Exortação do Papa Francisco sobre a família tem de ser trazida para a rua, defende a socióloga Piedade Lalanda

A docente Universitária desafia a igreja a concretizar e a publicitar  mais o texto da Alegria no Amor

A socióloga Piedade Lalanda considera que um dos grandes desafios da igreja, no campo da pastoral da Família, passa por uma maior publicitação do texto da exortação apostólica do Papa Francisco A Alegria no Amor.

“Seria bom falarmos mais deste texto, que é extraordinário, porque fala do verdadeiro amor -o amor cristão- e por isso é de uma intensidade e de uma revelação que pode transformar a vida dos casais” refere a investigadora e docente da Universidade dos Açores numa entrevista ao programa de rádio Igreja Açores, que vai para o ar este domingo, depois do meio dia na Antena 1 Açores e no Rádio Clube de Angra.

“Este texto do Papa Francisco é revolucionário e desmistifica algumas ideias, e por isso, deveria ser mais referenciado pelos sacerdotes que o deveriam trazer de forma mais insistente para as homilias, por exemplo”, precisa Piedade Lalanda. Inclusivé, aproveitando as redes sociais, acrescenta.

“As redes sociais são uma forma excecional de ligar as pessoas e a igreja  poderia aproveitá-las melhor para promover o debate sobre este texto, a reflexão sobre ele”.

Na entrevista a socióloga fala ainda de outros desafios no campo da pastoral da família, “estrutura fundamental da sociedade” mas que hoje assume “contornos e configurações diversas” às quais a igreja “tem de ser sensível”.

Uma dessas alterações, segundo a docente universitária passa pela perceção da importância da individualidade.

“A individualidade não é um mal em si;  a grande vantagem da família é justamente ser um espaço de afirmação das diferentes individualidades que acabam por se complementar” tornando a família “num um espaço de afectos que permite a expressão da individualidade”.

“As vezes fico com a sensação de que a igreja fica muito presa a um determinado modelo e sente muito desconforto ao falar das diversas formas de família, que hoje existem no mundo ( e que o Papa Francisco tão bem reconhece) e não tem colocado no seu discurso este olhar cristão sobre a família”, sublinha Piedade Lalanda.

“Desgosta-me que a igreja seja um quadro de referência para o casamento e quando ele entra em ruptura se afaste e este é um assunto muito abordado pela Exortação do Papa que coloca a questão no acolhimento, no acompanhamento de todas as situações de violência existentes na familia”, sublinha a socióloga que reconhece que esta violência pode ter vários matizes desde a falta de diálogo, ao desrespeito pelo espaço de cada um, à separação entre outros.

“É importante que se liberte os cristãos de certos preconceitos, porque hoje temos uma realidade que por vezes é de rutura e há que assumi-lo sem o ignorar, dando respostas também a essas pessoas”, diz ainda.

Na entrevista a socióloga fala também do número de casamentos católicos e de divórcios nos Açores, destacando a progressiva diminuição do número de matrimónios e o aumento dos divórcios entre católicos, sobretudo na faixa etária entre os 50 e os 60 anos de idade; da utilização por parte dos cristãos dos sacramentos de forma ritualizada apenas para cumprir uma função social e do acompanhamento dos jovens dentro da igreja.

A entrevista vai para o ar este domingo, depois do meio dia, no programa Igreja Açores, que será transmitido pela Antena 1 Açores e pelo Rádio Clube de Angra.

 

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