Tradição do “Pão por Deus” mantém-se viva nos Açores

No dia da Solenidade de Todos-os-santos as crianças pedem “pão por Deus”. Escolas públicas e privadas reavivam a tradição

Foto: Igreja Açores (Arquivo)

As ruas de algumas localidades dos Açores voltam a encher-se no dia 1 de novembro, na Solenidade de Todos-os-Santos com o colorido e a alegria das crianças que celebram o tradicional “Pão por Deus”, uma das mais antigas manifestações populares de fé e solidariedade do arquipélago, que entrou há muito em concorrência com a importada noite das bruxas, ou “halloween”, por influência norte-americana.

Com cestos e saquinhos de panos, decorados com flores de papel e fitas coloridas, os mais pequenos andam de porta em porta pedindo o habitual “Pão por Deus”, recebendo em troca doces, frutos secos, bolos e, em alguns casos, muito raros, pequenas ofertas monetárias.

A tradição, profundamente enraizada na cultura açoriana, tem origem na prática cristã de partilha associada à Festa de Todos os Santos, celebrada a 1 de novembro. Historicamente, recorda também o espírito de entreajuda que se fortaleceu após o terramoto de 1755 em Lisboa, quando os sobreviventes pediam pão e orações de casa em casa

Nas escolas e paróquias, muitas comunidades organizam atividades temáticas para explicar às crianças o significado religioso da data, muitas delas antecipadas para esta sexta-feira, já que o dia 1 de novembro é feriado.

“O nosso colégio costuma manter esta tradição que vai mais além do que um costume: é uma forma de manter os valores. As nossas crianças recebem sempre o Pão por Deus com muita alegria, muito sentido de responsabilidade e sentido de pertença e isso faz-nos felizes que eles tenham enraizado este costume que infelizmente tem-se perdido ao longo do tempo”, afirma Marisa Lopes educadora do Colégio de São Francisco Xavier.

A atividade é feita internamente, percorrendo os vários espaços do Colégio.

“O importante é que cada um partilhe o que tem, pode não ser muito mas é com muito sentido e se eles perceberem isso é muito bom”.

A educadora admite, contudo, que o Halloween até pela questão visual e lúdica possa ocupar o espaço do Pão por Deus.

“Os nossos pais colaboram muito com esta atividade do Pão por Deus porque também está enraizado na sua cultura e por isso aderem muito a esta iniciativa e, sem deixar de celebrar o Halloween conseguem também dar testemunho. Isto não é um dia; nós trabalhamos o assunto contextualizando-o e fazendo atividades que possam depois ter o seu fim no dia em que celebramos o Pão por Deus e por isso, as crianças sabem efetivamente o que estão a celebrar e sabem distinguir uma coisa da outra”, conclui.

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