“Somos irmãs de verdade e tendo o mesmo carisma somos os dois pulmões do mesmo corpo”- Irmã Maria de Lurdes Pires

 

Foto: Igreja Açores/CR

Irmãs de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor celebram o dia da sua fundadora a 24 de abril. Nos Açores, conseguiram juntar os dois ramos: apostólico e contemplativo

A Congregação de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor celebra esta quarta-feira, dia 24 de abril, o dia da sua fundadora Maria Eufrásia Pelletier e na eucaristia que será celebrada no Santuário do Senhor Santo Cristo, a onde reside a comunidade contemplativa desde janeiro de 2022,  a Irmã Maria José Moniz, da comunidade apostólica, celebrará 60 anos de profissão religiosa.

A Congregação, que está nos Açores desde 1952, reúne pela primeira vez há dois anos os dois ramos: o apostólico e o contemplativo, num total de sete irmãs.

“Somos irmãs de verdade; as irmãs contemplativas formam parte connosco. Juntamo-nos para rezar e festejar e isto é uma comunhão que nos dá força e nos une” afirmou ao Sítio Igreja Açores a Irmã Maria de Lurdes Pires, terceirense a residir pela primeira vez em São Miguel, há um ano, a onde coordena a comunidade de vida apostólica, que gere o lar abrigo Filomena da Encarnação, uma das respostas no apoio a mulheres vítimas de abusos, em Ponta Delgada.

“Desde 1975 que não havia irmãs contemplativas em Portugal, mas quando chegaram em 2016 integraram-se e agora, que estamos juntas nos Açores é muito bom” esclarece ainda a religiosa.

“Somos os dois pulmões do mesmo corpo; termos irmãs contemplativas é ficar com os órgãos todos do mesmo corpo” conclui, salientando que é menos o que as separa do que o que as une.

“Nós temos um quarto voto. As apostólicas rezam para viver e zelar enquanto que as contemplativas vivem para rezar”, esclarece de imediato Jaqueline Mendes, a coordenadora da comunidade contemplativa que reside no Convento da Esperança.

“Uma irmã de convento tem uma vida muito simples: oração pessoal de duas horas, oração de laudes e vésperas, lectio divina, oração comunitária, eucaristia…A nossa missão é também sustentar as acções das outras irmãs”, esclarece ainda a religiosa que veio do Brasil, de São Luís do Maranhão, no coração do nordeste brasileiro.

Jaqueline Mendes veio do outro lado do mundo porque abraçou a vida missionária, no “silêncio e na oração” honrando o que a sua fundadora sempre disse: “onde não há acção que haja oração e assim fazemos”, há 35 anos, altura em que professou de “forma pacífica” já que a família e a comunidade, “simples e muito empenhada nas questões de Deus” ajudaram.

Coisas de outros tempos, já que agora o que se ouve é falar de falta de vocações.

“Sim temos, como todas as congregações têm e até a vida do mundo”, refere a Irmã Olinda Aguiar. A segunda de sete irmãos, é natural de São Miguel e foi para a congregação em 1972. Quando professou esteve no continente, em Roma, em França e, depois de ter estado sete anos em Ponta Delgada, prepara agora as malas para rumar a Fátima.

“Foi uma opção de vida que fiz, com entrega total à missão desde 1977” , data em que professou.

“As mudanças custam sempre, não é verdade, mas a opção foi minha e fi-la para toda a vida” afirma com vigor e entusiasmo.

“Sou de uma família muito católica, onde os valores humanos e cristãos eram muito fortes. Elevava-se tudo para Deus” refere embora tivesse dúvidas sobre se entrava para o convento ou casaria.

“É muito importante o acolhimento e o acompanhamento que fazemos dos jovens. Já foi assim no meu tempo e hoje ainda é mais”, mesmo nos tempos de `vacas magras´ em que vivem os institutos de vida consagrada. A congregação, embora presente nos cinco continentes, 72 países e com mais de 4 mil irmãs, uma centena das quais em Portugal, só tem uma noviça. Deixou também de ter província em Portugal.

“Demorámos a decidir e foi uma decisão maturada e refletida para rentabilizar as coisas: criámos a região da Europa do Sul e estamos ligadas a Itália, Espanha e Malta” esclarece a irmã Maria de Lurdes Pires, cuja vocação nasceu na ilha Terceira, em Santa Bárbara, onde nasceu e onde contactou com o carisma desta congregação. A entrada levou-a para estudos no Continente e durante 20 anos serviu em Lisboa, a lidar com mulheres vítimas e meninas em risco. Já leva 43 anos de vida consagrada.

Maria Eufrásia Pelletier, fundadora da Congregação das Irmãs de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor no século XIX, encontrou ainda jovem um ideal que a atraiu e com o qual preencheu toda a sua vida: o cuidar da educação de crianças, jovens e mulheres que eram excluídas da sociedade.

“Santa Maria Eufrásia dizia: quando uma menina estiver com problemas, não dês ralhetes acolhe-a e dá-lhe uma chávena de leite” recorda a religiosa que sempre trabalhou com mulheres fragilizadas.

“Elas chegam-nos com uma auto-estima baixíssima, com um enorme sentimento de culpa. Temos de trabalhar a auto estima, levá-las a crescer  para que elas renasçam para uma vida nova, feita de integração plena, coim a cura feita”, explica a irmã.

“Chegam às suas casas- em Ponta Delgada ao Lar Filomena da Encarnação- sinalizadas pela rede” sem a qual é difícil trabalhar, admite. A casa abrigo tem uma assistente social a tempo inteiro e uma psicóloga em part-time. Com capacidade para 12 mulheres, a casa tem agora 8, uma delas jovem grávida.

“Só queremos que elas ganhem competências e possa integrar-se na vida da sociedade. Recuperá-las de forma renovada é o grande objectivo da instituição; por isso, a aposta é na formação, no treino de competências psico-sociais e profissionais.

Em teoria deveriam ficar na instituição apenas meia dúzia de meses, mas a verdade é outra: acabam por ficar 4 ou 5 anos.

“É um processo difícil” reconhece a religiosa que com mais três religiosas gere a casa, que mal chega para as solicitações. “Há mais casos porque as mulheres estão mais informadas e já têm menos preconceitos na denúncia”.

“Muitas querem libertar-se da violência de forma rápida”, mas tudo demora o seu tempo, conclui. E, se há filhos, a situação ainda “é mais complicada e demorada”.

As irmãs do Bom Pastor ficaram-se em São Miguel em 1952. Na Freguesia do Livramento, às portas de Ponta Delgada fundaram a sua grande e primeira residência. O trabalho na freguesia foi notável, ao ponto de uma das suas superioras, natural da freguesia ter sido homenageada. A irmã Maria Filomena Sousa, a viver em Ermesinde, doi distinguida  este domingo com o diploma de mérito cívico, mas na verdade, o reconhecimento foi também para o trabalho da congregação, que encontra na oração e na adoração eucarística pilares muito fortes.

Ao Santuário, por semana chegam cerca de 60 pedidos de oração. Os temas são diferentes, como diferentes são os autores das suplicas e também dos pedidos de ação de graças.

“A nossa oração é contemplativa mas muito comprometida e ativa com as pessoas que nos pedem alguma intenção”.

“colocamos todas as preces aos pés do Senhor” refere a Irmã Jaqueline Mendes que com as irmãs Madgdalena e Joana, equatoriana e peruana, respetivamente formam a comunidade contemplativa que serve no Santuário.

As “sextas-feiras” são particularmente intensas, por causa da devoção característica deste lugar que tem na imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres o seu centro.

“Nós vivemos para rezar enquanto que as nossas irmãs vivem para trabalhar. Não é que não rezem mas os tempos de oração são outros” esclarece a irmã Jaqueline Mendes.

“Costumo dizer que vivemos no coração da ilha e até dos Açores. Há pessoas que chegam cá vindas do aeroporto, antes mesmo de chegarem às suas casas. É impressionante a devoção ao Senhor Santo Cristo” avança.

A história da congregação nos Açores é contínua desde 1952. A primeira vez que foi feito o pedido para virem para os Açores ainda estávamos no século XIX, em 1896. Em 1932 foi renovado o pedido para a vinda desta congregação, que chegaria em 1952. As primeiras Irmãs viveram com as de São José de Cluny e depois mudaram-se para Ponta Delgada. Tinham também uma casa na ilha Terceira que, entretanto, encerrou.

O grande desafio passa agora por mobilizar leigos. A Congregação já tem um grupo de leigos do Bom Pastor, associado ao ramo apostólico mas agora está também a criar um grupo intitulado “parceiros na missão”, orientados para um carisma mais contemplativo. O grupo está ligado ao Santuário e já conta com 18 voluntários.

“Vivem o carisma do Bom pastor e podem vivê-lo no mundo”, conclui a irmã Jaqueline Mendes.

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