(des)Construir o Natal do consumo com dois seminaristas

Entrevista a Leonel Vieira (Furnas, Povoação), 5º ano e Afonso Silveira (São Roque, Ponta Delgada), 1º ano

No quarto domingo do Advento e a menos de uma semana do Natal, o programa de Rádio Igreja Açores  visita são Miguel e através do olhar de dois seminaristas- Leonel Vieira e Afonso Silveira- procura uma interpretação do mistério desta festa marcada por tantos contrastes: as luzes do presente e a pobreza e a fragilidade de um Deus que encarna para habitar em nós, há mais de dois mil anos.

“O lugar da pobreza e da fragilidade, do ponto de vista sociológico, é quase sempre um lugar marginal; a fragilidade nunca teve um lugar cimeiro, mas Deus encarna no homem, em Jesus, justamente para dar esse lugar, essa primazia. Ele aniquilou-se numa criança, fez-se indefeso e frágil, sujeito a uma série de adversidades” refere Afonso Silveira que encontra no Natal motivos para “uma inquietação” que se prende com o desejo de sermos santos.

“Temos sempre muito para pedir, mas como dizia Santa Teresinha do menino Jesus Deus não nos faz desejar coisas impossíveis”, refere Afonso que centra o essencial do Natal numa vivência da santidade.

“Se pudéssemos como que  arder em caridade e em amor uns pelos outros, aceitando-nos nas  nossas diferenças (…) amando a Deus e ao próximo com todas as nossas forças, as coisas seriam muito diferentes” salienta o jovem seminarista, aluno do primeiro ano do Seminário Episcopal de Angra.

“Os desejos são sempre muitos, porque o ser humano deseja mais do que necessita: se desejarmos paz e amor, tudo  o resto vem por acréscimo” sublinha Leonel Vieira, aluno do 5º ano do Seminário de Angra.

Aos desejos, colocados junto de Jesus, o Menino que se fez homem e a partir da mesa e da Cruz, explicou o projecto de amor de Deus aos homens, os dois jovens seminaristas, em etapas diferentes de formação, lembram o que significa esta festa, explicada aos mais novos e de olhos postos neles.

“A receita não é simples; não há palavras mágicas” pois “tudo em torno do mistério da salvação deve ser integrado; não podemos segmentar dimensões desde o agir, estar presente em sociedade, o que queremos e fazemos…” refere Afonso Silveira destacando que “transmitir o Natal às crianças, implica dar-lhes uma sólida formação cristã: caminhar rumo à santidade”.

“Ser santo não é ser um menino de mãos postas e triste, mas alguém alegre que quer ser cada vez melhor”, esclarece.

“O acolhimento e a abertura aos mais novos é o primeiro passo para lhes dizer e mostrar que há uma luz que brilha mais forte” diz Leonel Vieira.

“As luzes e os enfeites  (típicos desta quadra) são importantes porque nos dão a ideia de festa; mas é na manjedoura que está o verdadeiro Deus” afirma ainda o seminarista das Furnas.

Teremos lugar no presépio? “Somos convidados a fazer parte dele; cabe a nós dar o sim, fazendo o caminho até à gruta” refere ainda.

“Temos um lugar no presépio mas também somos desafiados a ser esse presépio para Deus” acrescenta Afonso Silveira, “porque Jesus encarnou e nasceu no meio do estrume e da palha e assim é o nosso coração às vezes”.

Da infância, em São Miguel, recordam a vivência do Natal, “com cheiro a criptoméria” e um “presépio maior do que a árvore”, com direito a “catequese sobre cada uma das figuras” e o lugar de todas elas na história da salvação.

O programa de rádio Igreja Açores, com esta entrevista, vai para o ar na Antena 1 Açores e no Rádio Clube de Angra este domingo, depois do meio dia e pode ser ouvido em podcast, aqui no sítio Igreja Açores.

Scroll to Top