Estudar a história da diocese é fazer a história social, económica e política do arquipélago, defende investigadora

Susana Goulart Costa é a entrevistada do programa de rádio Igreja Açores

“Ao estudarmos a diocese e ao fazermos a sua história estamos a fazer também a história dos Açores quer cultural quer politicamente” afirma a professora Susana Goulart Costa, que lidera o grupo de trabalho que está a fazer o estudo da documentação que permitirá a redação da história dos 500 anos da diocese, em 2034.

“Fazer a história da diocese não é apenas contar a história religiosa e catequética; é fazer a história da educação nos Açores, pois até ao século XX a maioria das instituições de ensino nos Açores estavam ligadas à igreja; é fazer a história social e política, através do estudo das instituições criadas pela Igreja- o primeiro sindicato da ilha das Flores foi criado por um sacerdote florentino- ou até do ponto de vista da comunicação social ponto de vista social” refere a investigadora numa entrevista ao programa de rádio Igreja Açores que vai para o ar este domingo, depois do meio-dia no Rádio Clube de Angra e na Antena 1 Açores.

“Não se trata de fazer a história da religião mas da identidade das ilhas, percebendo as marcas e até projectando o futuro já” esclarece ainda a docente da Universidade dos Açores.

Neste estudo da documentação das paróquias, confrarias e irmandades, cuja recolha está já a ser feita, o grupo pretende recolher os elementos para poder daqui a cinco começar a escrever a história.

“Talvez a par dos municípios que são pré existentes, criados nos primórdios do povoamento, a Diocese de Angra é uma das mais antigas instituições dos Açores, com uma marca administrativa, política, territorial, cultural e religiosa muito mais antiga do que qualquer outra instituição nos Açores”, refere Susana Goulart Costa.

“Esta marca de tentar plasmar uma linha religiosa é muito importante. Há aqui um fio condutor, a partir de Roma, em articulação com a coroa portuguesa, que depois passa para o espaço europeu. A coroa quis através da criação da diocese- desta e das de Goa, são Tomé e Cabo verde- afirmar a sua importância política”, refere a investigadora.

“A tentativa de harmonizar as ilhas a partir de uma construção de uma identidade religiosa é muito visível nessa época e hoje ainda mais. Por exemplo, se olharmos para o século XVII, com o bispo D. António Vieira Leitão a incentivar a devoção a Nossa Senhora do Rosário, na linha do que vinha do Vaticano é muito interessante;  o mesmo se passa com a questão dos franciscanos que tiveram conventos em todas as ilhas ou das clarissas e, depois, a marca da devoção ao Espírito Santo. Mesmo que as vivências sejam diferentes, são uma marca agregadora” disse ainda.

“Pela longevidade e comparando com os desafios autonómicos, a religião conseguiu ser o cimento que permitiu construir essa unidade em todas as ilhas; conseguiu uma leitura uniforme, naturalmente com avanços e recuos, dessa identidade”, conclui.

Nesta entrevista, Susana Goulart Costa fala ainda do papel da diocese no envio de sacerdotes e religiosos para os espaços de missionação em todo o mundo e fala do papel da Igreja no todo nacional, elencando três desafios para reflexão futura: a laicização do discurso e da sociedade; a diminuição de vocações sacerdotais e de vida consagrada e a redefinição do papel da mulher na Igreja, acompanhando a discussão que toda a Igreja Universal está a fazer.

A entrevista com Susana Goulart Costa pode ser ouvida na integra no programa de rádio Igreja Açores este domingo, a partir do meio dia na Antena 1 Açores e no rádio clube de angra ou aqui, no sítio Igreja Açores.

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