A poupança não é um dia mas uma cultura

Por Renato Moura

Há dias mundiais para quase tudo. Servirão para motivar reflexão sobre temas que tendem a ser esquecidos na agitação e sobretudo na superficialidade deste tempo.

O da poupança, a 31 de Outubro, foi criado em 1924, no I Congresso Internacional de Economia. Este ano serviu para nos lembrar que os portugueses poupam cada vez menos. Será verdade; mas como quase sempre, nunca falta quem evidencie o pior.

Para além de reconhecer e quantificar o problema, valeria identificar as razões que contribuem para isso, bem como apontar algumas acções que ajudassem as pessoas a poupar, pois que, pelos vistos, os portugueses são dos que mais gostariam de o saber e poder fazer.

Quando os salários são muito baixos, os encargos são grandes, os impostos são muito altos, os orçamentos familiares são apertados e a margem para poupar por vezes nem existe. Todavia continuam as resistências à subida do salário mínimo!

Entre os incentivos à poupança estavam as taxas de juro dos depósitos bancários. Antigamente até os depósitos à ordem na CGD rendiam juros. Agora até os a prazo irão baixar! No presente paga-se aos bancos para guardarem o nosso dinheiro, que será usado para emprestar e cobrar juros! Um banco que em dois trimestres aumentou comissões de gestão de conta em 78%, divulga agora mais de 290 milhões de lucro em 9 meses! É bom não esquecer que tradicionalmente a poupança estava associada à guarda nos bancos. Aquilo que aconteceu no BES e no BANIF quebrou a confiança.

Poupar é uma cultura e tem de ser transmitida todos os dias por quem deve e quem sabe. O Estado deveria usar os seus meios e nomeadamente as escolas para ensinar a poupar. Aos pais deveriam ser facultados meios para aprender e depois ensinar a poupar. Não só para amealhar, mas reunir meios para investir em algo reprodutivo ou pelo menos necessário ou útil.

O Estado deveria oferecer e divulgar mais os seus produtos de poupança. E deveria obrigar a CGD, como banco público, a criar condições mais favoráveis e poderia tê-lo feito à nova administração. Ou terão sido apenas os novos administradores da CGD a imporem condições de aceitação na gestão do que é público, que os colocam ao abrigo de regras de sigilo do seu património, diferentes das de outros titulares de poderes?!

Valerá a pena experimentar, para concluir, que a poupança se faz de pequenas mas persistentes medidas, como comparar preços, fazer e respeitar listas de compras, anotar valor e tipo dos pequenos gastos, conter o uso de cartões e nunca desperdiçar sobras das refeições.

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