católico de Cultura, Monsenhor José Medeiros Constância.

Esta jornada contou com o apoio da Igreja Matriz de São Sebastião, em Ponta Delgada e foi inserida no contexto da festa do padroeiro que se celebra este fim de semana.

Amanhã, domingo, pelas 15h00 será celebrada a eucaristia solene, seguida de procissão pelas ruas do centro histórico de Ponta Delgada, ambas presididas pelo bispo de Angra, D. João Lavrador.

Scroll to Top