Câmara de Ponta Delgada tem de “dar profundidade” ao sentido da Festa do Espírito Santo

Prelado diocesano presidiu à missa campal das XIII Grandes Festas do Divino Espirito Santo de Ponta Delgada

O bispo de Angra exortou a Câmara de Ponta Delgada a atribuir uma profundidade maior às festas do Divino Espírito Santo que organiza através de uma leitura da realidade atual que impõe uma ação que atenda à “integralidade da pessoa humana, com especial atenção pelos mais fracos e vulneráveis”.

“Devemos questionar-nos sobre o alcance e os objetivos das nossas ações”, disse D. João Lavrador na homília da missa campal das XIII Grandes Festas do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada, a que presidiu pela primeira vez.

O prelado que exortou os açorianos a “não terem medo das suas tradições”, mas a estarem vigilantes para que elas “não se desvirtuem”, exortou os poderes públicos a levarem mais longe o sentido destas festas, sobretudo numa sociedade que facilmente se esquece dos mais vulneráveis e “de quem é o mais próximo”.

“Na tradição açoriana, a devoção ao Espirito Santo, ao mesmo tempo que realça a Sua divindade, reconhece a dimensão caritativa e fraterna através da partilha de bens para com os mais pobres, sem excluir ninguém” lembrou o bispo de Angra.

“Esta celebração feita por iniciativa do Município tem uma profundidade ainda maior. Não se pode restringir à boa vontade e às fracas possibilidades de uma irmandade ou de um mordomo. Cabe-lhe ler com realismo a sociedade e a cultura actuais, estudar em profundidade os problemas sociais com que nos deparamos, atender á pessoa humana na sua integralidade e oferecer os meios necessários para que se atendam aos mais excluídos da sociedade”, disse. Depois, socorrendo-se de algumas afirmações do Papa Francisco, no discurso que proferiu nas Nações Unidas, D. João Lavrador lembrou que os poderes públicos não podem ficar-se apenas num exercício burocrático, mas lembrarem-se que “a acção política e económica só é eficaz quando é concebida como uma actividade prudencial, guiada por um conceito perene de justiça e que tem sempre presente que, antes e para além de planos e programas, existem mulheres e homens concretos, iguais aos governantes, que vivem, lutam e sofrem e que muitas vezes se vêem obrigados a viver miseravelmente, privados de qualquer direito”.

E, acrescentou que “para que estes homens e mulheres concretos possam subtrair-se à pobreza extrema, é preciso permitir-lhes que sejam actores dignos do seu próprio destino”.

“Perante uma sociedade que parece ter-se cansado de procurar uma verdade sobre os homens, decidir-se pela vivência do amor e da solidariedade autenticas é um desafio”, adiantou ainda frisando que este olhar tem que ser sobre “qualquer um para além da família, do conhecido ou do vizinho” disse ainda o prelado diocesano que presidiu a estas festas, proferindo igualmente a conferência inaugural na passada quinta feira, com uma conferência “O Espírito Santo: da teologia à devoção”.

Partindo da palavra de Deus deste domingo, que nos confronta com duas interrogações tão profundas quanto emergem da inquietação idividual e comunitária por alcançar a plena realização pessoal e colectiva- a primeira pergunta refere-se ao que se deve fazer para alcançar a vida eterna e a segunda sobre quem é o nosso próximo- o bispo de Angra sublinha a resposta dada pelo próprio evangelho para destacar “o vínculo entre a nossa fé, os pobres e os vulneráveis”.

“Quando lemos o evangelho encontramos uma resposta clara: a nossa atenção tem de ir para os pobres, os doentes, aqueles que não têm como retribuir”, disse.

A missa campal, que foi transmitida pelo canal 1 da RTP, RTP Internacional e RTP Açores, foi concelebrada por vários sacerdotes, entre eles o pároco da Matriz, paróquia que acolhe esta “mordomia”, Pe Nemésio Medeiros; pelo Pe António Rego que desde a primeira hora tem sido uma presença constante nesta festa e pelo Pe Luís Leal, diretor do Serviço Nacional de Acólitos.

A missa foi animada pelo coro da Matriz e contou com a participação da folia da Covoada, um grupo de cantares tradicionais do Espírito Santo que entrou na celebração na altura do ofertório.

No final e antes da bênção, o bispo de Angra procedeu ainda à coroação de cerca de uma dezena de pessoas oriundas das freguesias do concelho de Ponta Delgada.

As XIII Grandes Festas do Espírito Santo de Ponta Delgada terminam hoje com o bodo de leite (a seguir à missa) e a procissão da coroação ao final da tarde pelas principais ruas de Ponta Delgada.

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