É conservar ou perder

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Por Renato Moura

Deus proveu o mundo de recursos excelentes. Temos motivos para estar felizes pelo facto de as ilhas dos Açores terem sido tão dotadas.

A ilha das Flores é geralmente considerada como uma das que possui melhor riqueza paisagística; ou por essa fortuna estar concentrada na curta dimensão territorial e facilitado acesso. Aumenta exponencialmente o número de visitantes. Para a actividade económica seria motivo de satisfação, se bem que exige capacidades de resposta em quantidade e qualidade, exíguas e olvidadas; para quem tem preocupações de defesa do ambiente, avoluma-se o receio de a natureza não aguentar a pressão.

Olhando para a problemática referida, com equidistância, parece haver motivos de muita preocupação: os serviços nacionais, regionais e autárquicos não mostram ser capazes de intervenções adequadas e eficazes a qualquer dos níveis referidos.

Na verdade, acontecem coisas nesta ilha aparentemente inexplicáveis. Temos visto a Ribeira Grande a ser despojada de imensas toneladas de pedra, lançando muitas dúvidas sobre as consequências futuras das enchentes da ribeira. A pedra é transportada em camiões, em moldes que provocam enorme receio a quem conduz outras viaturas. A circulação dos camiões está provocando uma enorme degradação nas estradas e quando as conspurcam de lama tarda-se em limpar, ou nem se o faz em condições. Matagais de incenso e cana roca nos taludes, a ameaçar quem usa as estradas! Em verões anteriores viu-se acumulação de lixo e falta de higienização de recipientes! Será justificável a comodidade de os muitos delegados do Governo e os dirigentes das autarquias se manterem aconchegados nos gabinetes? Ou de outras prioridades de agentes de fiscalização?

O crescimento económico não pode espezinhar tudo; nem as poderosas empresas comandar as decisões, por maior que possa ser a respectiva relação com os poderes.

No início da Carta Encíclica «Laudato si», do Papa Francisco, apresentada pelo Pentecostes, fará agora oito anos, consta que a Terra “clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou”. E no seu número 95: “O meio ambiente é um bem colectivo, património de toda a humanidade e responsabilidade de todos. Quem possui uma parte é apenas para administrar em benefício de todos. Se o não fizermos, carregamos na consciência o peso de negar a existência aos outros”.

Cada ilha é um pequeno mundo, com potencialidades e limitações. Legítimo esperar mais e melhor das autoridades; mas também de cada um de nós.

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