Administrador Diocesano lembra que a salvação é “universal” mas  exige “esforço e empenho” de cada um

Cónego Hélder Fonseca Mendes presidiu à missa que assinalou os 488 anos de elevação de Angra a Cidade. Três meses depois era criada a diocese

A proposta de salvação apresentada por Jesus é para todos mas exige da parte de cada um disponibilidade para o compromisso de forma humilde, afirmou esta manhã o Administrador Diocesano na homilia da Missa a que presidiu na Sé de Angra, e que assinalou o 488º aniversário da elevação de Angra a cidade, a 21 de agosto de 1534, apenas três meses antes de ser criada a diocese com sede nesta cidade.

“O novo templo de Jerusalém está aberto a todos”, mas “a universalidade da salvação” , diz, não está isenta “de dificuldades, provações, sofrimentos e contradições”.

A partir passagem do Evangelho de Lucas da liturgia deste domingo, em que alguém pergunta a Jesus: “São poucos aqueles que se salvam?” (Lc 13, 24) , o sacerdote centrou-se na imagem da “porta estreita” para sublinhar que esta salvação exige um esforço empenhado de cada um.

“Toda a graça, dons e gratuitidade origina a correspondente resposta, missão e tarefa pessoais. Os dons de Deus, uma vez recebidos convertem-se em exigência” alertou o sacerdote destacando que esta exigência é “ainda mais oportuna” numa época “pouco inclinada a acreditar que as dificuldades possam ter algum sentido”, disse.

“Jesus não foi enviado para resolver os nossos problemas, mas para nos animar e ajudar a que cada um de nós a assumir com verdade, esperança e responsabilidade a sua própria história. Não cruzamos os braços, não ficamos parados ou resignados, como se nada fosse connosco. A palavra de ordem é «esforçai-vos», empenhai-vos” referiu o sacerdote ao destacar que esse compromisso tem um itinerário próprio que passa pelo amor ao próximo, o serviço ao próximo e o dom de si mesmo como Jesus fez na Cruz.

“Devemos estar atentos à tentação subtil farisaica, que é pôr a confiança no seu próprio agir moral. De quem crê que o mero cumprimento da lei e do rito lhe assegurar um direito diante de Deus” referiu.

“É como se aplicasse «a tirania do mérito», tão presente na cultura actual, reduzindo a vida cristã a um puro actuar moral. É quase como um neopelagianismo que anula o valor da graça para confiar só nas próprias forças. Ou então um gnosticismo que reduz a fé cristã a um subjectivismo que encerra o individuo na imanência da sua própria razão ou dos seus sentimentos”, exemplificou.

“O esforço moral significa mais a expressão de um estado novo do cristão que uma simples obediência a um imperativo externo e abstracto. Todo o compromisso cristão há-de partir do reconhecimento da primazia da graça transformadora do Espírito Santo”, concluiu exortando os fiéis presentes na Missa à humildade.

“Uma vez que não devemos mudar de porta nem nos compete alterar a sua configuração e medidas, então será cada um a adaptar-se, ou seja a converter-se, a fazer-se mais pequeno, a baixar-se, a reduzir o peso e o inchaço de si mesmo, a ser humilde e moderado, e a ficar leve para poder passar e entrar, sentar-se à mesa e cear”, concluiu.

Este domingo cumprem-se 488 anos de elevação de Angra a cidade.

Às 20h00, nos Paços do Concelho, haverá uma sessão solene com a conferência Angra no Vintismo: Entre a fragmentação político-administrativa insular e os debates parlamentares, por Leandro Ávila, e a entrega de insígnias e louvores municipais.

As comemorações desta efeméride terminam com um concerto na Praça Velha.

Vila até 1534,  Angra do Heroísmo foi capital do reino de Portugal em circunstâncias críticas, por duas vezes. A primeira, entre 5 de agosto de 1580 e 5 de agosto de 1582, quando D. António, Prior do Crato, ali estabeleceu o seu governo. Após a instalação da Junta Provisória, em nome de D. Maria II de Portugal, em 1828, a cidade foi uma vez mais nomeada capital do reino, por Decreto de 15 de março de 1830. As honras e os títulos que lhe foram outorgados, “Sempre leal cidade”, em 1641, e “mui nobre, leal e sempre constante cidade de Angra do Heroísmo”, em 1837, atestam a nobreza de caráter e o sentido de lealdade das suas gentes.

Segundo informação constante no sítio da internet da autarquia, Angra do Heroísmo foi “pioneira em muitos domínios”: primeira povoação do arquipélago a ser elevada à condição de cidade, em 1534, primeira cidade europeia do Atlântico, em 1831, a sua Câmara Municipal foi a primeira do país a ser eleita e, finalmente, em 1983, a primeira cidade portuguesa a ser inscrita na Lista do Património Mundial da UNESCO. Angra do Heroísmo tem acordos de geminação com a cidade de Salvador da Bahia, Brasil, e com a cidade de Porto Novo, na Ilha de Santo Antão, Cabo Verde.

É também a capital diocesana onde se situa a sede episcopal. Aliás, a diocese de Angra foi criada pelo papa Paulo III através da bula Aequum reputamus,  nesse mesmo ano, a 5 de Novembro de 1534.

 

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