Da falsa unidade e outras mentiras

Por Carmo Rodeia

Vivemos num tempo de aparências e de jogos táticos. Não é a primeira que falo do assunto mas hoje voltou-me à cabeça depois de ter lido e ouvido a homilia do Papa Francisco na capela de Santa Marta, pela manhã.

Apesar do tempo ser de Páscoa, e por isso de renovação e vinho novo, a verdade é que continuamos a viver debaixo de um clima de intriga permanente, de meias verdades e de muitas falsidades. É assim em todos os campos da vida. Não é um lamento; é mesmo uma constatação que entristece, naturalmente.

Francisco condenou uma vez mais a intriga que é usada para dividir na Igreja- “uma atitude assassina”-  bem como a “instrumentalização do povo”.

“Quando na vida, na Igreja ou na sociedade civil trabalhamos pela unidade, estamos no caminho que Jesus traçou”, assinalou, na homilia na Casa de Santa Marta.

O Papa explicou que a verdadeira unidade é a que Jesus se refere no Evangelho, uma “unidade de salvação que faz a Igreja”, a unidade que tem com o Pai e que quer trazer às pessoas.

Centrados na liturgia da palavra de hoje podemos afirmar que Jesus diz que deu o Pai a conhecer aos discípulos, para que o amor com que o Pai  amou Jesus também esteja nos discípulos. Isto é, Jesus quer que nós sejamos um, como Ele e o Pai são um. O mesmo é dizer sermos assim também com os outros. Para isso, não pode haver intriga.

“Pensemos na grande vocação à qual fomos chamados: a unidade com Jesus, o Pai. E este caminho devemos seguir, homens e mulheres que se unem e procuram sempre prosseguir no caminho da unidade”, afirmou, avisando para “as falsas unidades, que não têm substância”.

Este procedimento ainda é usado hoje na vida civil e política “quando se quer fazer um golpe de Estado”: “Os media começam a falar mal das pessoas, dos dirigentes, e com a calúnia e a difamação essas pessoas ficam manchadas; a justiça, condena-as e, no final, faz-se um golpe de Estado”, prosseguiu o Pontífice.

O Papa observa que, num âmbito mais circunscrito, são situações que acontecem também nas comunidades paroquiais “quando dois ou três começam a criticar outro, e a falar mal”, criando uma “falsa unidade para condená-lo”.

“Condenam mentalmente, como atitude; depois separam-se e falam mal um contra o outro, porque estão divididos. A fofoca é uma atitude assassina, porque mata, exclui as pessoas, destrói a ‘reputação’ das pessoas”, desenvolveu.

Quantas vezes vivemos das ideias adquiridas, tantas vezes falsas que põem em causa o outro só porque não gosto dele ou representa um interesse diferente do meu.

A cegueira fomenta a discórdia, semeia a desconfiança e compromete a hospitalidade.

Há quem se aproxime de nós, por exemplo, à procura de paz, respeito, doçura, e encontra lutas internas dentro da mesma comunidade.

Em vez da doçura encontra a intriga, a maledicência, as competições, as concorrências, um contra o outro. E não raras vezes o perfume do incenso é abafado pelo mau cheiro da intriga.

A ambição, a inveja, o ciúme na vida são ervas daninhas que corroem. Dentro da igreja são mesmo urtigas que ferem.

Em vésperas de Pentecostes, festa que nos une enquanto povo açoriano, peçamos ao Espírito Santo que nos ajude a servir com doçura e caridade. No mínimo!

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