Assembleia diocesana reune em outubro para definir novos passos da caminhada sinodal

Novo ano pastoral aguarda diretrizes da assembleia diocesana e pela primeira vez a diocese faz coincidir abertura do novo ano pastoral com a abertura do novo ano litúrgico, o que acontecerá no domingo de Cristo-Rei, em 22 de novembro

O arquipélago dos Açores precisa de uma  Igreja mais “inculturada, horizontal e inclusiva” que adopte uma “pastoral de missão” centrada no Evangelho, afirma o documento síntese elaborado pela Comissão Diocesana de Coordenação da Caminhada Sinodal, depois de ouvidas as Ouvidorias, os Serviços Diocesanos e várias personalidades dentro e fora da Igreja.

O instrumento de trabalho que irá ser analisado e discutido na assembleia diocesana que se realizará de 2 a 5 de outubro em São Miguel, reunindo 55 elementos dos conselhos presbiteral e pastoral diocesano, o que acontece pela primeira vez na diocese insular, terá em conta esta síntese, garantiu ao Igreja Açores o cónego Hélder Fonseca Mendes, coordenador da referida comissão que integra leigos, presbíteros e religiosos.

“O roteiro que os conselheiros irão discutir assentará  em cinco grandes temas: uma Igreja que seja evangelizadora, centrada em Jesus Cristo; uma Igreja missionária, uma  Igreja em diálogo com o mundo, comunitária e participativa e uma Igreja integradora dando sempre preferência aos mais pobres, sobretudo neste tempo de pandemia” refere o coordenador desta Caminhada Sinodal que a diocese iniciou em outubro do ano passado e que só conhecerá os passos seguintes depois de outubro deste ano, quando forem aprovados pela assembleia pré-sinodal.

Este roteiro com os pontos chave de análise vai ser discutido já no dia 22 de maio ao nível da Comissão de Coordenação da Caminhada Sinodal, num dia também simbólico para a diocese já que se trata do dia da festa litúrgica do seu padroeiro, o beato João Batista Machado.

“A nossa síntese analisa uma série de contributos das ouvidorias, dos serviços diocesanos e de personalidades, crentes e não crentes, e devo dizer que foram contributos muito válidos e muito positivos”, esclareceu ainda o sacerdote adiantando que a síntese se pronuncia sobre as questões mais relevantes da cultura contemporânea; a situação económico-social do arquipélago e a identidade religiosa e eclesial da Igreja Açoriana, procurando sempre um diagnóstico da situação e a apresentação de medidas para ultrapassar as fragilidades de cada um dos sectores.

Três chaves de leitura: Cultura contemporânea, Situação económica e social e Identidade religiosa e eclesial

No documento síntese, feito a partir da auscultação dos vários órgãos da Igreja, incluindo também algumas individualidades mais afastadas da prática religiosa mas com um papel relevante na sociedade, o capítulo da Identidade religiosa e eclesial é, porventura, o mais desenvolvido e também o mais critico.

O documento síntese constata que a “realidade social e cultural da igreja nos Açores mudou” e o “crescente laicismo acabou por se infiltrar” nas famílias e na sociedade. As pessoas “sentem pouco a presença da Igreja no seu dia-a-dia” e a “diocese no seu todo, as paróquias e os organismos da Igreja, são distantes e inacessíveis”. Embora presente no mundo dos Açores a Igreja “não tem quantitativa e qualitativamente uma presença de influência” nas ilhas, revelando “dificuldade em ter uma leitura real dos problemas atuais e muito mais em fazer uma leitura crente da atualidade”. O documento assinala, ainda, que a Igreja “esta desacreditada” e tem uma “linguagem do passado”. “Existe uma minoria de cristãos comprometidos”, que desenvolvem “uma pastoral de manutenção” e a prática dominical “é constituída por gente de idade avançada”.

A secularização da cultura açoriana e a progressiva perda de importância dos valores cristãos, sobretudo no seio da família, e consequentemente junto dos jovens, constituem “sinais de alerta” a que importa dar atenção.

“A nossa cultura caracteriza-se pelo materialismo, a indiferença, o individualismo, a superficialidade e o secularismo generalizado”, conclui o trabalho destacando que “há uma valorização do económico em detrimento da pessoa”. Ainda assim, e cientes de que é preciso “conhecermos melhor a cultura do nosso tempo”, devemos manter “fidelidade ao que somos por natureza e identidade como Igreja”. Torna-se urgente que a Igreja “produza cultura, contagie, mobilize e leve os outros a experimentar” a Boa nova, fazendo com que “o Evangelho fale à vida real das pessoas”.

“Há urgência e necessidade de concretizar o ideal cristão”, assinala o documento síntese alertando para a necessidade de os cristãos serem “modelos de coerência” para os demais.

“Quem vive a fé deve fazer compreender aos outros, com a sua postura de vida, que o cumprimento da palavra é fonte da verdadeira felicidade e não um fardo”, avança o documento sublinhando que o cristão deve ser capaz de fazer sentir aos outros a Alegria do Evangelho.

O documento acentua ainda a responsabilidade da Igreja estar presente no mundo seja no mundo operário, no meio intelectual ou na educação. E, para isso, “somos chamados a um processo de conversão e de refontalização” que “atualize a linguagem, a torna mais simples e direta, mostrando Jesus Cristo como referência e modelo”.

O documento síntese analisa, ainda, a realidade económica e social dos Açores, marcada por uma elevada taxa de pobreza e exclusão social, que faz com que 12% da população se encontre em privação severa” e “33% das pessoas vivam abaixo do limiar da pobreza”. A baixa taxa de natalidade, uma menor esperança de vida, uma elevada taxa de obesidade, o baixo nível de escolaridade e elevado abandono escolar, são outros dos traços apontados pelo trabalho da Comissão de Coordenação da Caminha Sinodal.

O documento elenca, por seu lado, o “trabalho precário, a violência doméstica, a toxicodependência, a solidão dos idosos e a saúde mental” como fatores de uma exclusão social “acima da média nacional”.

Será por isso necessário promover “uma ação articulada entre diversos serviços que na Igreja atuam na área social de modo a partilhar recursos, favorecer as sinergias, eliminar duplicações e chegar a todos”.

“Foram ouvidas muitas pessoas, dentro e fora da Igreja, com pareceres muito positivos fazendo sugestões muito importantes e críticas, mas muito positivas” reforçou o cónego Hélder Fonseca Mendes, sublinhando que a partir deste trabalho “de auscultação” a Igreja dispõe agora de “linhas de ação” que devem “ser articuladas”.

Embora a Assembleia pré-sinodal estivesse marcada para o fim de abril, não tendo podido realizar-se devido à pandemia da Covid-19, “ a caminhada não parou, temos estado a trabalhar e a preparar os documentos” adianta o sacerdote.

“Para já não vamos proceder a qualquer programação futura sem antes ouvirmos o pronunciamento desta assembleia”, acrescentou. Por isso, este ano, o ano pastoral só irá começar em novembro, no fim de semana do Cristo-Rei ao invés do que era hábito, isto é, o ano pastoral em Angra começar no primeiro fim de semana de outubro.

“Vamos adotar como início do ano pastoral o início do ano litúrgico, fazendo coincidir as duas datas”, garantiu.

A diocese de Angra adotou como lema desta caminhada “A beleza de caminharmos juntos em Cristo”.

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