Testemunhar e comunicar a experiência comunitária “é difícil” afirma ouvidor da Ribeira Grande

Padre Vítor Medeiros é o convidado do programa Igreja Açores

A ouvidoria da Ribeira Grande, na ilha de São Miguel, é uma das mais populosas da diocese mas a comunicação e o testemunho da vivência comunitária constituem uma das suas principais dificuldades, a par de um conjunto de problemas sociais que exigem uma atenção redobrada da Igreja.

“Nós temos diversas comunidades, principalmente a zona do Pico da Pedra em que uma grande da sua população dorme na localidade mas não tem ligação com a comunidade onde reside e isso tona muito difícil a comunicação e, infelizmente, este é um problema que já contagia outras realidades dentro da ouvidoria” afirma ao programa de rádio Igreja Açores o ouvidor, padre Vítor Medeiros.

“Temos consciência de que em todas as comunidades existe um grupo coeso de pessoas que fazem vida de Igreja, envolvendo-se e participando, mas são cada vez menos e este é, porventura um dos grandes problemas: há dificuldades em comunicar, não do ponto de vista formal, pois há uma gama de meios de comunicação, mas a comunicação da experiência comunitária é difícil”, esclarece o sacerdote , que concretiza: “existe a experiência da catequese mas depois quando se fala de movimentos paroquiais, ações comunitárias que envolvem toda a comunidade já não há a mesma comunicação”.

“Verdadeiramente, não há sentido de pertença comunitária e isso é uma dificuldade grande que condiciona o trabalho pastoral”, conclui o sacerdote que lidera a ouvidoria desde 2017.

Acresce, refere, que a ouvidoria tem problemas sociais “graves” como situações de grande pobreza ou fragilidade económica das famílias, abandono escolar precoce, dependências várias, e um agravamento da situação das doenças mentais na sequência da pandemia.

“A ouvidoria da Ribeira Grande tem sido muito fustigada pela pandemia; mesmo depois da progressiva reabertura tivemos sempre intermitências e verificou-se  uma quebra muito acentuada nas actividades paroquiais” afirma o sacerdote que é professor de Educação Moral e Religiosa e, por isso, vai convivendo com problemas de natureza educativa. Neste capítulo justifica: “ temos sido muito zelosos e podem apontar-nos o dedo mas neste caso tudo o que fizemos foi pelo bem comum: proteger toda a gente, é uma expressão de amor ao próximo”.

As atividades presenciais ainda não foram retomadas na ouvidoria e, neste momento, um dos principais desafios é retomar a presença dos jovens.

“Neste momento temos muito poucos grupos de jovens ativos na ouvidoria; estamos a ter mais dificuldades em congregar mas esperamos que a Jornada Mundial da Juventude possa levar os jovens a terem gosto em participar”, refere o padre Vítor Medeiros.

“Os jovens têm fé certamente mas não estamos a conseguir empenhá-los na dinamização de grupos”, concretiza ainda lembrando que está em marcha uma caminhada sinodal e, embora tenham sido desenvolvidos muitos esforços, a participação tem sido “praticamente nula.

“Fizemos um boletim inter-paroquial onde colocamos os textos diocesanos dirigidos a toda a comunidade (…) não tive praticamente resposta nenhuma; pensei que poderia haver uma maior participação” reconhece com alguma tristeza.

A ouvidoria da Ribeira Grande é uma ouvidoria extensa, com quatro sacerdotes párocos e dois sacerdotes que residem e que, apesar de jubilados, ajudam no serviço paroquial. É o caso de Rabo de Peixe, que recentemente ficou sem pároco depois de uma polémica em torno da preparação dos jovens crismandos.

“A situação é provisória mas estamos a conseguir com vários sacerdotes, a quem agradeço publicamente, assegurar os serviços mínimos da vida comunitária, por assim dizer e contamos também com leigos empenhados que se dedicam à comunidade”.

A ouvidoria da Ribeira Grande é, também a única que tem um Mosteiro de Clausura, nas Calhetas onde reside uma comunidade de Clarissas.

“São um suporte espiritual muito importante para a ouvidoria: quer no silêncio quer na simplicidade de vida e registo um carinho para com elas e delas para connosco”.

Entre os desafios, que passam por obras em igrejas, a inauguração do novo centro pastoral de Nossa Senhora das Vitórias, em Santa Bárbara, há um que o anima de forma especial : “gostaria que a nossa ouvidoria fosse uma ouvidoria com o dinamismo igual ao que encontrei em 2002 com grande vivência comunitária, sentido de entrega e que esta pandemia não nos retire isto”, conclui pedindo alento para construir uma “igreja povo de Deus”.

Na conversa que manteve com o programa de rádio Igreja Açores que foi para o ar este domingo, depois do meio dia na Antena 1 Açores e no Rádio Clube de Angra o sacerdote aborda ainda o momento que a diocese vive:  “Este momento , apesar de não ser muito habitual, convida-nos a uma grande comunhão e espirito de oração e unidade de todas as estruturas. A vida da Igreja não termina sem a  existência do bispo, todavia a existência de um pastor dá esta maior segurança de condução, de governo mas a igreja tem estruturas e por isso vai seguindo o seu trabalho. E, uma delas é a figura do Administrador Diocesano e creio, não é apenas a minha opinião, que o nosso Administrador Diocesano não só tem demonstrado pelo seu trabalho ao longo de anos  uma grande competência, sentido de Igreja, procurando responder às necessidades que a Igreja vai tendo”.

Ribeira Grande

A ouvidoria tem oito paróquias, seis sacerdotes- quatro párocos e dois jubilados, mas ainda a servir-, quatro Centros Sociais e Paroquiais, uma Santa Casa da Misericórdia, uma Irmandade dos Terceiros, uma Fundação Pia Diocesana- Obra de Socorro de Nossa Senhora das Mercês- e um Mosteiro onde reside a única comunidade contemplativa de clausura da região.

 

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