Contabilidade de gaveta

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Por Renato Moura

Basta fazer a nossa memória recuar alguns anos, para permitir a inventariação do grande número de pequenas lojas comerciais existentes nas nossas freguesias e até nas vilas e cidades. Algumas, sem empregados, funcionavam com a gestão e trabalho do proprietário e ajuda de familiares próximos. Apesar da reduzida dimensão económica, foram importantes para o sustento de muitas famílias e tiveram uma importância relevante de serviço aos vizinhos da sua área de implantação.

Alguns desses negócios, com o passar do tempo, graças à habilidade e dinamismo dos criadores, vieram a crescer muito nos ramos e volumes de negócio e contribuíram para a criação de postos de trabalho. A dimensão e diversidade que alguns atingiram tornou-se incompatível com o amadorismo da gestão. Agarrar mais do que se poderia abarcar, levou à falência de alguns.

Muitos, tendo em conta o volume de negócios, foram obrigados a possuir uma contabilidade regularmente organizada, à conta de um técnico oficial de contas. Mesmo com isso alguns faliram.

Na verdade, os tais pequenos negócios da nossa memória, viviam apoiados naquilo a que se pode chamar contabilidade de gaveta: abria-se a porta com um dinheiro das economias familiares, comprava-se aos fornecedores quanto se podia com o dinheiro existente na gaveta, arrecadava-se na gaveta o produto das vendas, para voltar a comprar; e quando havia muito dinheiro na gaveta era o lucro do sucesso. O método foi quanto bastasse para alguns, sobretudo os que nunca cresceram. Para outros redundou em desastre.

Há muitos investidores, já com alguma dimensão, que consideram que a contabilidade é apenas uma desagradável obrigação imposta pela autoridade fiscal. Não lhe conhecendo o valor relevante, ocultam do próprio técnico de contas certos elementos essenciais para avaliação do comportamento da empresa, na mira de pouparem nos impostos. Assim, nem sequer protestam se o técnico oficial de contas não lhes envia os balancetes em tempo oportuno. Acresce que muitos deles não possuem a literacia mínima que lhes permita sequer ler os elementos essenciais dum balancete mensal: dessa forma nunca podem usar a contabilidade como meio de aperfeiçoamento ou correcção da gestão. Não saber não é vergonha: resolve-se aprendendo; ou atribuindo a alguém o dever de entender e informar, para se poder agir em tempo.

Importa escapar às falências, por erros de gestão evitáveis: os empresários têm direito ao lucro legítimo; e têm também dever social e de justiça para com os empregados que os ajudaram a crescer.

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