“Vamos ter alguma reconfiguração das estruturas e os custos sociais vão ser muito elevados” afirma Nuno Martins

Açoriano, professor na Universidade católica, projeta presidência portuguesa da União Europeia e reflete sobre o papel dos Açores

Os custos sociais resultantes da pandemia  “vão ser muito elevados” e vão obrigar a uma reconfiguração das estruturas da União Europeia, afirma em entrevista ao programa de Rádio Igreja Açores Nuno Martins, membro da Comissão Diocesana Justiça e Paz e professor de Economia na Universidade Católica do Porto.

A pouco mais de uma semana depois do inicio da presidência portuguesa da União Europeia o docente e investigador lembra que é o arquipélago que “dá dimensão atlântica” a Portugal e à própria União Europeia.

“Os Açores pela centralidade atlântica que têm, pela zona marítima que têm, pelas matérias primas que os seus mares detém, e pelo papel que tem na articulação com o outro lado atlântico através das suas comunidades  emigrantes, têm um papel relevante na presidência europeia, mas é preciso que algumas questões já estejam pensadas e delineadas pois não é em seis meses que elas podem ser definidas”, refere o economista.

Na entrevista que pode ouvir aqui no Igreja Açores, Nuno Martins lembra que há questões que têm de ser equacionadas e resolvidas de forma estratégica sublinhando por exemplo o facto de nas cadeias de valor estabelecidas, a Região nunca tenha conseguido apropriar-se dos valores que gera.  O caso da agricultura é paradigmático refere o especialista, ao destacar que o valor acrescentado que os lavradores criam nunca reverte a favor deles mas dos custos e factores de produção.

De um modo mais global, Nuno Martins fala de uma crise generalizada na Europa, por causa da pandemia, que se veio somar a uma crise financeira e económica que se apresentou como consequências da crise das dívidas soberanas.

“O que fica de desgaste psicológico e social deixará marcas”, refere lembrando que a economia reflete estas patologias.

“Alguns países saberão navegar melhor que outros; uns ficarão para trás e serão criadas novas assimetrias” que “devemos evitar a todo o custo” mas que poderão “ser inevitáveis”, até por factores de “ajustamento”.

“O modo atual de funcionamento da União Europeia, não se manterá”, conclui.

Nuno Martins é doutorado em Economia pela Universidade de Cambridge, e licenciado em Economia pela Universidade Católica Portuguesa (Porto), tendo feito a agregação em História do Pensamento Económico também na Universidade Católica Portuguesa. Atualmente é professor catedrático na Universidade Católica Portuguesa onde lecciona as disciplinas de História do Pensamento Económico e de Filosofia Social e Ética. Leccionou também na Universidade de Cambridge e na Universidade dos Açores. É membro do Cambridge Social Ontology Group, e do quadro editorial de várias publicações académicas. Publicou o livro The Cambridge Revival of Political Economy em 2013 pela Routledge, e co-editou o livro Contributions to Social Ontology em 2006 pela mesma editora. Publicou também diversos artigos em várias revistas académicas.

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