Primeira experiência autonómica nos Açores foi de origem eclesial

Cabido da Sé “renasce” 15 anos depois. 12 cónegos capitulares fizeram profissão de fé e juramento de fidelidade ao Bispo

A primeira experiência de Autonomia dos Açores deu-se há quase 500 anos e “foi de origem eclesial”, disse esta tarde o Bispo de Angra na tomada de posse do ofício dos 12 novos cónegos capitulares que fizeram profissão de fé e prestaram juramento de fidelidade diante do prelado diocesano, numa cerimónia de Oração de Vésperas, celebrada na Sé de Angra.

“Podemos bem dizer que a experiência de Autonomia, nos Açores, se deu a nível eclesiástico, já quase há meio século. É que a Igreja Católica não é uma espécie de multi-nacional, com filiais espalhadas pelo mundo inteiro. Cada Diocese ou Igreja Particular é a Igreja de Cristo por inteiro. Concretamente, a Diocese de Angra é, pois, a Igreja de Cristo, aqui nos Açores, sempre em comunhão com as outras Igrejas Particulares, mas completamente autónoma”, sublinhou D. António de Sousa Braga.

Na cerimónia, que contou com a presença de autoridades civis, militares, universitárias e religiosas, D. António de Sousa Braga lembrou a carta escrita pelo Papa Francisco aos cardeais para destacar que a atribuição do título de cónego não é uma honra mas sim um “serviço”.

“Não se trata do culminar de uma carreira, uma dignidade de poder ou de superior distinção, mas um serviço à Igreja” frisou o Bispo de Angra lembrando a passagem do Evangelho de Lucas “somos servos inúteis, fizemos o que devíamos fazer, não como fórmula de boa educação, mas como verdade, depois do trabalho”.

“Como pessoas no activo, em vários sectores do Serviço Pastoral, sois chamados a apoiar, com o vosso conselho e sugestões, o Serviço Episcopal. Para construir a comum-unidade, num território descontínuo, como a nossa Diocese, urge desenvolver a Unidade Pastoral Ilha, sempre com o apoio da  Igreja-Mãe, que é a Sé Catedral, não para centralizar, mas promover a unidade na diversidade”, disse o prelado diocesano.

“Esta cerimónia de tomada de posse dos novos membros do Cabido da Sé, com a Profissão de Fé e o Juramento de Fidelidade, exprime precisamente esta disponibilidade para servir. Não se trata de tomar o poder para dominar, mas de assumir um ofício para servir”, destacou.

Historicamente, a Memória Litúrgica de Nossa Senhora de Lurdes, foi uma grande celebração, promovida, desde os inícios, pelo Cabido da Sé Catedral de Angra. Por isso, “faz todo o sentido que a tomada de posse do novo Cabido, recentemente nomeado, se realize neste 11 de Fevereiro, sob proteção de Nossa Senhora de Lourdes”, concluiu agradecendo “em nome pessoal e da diocese”  a “disponibilidade e generosidade” para esta “entrega incondicional”.

D. António de Sousa Braga terminou pedindo a todos que “deem as mãos” e “colaborem uns com os outros para que a Igreja nos Açores seja, cada vez mais e melhor, factor de unidade e de solidariedade, com a concretização progressiva de uma Autonomia, que honre os Açores e Portugal”.

A cerimónia começou com a receção ao Bispo de Angra pelo novo Cabido, à porta da Sé; depois a leitura das nomeações pelo mestre de cerimónias da Catedral e a Profissão de fé dos novos cónegos- Ângelo Valadão (Deão), João Maria Mendes (Arcediago), Manuel Carlos (tesoureiro), Ricardo Henriques (Chantre), Hélder Fonseca Mendes (Cónego Magistral), Adriano Torres, Hélder Miranda Alexandre, João Maria Brum, António Henrique Pereira, João de Brito, João Maria Brum, José Medeiros Constância e Francisco Dolores- seguida depois do juramento de fidelidade. Terminou com uma saudação da Filarmónica Recreio dos Lavradores da Ribeirinha, no adro da Sé.

O Cabido da Sé foi retomado 15 anos depois com um novo estatuto, aprovado no final do ano passado.

O Cabido Catedralício “é uma herança dos primeiros séculos da dinâmica eclesial, de uma experiência tipicamente urbana, de unidade à volta do Bispo e do seu ministério apostólico, desde o catecumenato à penitência, materializados na Catedral e destinado à cidade” refere-se no preâmbulo do novo estatuto.

“Nesta linha teológico-pastoral, e também da história da Igreja local, vemos que, passados 480 anos de existência e ação ininterruptas, mantêm-se de pé e ao tempo, a mais antiga Corporação dos Açores, no estilo de uma Academia de numerários e nominais”, refere-se ainda no preâmbulo do documento que “renova” o Cabido que, tal como nas origens, mantém as funções dos capitulares de cooperar com o seu pastor no ministério da santificação das almas, no louvor a Deus e da oração pelo Povo”, conclui-se.

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